GT 1 - Brasil: encruzilhadas na defesa da democracia
Coordenador: Fernando Antonio da Costa Vieira
A crise da democracia no Brasil se manifesta por meio da polarização política extrema, do enfraquecimento das instituições e da desconfiança generalizada na classe política. A disseminação de desinformação, ataques ao sistema eleitoral e tentativas de minar a independência dos poderes agravam o cenário. Além disso, a insatisfação popular com corrupção, desigualdade e ineficiência governamental alimenta discursos autoritários. Apesar dos desafios, a resistência da sociedade civil e de instituições como o STF e o Congresso mostra que a democracia ainda encontra forças para se manter, embora em constante tensão. O presente GT pretende refletir sobre como sociedade e instituições se posicionam diante da crise da democracia brasileira. Por isso serão aceitos trabalhos que discutam o papel dos partidos políticos, dos sindicatos, a atuação dos conglomerados midiáticos, a atuação dos militares, a ação das redes sociais como elemento polarizador, o crescimento da extrema direita, os movimentos sociais e a defesa da democracia, o cenário externo, entre outras
GT2 - Cinema e Quadrinhos como categorias de análise acerca do Pensamento Social Brasileiro
Coordenadores: Geovano Moreira Chaves, Lucas Silva de Oliveira, Márcio dos Santos Rodrigues e Victor Callari
As análises das gêneses e dos itinerários das significações do cinema e das histórias em quadrinhos (também conhecidas como HQs) têm reconstruído as relações que se estabelecem entre as práticas artísticas, suas formas de visibilidade e os tipos de pensamento que as fazem inteligíveis. O fazer, o ver e o pensar a respeito do cinema e dos quadrinhos têm interrogado as cargas de sentido que se movimentam no âmbito do conhecimento das ciências humanas, sociais e linguagens. Entender o cinema e as HQs como categorias de pensamento, assim como suas circulações no meio social, pode proporcionar novas formas de compreensões teóricas pautadas a partir da relação entre a imagem/linguagem e o mundo concreto e seus agentes, e desse processo é possível construir novos sentidos e leituras às narrativas imagéticas.
Assim, este grupo de trabalho tem como objetivo reunir estudos que explorem as relações do cinema e dos quadrinhos, utilizando essas categorias de análise como ferramentas para compreender o pensamento social brasileiro em conjunto com outras áreas do conhecimento, tais como as ciências humanas, sociais e linguagens. De forma interdisciplinar e transdisciplinar, essas formas de arte serão estudadas como objeto e pano de fundo para possibilitar novas compreensões. Pretendemos discutir e problematizar as formas em que as narrativas, as linguagens e as representações produzidas pelo cinema e pelos quadrinhos podem se manifestar como formas de pensamento social em analogia aos aspectos e as expressões filosóficas, artísticas, políticas, religiosas e/ou culturais das sociedades no tempo. Estes temas podem ser abordados por diversas perspectivas de análises teórico-metodológicas, que ao se fazerem expostas no grupo de trabalho, permitirão a troca de experiências. Nossa intenção é que seja gerado um debate sobre a temática, de modo a apontar possíveis novos caminhos e referências de pensamento, assim como novas possibilidades de interlocuções entre pesquisas.
GT3 - Elites, poder e instituições democráticas
Coordenadoras: Mariele Troiano, Luana Puppin Pratti e Karina Melo Pessine
Processos como crise, resiliência e consolidação das instituições democráticas exigem uma análise crítica e aprofundada da atuação de seus atores e estruturas. Esta proposta de Grupo de Trabalho (GT) visa fomentar o debate sobre as dinâmicas das instituições políticas, suas elites e democracias. Objetiva-se promover uma abordagem interdisciplinar sob a ótica do pensamento social brasileiro, abrangendo a pluralidade de conceitos e métodos que conectam as áreas da Ciência Política e da Sociologia. Serão bem-vindos trabalhos que abordem aspectos sociais e históricos da política, inclusive latino-americana, contemplando os seguintes eixos temáticos: dinâmicas sociais e políticas; desempenho dos atores políticos; instituições e espaço de poder; relação entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, trajetórias políticas; composição social das elites e métodos de pesquisa.
