O Brasil tem vivenciado o desafio referente ao aumento das demandas em saúde, decorrentes dos acidentes de trânsito cada vez com mais agravantes. Sabe-se que o aumento quantitativo de vítimas requer assistência prolongada em todos os níveis de atenção à saúde e, em muitos casos, ainda da assistência social. Tais eventos têm ainda a peculiaridade do acionamento dos diversos níveis de complexidade, cada um em sua área de atuação, especificidade assistencial e autonomia. Entretanto, os processos estabelecidos em cada nível agregam implicações no tempo de resposta ao acionamento, na agilidade para intervenção e deslocamento seguro, acolhimento para internação - contemplando a classificação de risco tanto quanto os processos de reabilitação - e a vinculação permanente do usuário na atenção primária de saúde. Para isto, é importante uma gestão estratégica dos micro processos, visando a avaliação dos macros resultados, uma vez que são resultantes da interligação dos diversos processos em suas variadas cadeias de valor, a fim de obter - a partir do treinamento de um agravo - a identificação tanto de fragilidades e melhorias processuais, quanto o monitoramento da resposta a partir do acionamento do serviço. Este estudo objetiva descrever o planejamento estratégico, em um evento de extensão universitária na Semana Nacional do Trânsito, para atendimento às vítimas de acidente de trânsito contemplando o acionamento, o tempo resposta e o acolhimento das vítimas em uma Unidade de Média e Alta Complexidade no município de Belo Horizonte- Minas Gerais, Brasil. Metodologia: O desenvolvimento do planejamento estratégico contemplou as seguintes etapas: convite a todos os envolvidos no atendimento pré hospitalar sendo tais a saber: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, Serviço de Atendimento Móvel de Urgência de Belo Horizonte, Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais, docentes e discentes dos cursos de Gestão de Serviços de Saúde e Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais. Fez-se então um encontro no qual os envolvidos explicitaram as demandas pertinentes a cada um dos atores envolvidos. A fim de subsidiar evidências e fomentar a gestão estratégica dos processos, utilizou-se 5W1H como ferramenta de gestão. Este instrumento possibilitou aos envolvidos delinear, de forma clara, o plano tático a ser efetivado, contemplando o curto espaço de tempo. Evidenciou-se o que deveria ser feito, onde, prazo para execução e os seus respectivos responsáveis. Esta planilha foi desmembrada categorizando as variáveis por parceiro envolvido. Na interligação dos processos que seriam realizados pelos parceiros, considerando a interdisciplinaridade e a intersetorialidade das ações, elaborou-se estratégias de execução subsidiadas pela Análise SWOT, isto porque o evento tratava-se de uma ação interdisciplinar e intersetorial, simulando uma realidade fora de seu contexto real utilizando técnica da simulação. Diante disto havia necessidade de haver um plano de contingência, que considerasse desde o planejamento estratégico das ações as forças e fraquezas no ambiente interno e as oportunidades e ameaças no ambiente externo. Subsequentemente, elaborou-se um plano de ação a fim de maximizar as potencialidades e oportunidades em cada cadeia de valor . Para as falhas existentes e identificadas, estabeleceu-se um Plano de Contingência. Neste aspecto, essas informações foram fundamentais para possibilitar a construção de roteiros de atuação por cada parceiro, interligando os processos e garantindo assistência em saúde continuada. A busca por apoio se efetivou de forma intersetorial mediante prestação de serviços por algumas empresas tais como: maquiagem realística, carro para compor o cenário do acidente, participação da Secretaria de Justiça de Minas Gerais e dos diversos veículos de comunicação, uma vez que a ação também buscava trabalhar educação em saúde para acionamento correto do serviço pré hospitalar pela população. O cenário foi previamente elaborado e efetivado para trazer uma realidade de atendimento à população que não tinha conhecimento que se tratava de uma simulação. Os atores que atuaram como vítimas foram caracterizados, maquiados por um dos parceiros, mediante o roteiro de atuação estabelecido. O evento foi público com participação de aproximadamente 300 pessoas. Resultado e discussão: O evento de extensão universitária teve aproximadamente 300 pessoas presentes com duração de trinta minutos. Os atores vítimas eram graduandos em Gestão de Serviços de Saúde pela Universidade Federal de Minas Gerais, que atuavam diretamente no planejamento estratégico, na formação humana para participação e captação de recursos em cada etapa do evento. Graduandos em enfermagem atuaram na simulação de atendimento de primeiros socorros e acionamento do serviço pré - hospitalar a saber: Serviço de Atendimento Móvel de Urgência e Corpo de Bombeiros Militar, visto que houve vítimas presas às ferragens. Uma vez acionados, a assistência em saúde foi iniciada por profissionais do Serviço Móvel de Urgência, que compõem a unidade de suporte avançado a vítimas acidentadas em via pública, bombeiros militares realizavam o desencarceramento da vítima no veículo enquanto outros analisavam a situação da via. As vítimas, em ambos os casos, foram conduzidas pelas unidades pré-hospitalares ao serviço de urgência de média e alta complexidade, preparado para receber as vítimas de simulação. O resultado demonstrou que as ações se efetivaram conforme o planejamento estabelecido. Durante o evento, fragilidades como o não comparecimento de atores, que representariam os familiares de uma das vítimas no cenário do acidente, foi prontamente resolvida mediante substituição por um membro organizador conhecedor do roteiro do acidente, sem comprometimento da estratégia previamente elaborada. A alocação dos recursos foi maximizada de forma garantir a realização do evento, a assistência aos envolvidos na execução contemplando todas as fases sendo tais: pré evento, o evento e pós evento. O pós evento consistiu em um debriefing com participação de todos os parceiros no relato dos desafios e das potencialidades alcançadas. Pode-se ainda trabalhar educação em saúde no acionamento do serviço pré hospitalar, uma vez que o agravo em saúde foi narrado de forma a orientar a população sobre o cenário do acidente, a forma correta de sinalizar a via, de fazer o acionamento do socorro e como funciona a Rede de Urgência e Emergência. Conclui-se que ações que simulem ações assistenciais promovem o aprimoramento do serviço, enfatizando que ações de planejamento estratégicos ainda possibilitam alocação efetiva de recursos, maximização do recurso e uma melhoria na cultura organizacional do trabalho a partir da valoração das ações humanas em cadeia de valor.