O objetivo desta pesquisa é analisar a história da Saúde Mental Mineira a partir de informantes chaves que atuaram nos diversos serviços de saúde do Estado de Minas Gerais antes, durante e depois da Reforma Psiquiátrica Brasileira. Realizamos oito (8) entrevistas semi estruturadas, que foram realizadas nos locais de preferência dos participantes (residência e local de trabalho), nos municípios de Belo Horizonte, Barbacena. Cinco entrevistas foram presenciais e três on-line. Cada participante atuou em locais e tempos específicos, demonstrando uma diversidade de informações sobre a história da Reforma Psiquiátrica. Algumas memórias da história nos auxiliarão a preencher algumas lacunas sobre o tema. Destacamos, a partir das entrevistas realizadas, que: (i) o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena foi um ícone da precariedade da Saúde Mental Brasileira, mas que havia outros hospitais particulares em condições piores; (ii) os hospitais psiquiátricos tinham uma função de Estado (biopolítica) de exclusão mirado em extratos sociais para a população pobre e negra; (iii) havia uma falta de controle da Autorização de Internação Hospitalar, ocasionando internações desnecessárias, superlotação dos hospitais e pagamentos superfaturados; (iv) devido a falta de controle, as condições de cuidado eram precárias, médico centradas, e com hospitalidade mínima para os internos; (v) os internos ao entrarem nos hospitais da rede pública, eram selecionados aqueles com poder econômico para serem transferidos para a rede privada, alimentando uma rede particular da saúde; (vi) muitas profissões foram regulamentadas na década de 1960, portanto, não atuavam com tanta força dentro dos Hospitais Psiquiátricos; (vii) o período de desinstitucionalização a partir de 1980 e a redução de leitos hospitalares gerou muitas transformações. Mas somente em 2001 que promulgou a lei 10216 sobre a proteção e direito das pessoas com transtornos mentais; (viii) Com a implantação gradual dos Serviços Substitutivos, como os Centros de Atenção Psicossocial e as Residências Terapêuticas, houve uma significativa melhoria do cuidado ao paciente com transtorno mental; (ix) a manicomialização ainda está presente na sociedade quando algumas entidades defendem tratamentos em forma de isolamento, ao dizerem que loucos são perigosos para a sociedade, que a loucura pode ser identificada somente pela forma como a pessoa vive ou se veste, que o assujeitamento é uma forma de fazer o sujeito aparecer na sociedade. Cada entrevista foi um grande aprendizado, pois a vivência de cada participante nos trouxe um cenário da Reforma Psiquiátrica que não se compreende somente na literatura. A experiência apresentada nos provocou o sentimento que a Reforma Psiquiátrica é um movimento permanente e que ainda temos muitas conquistas para serem realizadas. Agradecimento especial aos participantes desta pesquisa pela luta que realizaram e por transformar e resgatar a vida de milhares de pessoas. A pesquisa foi aprovada nos Editais 01/2022 e 11/2022 PAPq/UEMG