GT4 - Estabelecidos e Outsiders do Pensamento Social Brasileiro
Coordenadores: Lucas Trindade da Silva e Marcos Abraão Fernandes Ribeiro
O Grupo de Trabalho “Estabelecidos e outsiders do pensamento social brasileiro” se inspira no binário consagrado na obra de Elias para reler o chamado pensamento social brasileiro em alguns principais sentidos, acolhendo propostas que enveredem nas seguintes reflexões: 1) assim como tem acontecido no âmbito da teoria social e sociológica contemporânea, trabalhos que visem questionar e reconfigurar o cânone do pensamento social brasileiro, demonstrando a importância e fecundidade de autoras e autores institucional e conceitualmente marginalizados; 2) trabalhos que releiam obras consagradas a partir das provocações emergentes dessa “insurreição dos saberes” ou, em outras palavras, trabalhos que retornem aos clássicos (ortodoxia) imbuídos das questões ou interpelações advindas das margens (heterodoxia) do pensamento; 3) trabalhos que tensionem a separação entre “teoria” e “pensamento” a partir das problemáticas postas pelo pensamento social brasileiro, nesse sentido, trata-se de tomar o pensamento como o “outsider” da teoria “estabelecida” e pensar o estatuto teórico (ou não) do primeiro, o que em si leva a rediscutir os critérios que definem a teoria social.
GT5 - Estudos em música popular e sociedade no Brasil: teoria, método e análises
Coordenadores: Caique Geovane Oliveira de Carvalho e Filipe Santos Baqueiro Cerqueira
O ensaio “Sobre a música popular” escrito e publicado por Theodor Adorno no início dos anos 1940, inaugurou a música popular enquanto objeto de estudo no campo das ciências humanas e sociais. A partir daí, gradativamente, diversos campos do pensamento social puderam se debruçar acerca do estudo das expressões musicais, buscando entender nelas o modo como a sociedade se faz presente nessa forma artística. Diversas foram as teorias originadas a partir do questionamento e buscas por respostas acerca da intersecção entre música e sociedade. Se por um lado trabalhos como os de Theodor Adorno (1983;2017) Ramón Barce (1988) e Kurt Blaukopf (1988) apontaram para a possibilidade de uma investigação interna da música, cujo objetivo consistia na decifração dos elementos sociais contidos na sua expressão artística, por outro prisma, teóricos como Alphons Silbermann (1962) fixou seus esforços para elaboração de métodos de análise do fenômeno musical a partir do momento em que este entra em contato com o público consumidor, isto é, na esfera da recepção da obra artística. No caso brasileiro destacam-se trabalhos como os de Mário de Andrade (1972) que realizou importantes pesquisas empíricas acerca de expressões musicais no Brasil e a obra de José Ramos Tinhorão (1998; 2014), localizadas no âmbito da história social, cujas pesquisas acerca das origens da música popular do Brasil e sua relação com o rádio e televisão são centrais para o estudo do fenômeno no país. Além deles, trabalhos mais recentes produzidos no âmbito da academia como os de Álvaro Neder (2010), Marcos Napolitano (2005) e Santuza Cambraia Naves (2010), lançam novas luzes sobre a relação entre música e sociedade. É possível apontar que o surgimento da música popular está vinculado à urbanização do final do século XIX e ao desenvolvimento da indústria fonográfica no século XX, sua função encontra-se ligada ao surgimento das classes médias e populares urbanas que buscavam o lazer nas horas vagas (NAPOLITANO, 2005). Engana-se, contudo, quem a encara como mera peça de entretenimento das massas citadinas. Na história específica do Brasil, por exemplo, esta ocupou um papel destacado, sobretudo no século XX, quando expressou sentimentos nacionais e anseios de grupos sociais específicos ou tornou-se veículo de crítica da sociedade e incentivou comportamentos da população brasileira. Contudo, como a arte se transforma conjuntamente a sociedade em que se encontra inserida, novas expressões musicais surgem concomitantemente a essas mudanças, bem como emergem no seio da sociedade dilemas que impactam a produção artística e a posição social da arte nos seus respectivos contextos sócio-históricos. O que demanda novas investigações