A classe fragmentada: unidade e conflito entre produtores rurais do Va-le do São Francisco

A classe fragmentada: unidade e conflito entre produtores rurais do Va-le do São Francisco

• Autor
• José Fernando Souto Junior
• Resumo

• Buscando compreender as relações de classe no Subme?dio Vale do Sa?o Francisco (SMSF), entre as cidades de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), maior produtor de frutas do Brasil para exportação, este trabalho é o resultado de vários projetos de pesquisa realizados com financiamento da Fundação de Apoio à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE), do Conselho Nacional de Pesquisa e (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB). Ao longo do tempo as pesquisas evoluíram dos estudos sobre relações de trabalho para o entendimento das relações entre trabalhadores, empresários da fruticultura irrigada e a participação do Estado na construção de arranjos produtivos locais. Atualmente, o foco tem sido direcionado para a busca de compreensão da organização do empresariado em suas várias formas de representações associativas: o Sindicato dos Produtores Rurais, fundado em 1965; as cooperativas que atuaram no SMSF desde os anos 1970; a formação da Associação dos Produtores e Exportadores de Hortifrutigranjeiros e Derivados do Vale do Sa?o Francisco (Valexport), estimulada pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf), em 1988; e, no início dos anos 1990, a criação da Brazilian Grape Marketing Board (BGMB) por um grupo de empresários com o objetivo exportar uvas e desenvolver novas modalidades da fruta com vistas ao atendimento do mercado externo. O Vale tem se configurado por uma ação empresarial inicialmente induzida e estimulada pelo governo federal. A organização do empresariado em cooperativas e associações ajudou a desenvolver o know-how empregado na exportação de frutas, ao mesmo tempo em que suas associações se tornaram atores políticos importantes junto às diversas esferas de governos (municipais, estaduais e federal). Para o entendimento do desenvolvimento do SMSF, foi utilizado o conceito de cluster de Porter (1998) e arena de Sardan (2005), perspectiva que ressalta a construção de relações sociais e do modelo de desenvolvimento sob a o?tica da interação e conflito dos atores sociais. Num primeiro momento, o Estado, por meio de suas agências, assumiu o protagonismo ao construir a infraestrutura, modelar e direcionar os investimentos com o objetivo de incentivar a agroindústria. A? medida que o Estado avançou no desenho do projeto de desenvolvimento, o estímulo a? dinâmica da iniciativa privada se deu na forma de recrutamento de produtores situados no polo mais dinâmico da agricultura moderna brasileira, as cooperativas. O associativismo trouxe uma racionalidade que dinamizou as relações comerciais ao mesmo tempo em que iam se conformando no SMSF as características de um cluster, que demandou uma diversidade de atores sociais competindo em cooperação. As formas associativas dinamizaram a iniciativa privada integrando as ações e unificando os interesses privados comerciais. A constituição de um novo sujeito político ligado aos fruticultores, a? Valexport, que se utilizando do Sindicado dos Produtores Rurais, como instituição legítima para celebrar acordos, deu unidade política ao núcleo mais dinâmico da fruticultura irrigada, pautando a agenda política mais geral e reordenando as prioridades das agências estatais.

• Palavras-chave
• patronato, associações, cooperativas, sindicato, agronegócio.
• Área Temática
• Elites e classes dominantes do campo: estudos sobre poder e dominação no “andar de cima” do mundo rural brasileiro