que busquem: examinar até que ponto as teorias clássicas já formuladas se aplicam ao fenômeno musical contemporâneo brasileiro; desenvolver ferramentas metodológicas de investigação do fenômeno musical; compreender a correlação entre expressões musicais brasileiras específicas, no interior da trama social da qual faz parte. Diante disto, este grupo de trabalho busca acolher pesquisas que se debruçam acerca das possíveis conexões entre a música popular e o contexto sócio-histórico brasileiro. Nesse sentido, são bem vindos trabalhos que debatam a música a partir de diversas perspectivas, tais como: reflexões teóricas e/ou metodológicas acerca da música e trabalhos voltados para a análise específica de fenômenos e gêneros musicais, seja a partir da sua análise interna e/ou externa. Com isso, buscamos fomentar um espaço que contribua para a reflexão e debate entre pares do fenômeno artístico musical, a partir das mais diversas perspectivas teórico-metodológicas. REFERÊNCIAS ADORNO, Theodor. Ideias para uma sociologia da música. In. BENJAMIN, Walter et al. Textos escolhidos, 2. Ed. São Paulo: Ed. Abril Cultural, 1983 A, p. 259-268. ADORNO, Theodor. Introdução à sociologia da música. 2a ed. São Paulo: Ed. Unesp, 2017. ANDRADE, Mario. Ensaio sobre a música popular brasileira. São Paulo: Martins Fontes, 1972. BARCE, Rámon. Prologo. In: BLAUKOPF, Kurt. Sociologia de la musica: introduccion a los conceptos fundamentales, con especial atencion a la sociologia de los sistemas musicales. Madrid: Real Musical, 1988. BLAUKOPF, Kurt. Sociologia de la musica: introduccion a los conceptos fundamentales, con especial atencion a la sociologia de los sistemas musicales. Madrid: Real Musical, 1988. NAPOLITANO, Marcos. História e música. 2a ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. NAVES, Santuza Cambraia. Canção popular no Brasil: a canção crítica. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2010. NEDER, Alvaro. O estudo cultural da música popular brasileira: dois problemas e uma contribuição. Per musi, Belo Horizonte, n. 22, 2010. SILBERMANN, Alphons. Estructura Social de la Musica. Madrid: Taurus Ediciones, 1962. TINHORÃO, José Ramos. História social da música popular brasileira. São Paulo: Editora 34, 1998. TINHORÃO, José Ramos. Música popular: do gramofone ao rádio e TV. 2 ed. São Paulo: Editora 34, 2014.
GT6 - Identidades nacionais, a tradição de Pensamento Social Brasileiro e seus críticos
Coordenador: Christian Bruno Alves Salles
Identidades nacionais são construções simbólicas, obviamente não sem alguma vinculação com os processos históricos e o conjunto de experiências culturais de um povo, que veiculam uma ideia de pertencimento a uma determinada comunidade humana, em um trabalho, permeado de significação política, em que certos componentes histórico-culturais são resgatados ou afirmados, enquanto outros tantos são negados ou silenciados. No que concerne à tradição de Pensamento Social Brasileiro, os anos iniciais do século XX foram reconhecidamente profícuos na elaboração de narrativas sobre a identidade brasileira, denotando uma pluralidade de interpretações, mas também permitindo constatar o arraigamento de paradigmas e arquétipos, tornando-se mesmo hegemônicos, em uma perspectiva de longa duração, no interior da cultura brasileira, inclusive sendo incorporados a projetos de Estado de legitimação do poder político. Entretanto, essas elaborações dominantes também têm sido desconstruídas por intelectuais que procuram trazer à tona seu caráter excludente e arbitrário, especialmente representados pelo pensamento negro antirracista, constituindo estudos que assumem a condição de contranarrativas, capazes de fornecer uma nova angulação para a compreensão da formação nacional brasileira. Portanto, esta proposta de Grupo de Trabalho tem como objetivo ser um espaço para o diálogo entre trabalhos que interpelam analiticamente a tradição hegemônica de formulações da identidade nacional brasileira do período, captando tanto sua importância como suas insuficiências, e pesquisas comprometidas mais diretamente com a abordagem das vertentes críticas a essa tradição, voltadas para a denúncia de suas incoerências.
GT7 - Indisciplinando o cânone: diálogos, legados e resistências a partir do pensamento afrodiaspórico brasileiro para a compreensão da(s) realidade(s)
Coordenadores: Jéser Abílio de Souza e Carla Pereira Silva
Este Grupo de Trabalho tem como objetivo aprofundar o debate acerca das complexas dinâmicas sociais, culturais, políticas e econômicas no Brasil, tendo como base as contribuições do pensamento afrodiaspórico cultivado por intelectuais e pensadores/as negros/as/es brasileiros/as/es. Adotamos a compreensão de pensamento afrodiaspórico como um campo epistemológico pluriversal ligado às existências humanas situadas nas trajetórias da diáspora africana - as quais são entrelaçadas por marcadores sociais, culturais, territoriais, raciais, étnicos, econômicos e políticos -, com o propósito de oferecer leituras profundamente críticas e contra-hegemônicas aos fundamentos e visões de mundo eurocêntricas e excludentes. Neste sentido, o pensamento afrodiaspórico, com sua variedade de abordagens e perspectivas (como a teoria crítica da raça, os debates anticolonais, pós-coloniais, contra-coloniais e decoloniais, o afropessimismo, os feminismos negros, a afrocentricidade, entre outros), possibilita compreender as múltiplas realidades, desestabilizar os cânones tradicionais e reestruturar os estudos científicos por meio de uma indisciplina epistemológica, olhares sensíveis e lentes analíticas descolonizadoras. Assim, o GT propõe refletir as diversas manifestações intelectuais, práticas sociais, expressões culturais e articulações políticas afro-brasileiras que, ao longo da história, questionaram as complexas estruturas de opressão racial, bem como contribuíram para a proposição de novos modelos de convivência democrática e inclusiva. Dentro desse contexto, sugerem-se as seguintes temáticas: 1. Estado, sociedade e nacionalismo brasileiro na contemporaneidade sob olhares negros; 2. Cidadania, políticas públicas e justiça social para a população negra; 3. Movimentos sociais, ativismos e estratégias de resistências negras; 4. Raça, gênero, sexualidade e outras intersecções; 5. Religiosidades de matriz africana e seus elos epistemológicos com o social e o político; 6. Mobilidade social, territórios negros e outras espacialidades afro-brasileiras; 7. Memória negra, patrimônio cultural e arquivos afrodiaspóricos no Brasil; 8. Representações da negritude nas artes e mídias e suas implicações sociais e políticas; 9. Literatura negra, narrativas contra-hegemônicas e pensamento intelectual negro brasileiro; 10. (Des)ordem internacional, economia política e racialização global no século XXI. Convidam-se estudantes de graduação e pós-graduação, docentes, pesquisadores/as e ativistas de movimentos sociais a debaterem sobre a importância do pensamento afrodiaspórico na construção da sociedade brasileira, discutindo não apenas a persistência das desigualdades raciais e das estruturas de dominação, mas também imaginando outros caminhos para a transformação da realidade social e política, tendo em vista os impasses e as dificuldades da democracia no mundo de hoje. Serão relevantes tanto estudos teóricos quanto empíricos, oriundos de várias áreas das ciências humanas e sociais, desde que evidenciem o protagonismo, a voz e o pensamento das pessoas e comunidades negras. O foco, portanto, será destacar os diálogos intergeracionais, interseccionais e transversais que surgem das experiências racializadas, os diversos legados da diáspora afro-atlântica no Brasil e as diferentes formas de resistências ou estratégias de afirmação e empoderamento cultural, político e epistêmico pelos variados segmentos da população negra.
GT8 - Movimentos sociais, protestos e participação na democracia brasileira contemporânea: perspectivas teóricas e metodológicas
Coordenadores: Euzeneia Carlos e Eduardo Moreira da Silva
Este GT se propõe a discutir as transformações na ação coletiva e seus efeitos na relação com o Estado, os partidos políticos e outros poderes, em face das dinâmicas dos regimes democráticos. As crises da democracia contemporânea, potencializadas pelas plataformas de tecnologia e das redes sociais, propiciaram a reocupação da esfera pública e das instituições participativas por atores conservadores, reacionários e autoritários. Isto recoloca no cenário político a oposição entre atores coletivos e protestos de cunho progressista, por um lado, e os grupos conservadores, de extrema direita e de contramovimentos, por outro. Esta realidade coloca desafios expressivos para o pensamento social e político brasileiro, sobretudo, pelos dilemas democráticos e educativos que se espera viabilizarem na produção de políticas públicas. Indagamos o que há de novo (e de continuidade) na sociedade civil, na esfera pública e na democracia, a partir de três eixos analíticos: (i) as transformações da participação e do confronto politico na interação entre a sociedade civil, o mercado e o Estado na democracia brasileira; (ii) as relações entre protestos, movimentos sociais e democracias e seus efeitos políticos e culturais; (iii) as interseccionalidades da ação coletiva e seu atravessamento no pensamento social e político brasileiro. Incentivamos propostas com perspectivas teóricas e metodológicas plurais, como os históricos, os comparativos e de análise de eventos de protestos, bem como as novas técnicas e tecnologias de inteligência artificial.
GT9 - Pensamento Social Brasileiro e Historiografia: problemas, aproximações, possibilidades
Coordenadores: Hilton Costa e Erivan Cassiano Karvat
A presente iniciativa reedita proposta apresentada e aprovadada para o 3º Seminário de Pensamento Social Brasileiro, intitulada Pensamento Social Brasileiro e Historiografia: problemas, aproximações, possibilidades, realizado em setembro de 2023. Tal como sugerido naquele momento, parte-se tambem aqui da premissa de que o campo do pensamento Social, em razão de sua mirada multidisciplinar, caracteriza-se, por excelência, como uma zona de fronteira congregando possibilidades que se estendem do universo antropológico ao dos estudos literários e da historiografia às ciências políticas. Disto vê-se o próprio alargamento da noção de pensamento social – aqui entendido como pesquisas sobre diferentes tradições “intelectual, cultural, social e política brasileiras”, notabilizando diferentes propostas metodológicas, bem como possibilita a salutar pluralização das abordagens – devotadas não só aos processos de produção cultural/intelectual, mas, ainda, aos de “aquisição, transmissão e recepção das diferentes formas de conhecimento”. Tal ampliação da noção, demonstrativa do dinamismo do campo nos últimos anos, parece, no entanto, caracterizar tanto a riqueza e potencialidade do próprio campo, quanto suas mazelas e limites das pesquisas que se identificam e são identificadas como Pensamento Social Brasileiro. Assim como no GT anterior, fundamentamos a proposta recuperando o breve debate iniciado com artigo de João Marcelo Maia, publicado no periódico História da Historiografia, em 2021 e no qual procurava “analisar a área de Pensamento Social no Brasil (PSB) à luz de suas aproximações e distanciamentos em relação ao campo da História”. O pesquisador sustentava “a hipótese de que, a despeito da importância do trabalho de historiadores para a conformação dessa área, o PSB não se tornou um subcampo autônomo na disciplina”, diferente do que teria se processado em relação às Ciências Sociais. Enfatizando a ideia de “interdisciplinaridade desigual”, que teria marcado a área, Maia terminava sua substancial discussão sugerindo a possibilidade de aproximação entre os historiadores e o Pensamento Social Brasileiro a partir de dois eixos: “debates sobre intelectuais e arquivos” e “críticas a abordagens eurocêntricas e demandas por maior democratização de agendas de pesquisa”. Cabe salientar, a partir das observações acima, dois aspectos inter-relacionados: por um lado, o aspecto multidisciplinar, inerente à natureza do campo dos estudos do Pensamento Social, decorrente de seus objetos, abordagens e encaminhamentos e, de outro, a disciplinarização de tais estudos na área das Ciências Sociais, gerando a sugerida “interdisciplinaridade desigual” ou, como indaga Maia, o modo como o campo disciplinar do Pensamento Social Brasileiro “se enraizou mais fortemente nas Ciências Sociais do que na História”. A reflexão de João Marcelo Maia sugeria responder às indagações de Thiago Lenine Tito Tolentino, que – em artigo também publicado em História da Historiografia – elaborava crítica a esse campo disciplinar, apontando que ele (o campo) estaria “sob controle”, fundamentando uma abordagem instauradora de “uma história e uma tradição das ciências sociais no Brasil”, operando, com isso, uma espécie de “controle do imaginário” nos estudos sobre intelectuais e cultura no Brasil, legitimando procedimentos e estabelecendo um cânone interpretativo: “Por sua força no interior das ciências sociais, o campo do PSB privilegiou certas explicações, hoje vistas como interpretações do país, segundo um cânone de viés sociológico”, tornando o PSB “uma espécie de espelho temporal dos cientistas sociais que buscam obras e constroem cânones que conferem identidade ao seu métier (...)”. Neste sentido, Tolentino observa que haveria certa restrição ‘sociológica’ em relação às produções que não se restringiriam às formas discursivas acadêmicas – tais como ”o ensaio, o artigo, a crítica, a monografia, a tese acadêmica” típicas dos chamados “interpretes” da realidade social – excluindo, com isso, produções distanciadas dessas formas, “como a literatura, a canção, as artes plásticas etc.” Assim, ainda, segundo o autor, ”Considerar o PSB como viés privilegiado para a história das interpretações do Brasil é situar em segundo plano toda produção literária, ficcional, artística, jornalística e institucional no Brasil como incapaz de produzir tais sínteses.” Por fim, partindo desta perspectiva, Tolentino, para superar tal impasse, sugere a utilização do conceito de cultura intelectual, caracterizada prioritariamente a partir das dinâmicas de ”produção, circulação e recepção de materiais simbólicos diversos no interior da sociedade brasileira” e não por algum aspecto canônico, realista, científico, epistemológico ou formalista”, contemplando, assim, produções e produtores variados, percebendo o “intelectual também como uma função em um “lugar” construído historicamente, (...) marcado por relações de poder, interesses, estratégias e controle, e acionado por artistas, escritores, políticos, leitores” em (ou a partir de) meios de produção de bens simbólicos diversos, congregados em variegadas “instituições, associações, partidos, coletivos e grupos” e, desse modo, não orientados em torno de um ethos definidor ou nem mesmo pertencendo ”à determinada linhagem de pensamento ou característica formal de sua produção.” Assim, ainda que se possa discordar sobre o caráter restritivo em torno do cânone nas pesquisas em Pensamento Social Brasileiro, as formulações de Tolentino, retomadas por Maia, permitem que: 1) vislumbre-se a intensidade do debate em torno campo e de sua disciplinarização – processo que passa, entre outras, pela definição de um leque de objetos (ou focos) de pesquisa, orientação de abordagens, estabelecimento e caracterização de aspectos teórico-metodológicos e expressivos, instauração de interdições e autorreflexão – e 2) reflita-se sobre as vinculações (e afastamentos) entre PSB e escrita da história ou produção historiográfica, dado que problemas atinentes aos interessantes do campo do Pensamento Social estão presentes ou podem ser verificados em debates presentes nas áreas (ou subáreas) da Historiografia Brasileira, da História Intelectual (ou das Ideias/ do Pensamento) ou, mesmo, da Teoria/Epistemologia da História e da História da Historiografia. Motivados por tal debate, e principalmente pelos aspectos aqui apontados, esta proposta de GT objetiva congregar trabalhos interessados em pensar possibilidades e problematizar categorias e encaminhamentos comuns ao universo do PSB (tais como estudos de trajetórias e de sociabilidades intelectuais; rotinização de ideias e aspectos da dimensão regional/regionalizada da produção e circulação de ideias, interpretações e bens culturais), voltados à debater aspectos acerca da disciplinarização do Pensamento Social Brasileiro, bem como em torno das relações entre PSB e Historiografia, atentos, por isso, para os processos e efeitos da canonização, sua produção, manutenção e remodelação e, por extensão, para o "fora" do cânone, às obras silenciadas e aos autores esquecidos ou "menores. Referências SCHWARCZ, Lilia Moritz ; BOTELHO, André. Pensamento social brasileiro, um campo vasto ganhando forma. Lua Nova, São Paulo, n. 82, p. 11-16, 2011. MAIA, J. M. O Pensamento social no Brasil e os historiadores: notas sobre uma interdisciplinaridade desigual. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, v. 14, n. 36, p. 509–534, 2021. TOLENTINO, Thiago Lenine Tito. Pensamento Social Brasileiro em perspectiva: história, teoria e crítica. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, vol. 12, n. 31, 2019, p. 338-379, 2019.
GT10 - Pensamento Social Brasileiro nos currículos da educação básica e superior
Coordenadoras: Arilda Arboleya e Simone Meucci
Este GT reunirá pesquisas dedicadas à análise do pensamento social brasileiro enquanto conteúdo da educação básica e/ou educação superior. Partindo do escopo reflexivo que assume as premissas fundamentais da sociologia do conhecimento e da sociologia do currículo, o GT oportunizará um debate acerca das dinâmicas sócio-históricas de circulação, classificação, hierarquização e apropriação de autores e obras do pensamento social na constituição de discursos e práticas sociais e pedagógicas. Serão acolhidas, assim, análises respectivas às tensões entre demandas sociais, políticas e intelectuais que agem para a composição de uma agenda letiva e para a normalização de um quadro de referências intelectuais; estudos sobre agentes a agências produtoras de conteúdos e práticas curriculares, processos e estratégias de canonização e descanonização, conflitos e negociações curriculares associadas aos debates sobre colonialidades e desigualdades dos saberes.
GT11 - Políticas de Ações Afirmativas e o Pensamento Social Brasileiro Contemporâneo
Coordenadora: Adriana da Silva Maria Pereira
Este resumo propõe uma análise sobre o pensamento social brasileiro contemporâneo, destacando o impacto das políticas de ações afirmativas na construção de uma sociedade mais equitativa e justa. A discussão abrange quatro eixos centrais: a descolonização da educação, a justiça social, o histórico das ações afirmativas no Brasil e os desafios atuais no cenário global. As ações afirmativas desempenham um papel fundamental na promoção da equidade racial e social, especialmente no ensino superior, para ampliar o acesso de grupos historicamente marginalizados e desafiar padrões excludentes de conhecimento. No entanto, sua implementação suscita debates sobre equidade e méritos, refletindo a pressão social em torno da distribuição de oportunidades educacionais. Historicamente, essas políticas emergiram das lutas dos movimentos sociais, em especial do movimento negro, que pressionaram o Estado a reforçar e combater o racismo estrutural. Em comparação com outros países, como Portugal, o Brasil ainda enfrenta desafios na consolidação dessas políticas, exigindo monitoramento contínuo e aprimoramento de suas diretrizes para garantir sua eficácia. Ao considerar esses aspectos, o estudo contribui para o aprofundamento da reflexão sobre a importância das políticas de ações afirmativas na promoção da inclusão e da justiça social no Brasil, evidenciando a necessidade de estratégias sustentáveis para garantir avanços contínuos nessa área.
GT12 - Raízes intelectuais das novas direitas latino-americanas
Coordenadores: Cairo de Souza Barbosa, Gabriel Felipe Oliveira de Mello, Renan Siqueira Moraes e Pedro Demenech
Na última década, movimentos conservadores e reacionários emergiram e ganharam força na cena política global. De variadas linhagens e gradações, essas ideologias cresceram consideravelmente também na América Latina. As eleições de Mauricio Macri (2015) e Javier Milei (2023), na Argentina; Jair Bolsonaro (2018), no Brasil; Nayib Bukele (2019), em El Salvador; Luis Lacalle Pou (2020), no Uruguai, Guillermo Lasso (2021), no Equador; e Santiago Peña (2023), no Paraguai, dentre outros, demonstram a força das novas direitas no cenário continental. Tais movimentos assumiram grande protagonismo no debate público latino-americano, sobretudo a partir da expansão da internet e do fortalecimento das redes sociais como campo de interação social, produzindo distintas concepções de mundo. Neste GT, a ideia é acolher pesquisas que tenham por interesse investigar as raízes intelectuais das narrativas dessas “novas direitas”, perscrutando as vinculações entre os discursos de seus atores políticos e certas tópicas do pensamento latino-americano. Em outros termos, pretende-se abrir espaço para pesquisas que lidam com a história intelectual do conservadorismo, do reacionarismo e das direitas no Brasil e na América Latina, sobretudo a partir das discussões conceituais acerca das ideias de raça, corrupção, Estado, sociedade, segurança, liberdade, religiosidade, etc.
GT13 - Retomando o Pensamento Social Afro-Brasileiro: Por que agora Crítica dos intelectuais negros ao seu lugar no pensamento brasileiro
Coordenadores: Fernando José Filho, Eliane de Souza Almeida e Juan Michel Montezuma Dos Santos
Clóvis Moura, em sua obra, Sociologia do Negro Brasileiro, traz uma importante reflexão sobre os estudos de negros como um reflexo estrutural da sociedade brasileira. Moura (2022), denomina este pensamento de “pensamento social subordinado” ou “pensamento social racista”, na qual questiona uma “pretensa imparcialidade científica” inexistente nas ciências sociais que está revestida por uma “ideologia racista racionalizada”. Pensamento, de uma certa forma, partilhado por Lélia Gonzalez em Por um Feminismo Latino Americano (1988), que enuncia um dos seus principais projetos epistemológicos e metodológicos, que é o de tensionar através de um pensamento feminista latino-americano as categorias analíticas das ciências sociais. Críticas nesse sentido, protagonizadas por intelectuais negros, em sua grande maioria marginais em relação ao regime de produção científica acadêmico, são frequentes na História do Pensamento Afro-Brasileiro durante o século XX e XXI. Contudo, a integração dessas análises ao debate sobre a História das Ciências e o Pensamento Social no Brasil, assim como, a subsequente transformação dessas interpretações críticas em objetos de pesquisa é algo tardio na trajetória histórica dos estudos nesse campo. Problematizando essa aparente descontinuidade entre a realização da crítica, sua assimilação pela intelectualidade, em especial o setor acadêmico, e a consagração tardia mediante a transformação das teses desses críticos negros em objeto de estudo. E, também, inspirados por trabalhos como a tese do professor Deivison Mendes Faustino, intitulada Por quê Fanon? Por que agora? (2015), onde o autor busca entender por que apesar de conhecido desde a década de 1950 e ter sido utilizado tanto pela esquerda quanto pelos movimentos negros à época, Franz Fanon tem sido, na atualidade, retomado para a análise de campos como os estudos pós-coloniais e da diáspora, da Negritude, Branquitude e transtornos psicológicos como efeitos do Racismo. Para tanto, o presente grupo de trabalho propõe incentivar a elaboração, reflexão e discussão de trabalhos dedicados, apesar das suas necessárias particularidades, à análise desse movimento geral protagonizado por essas figuras marginais no cânone do pensamento brasileiro. Visando abarcar questões como: o que as críticas dos intelectuais negros às Ciências Sociais, e em perspectiva mais abrangente ao pensamento brasileiro, buscavam comunicar? Suas contribuições à interpretação da realidade social brasileira estão restritas à análise da teoria e metodologia científica empregada pelos espaços de excelência em termos de produção de conhecimento? Qual tipo de memória política sobre o pensamento brasileiro e geografia disciplinar das Ciências Sociais coloca esses intelectuais negros em uma posição marginalizada? E, por fim, em qual momento da trajetória histórica de áreas como História da Historiografia, História da Sociologia, Pensamento Social e Econômico, Literatura, Teoria Política e Sociologia dos Intelectuais, pensadores como Edison Carneiro, Abdias Nascimento, Joel Rufino Dos Santos, Milton Santos, Guerreiro Ramos, Clóvis Moura, Lélia Gonzalez ou Beatriz Nascimento passam a ter suas interpretações e trajetórias intelectuais, tomadas enquanto objeto de estudo?
GT14 - Tecnopolíticas e Sociologia Digital
Coordenadores: Maria Cristina Dadalto, Aknaton Toczek Souza e Pablo Ornelas Rosa
As transformações ocorridas na passagem do século XX para o XXI resultaram na emergência de novas formas de interação e de acesso à informação mediadas por plataformas de mídias sociais. Como efeito destes fenômenos, podemos destacar a emergência de um novo sujeito histórico produzido por meio da modulação comportamental direcionada por essas empresas para fins comerciais, culturais e políticos. Sendo assim, o GT - Tecnopolíticas e Sociologia Digital se apresenta como um espaço de debates sobre pesquisas que envolvem o uso da internet, principalmente das plataformas de mídias sociais, considerando suas dimensões teóricas, epistemológicas, conceituais, metodológicas ou procedimentais, tendo em vista da pluralidade de objetos possíveis de serem abarcados do ponto de vista investigativo.
GT15 - Temas, argumentos e arenas na construção das narrativas da Nova Direita
Coordenadoras: Vera Alves Cepeda e Bruna Quinsan Camargo
Este Grupo de Trabalho propõe-se a investigar, de forma interdisciplinar e crítica, os discursos, narrativas e conteúdos produzidos por movimentos, instituições e agentes políticos alinhados à direita no cenário nacional e internacional. O objetivo central é fomentar reflexões acadêmicas rigorosas sobre as estratégias comunicacionais, os fundamentos ideológicos, os repertórios simbólicos e os impactos sociopolíticos desses discursos em diferentes contextos históricos e midiáticos, no Brasil e no Mundo. Serão bem-vindos estudos que explorem temas como: A construção de agendas conservadoras, nacionalistas ou liberais em plataformas digitais e tradicionais; A ressignificação de termos e conceitos-chave da política, da economia e do debate moral no âmbito da construção de narrativas e da retórica da Nova Direita; A relação entre direita, mídia e desinformação; A articulação de pautas identitárias, morais ou econômicas em discursos políticos; Comparações entre manifestações da direita em diferentes países e períodos históricos; O papel de think tanks, influenciadores e algoritmos na disseminação de ideias.
GT 16 – Apresentações Coordenadas
Neste Grupo de Trabalho abrigaremos os trabalhos que versam sobre o Pensamento Social Brasileiro ou sobre as relações entre intelectuais, cultura e democracia, mas que não se enquadram nos GTs anteriores. Os trabalhos serão agrupados de acordo com a afinidade temática ou metodológica. A seleção será realizada pela Comissão Organizadora do evento, respeitadas a diversidade regional, racial e de gênero, os diferentes níveis de formação, as diversas etapas da pesquisa e a estrutura disponível para abrigar o evento.