APLICATIVO DE APOIO AO PROFISSIONAL DA ATENÇÃO PRIMÁRIA PARA IDENTIFICAÇÃO DOS ITINERÁRIOS TERAPÊUTICOS POSSÍVEIS NA RASPI PARA A PESSOA IDOSA
APRESENTAÇÃO
O Brasil apresenta um dos maiores sistemas universais de saúde do mundo, ancorado em extensa rede de Atenção Primária à Saúde. Entretanto, este enfrenta desafios estruturais e, também, conjunturais, por exemplo acerca da compreensão de seus profissionais quanto a suas funcionalidades e possibilidades terapêuticas.
A Rede de Atenção à Saúde da Pessoa Idosa (RASPI), planejada a partir da década de 2010 por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) em virtude do envelhecimento populacional na cidade de São Paulo, organiza o atendimento da população idosa a partir da Atenção Primária, visando à viabilização de ações que trabalhem pela instrução dos pacientes e promoção da saúde, prevenindo agravos e melhorando a qualidade de vida dessas pessoas.
Dessa forma, busca-se melhorar a integração entre os diversos níveis de atenção à sauúde e entre distintos setores nas questões que envolvem as necessidades da população idosa. A RASPI, fundamentada nas premissas de cuidado centrado na pessoa idosa e não na doença, e da avaliação com ênfase na capacidade funcional e vulnerabilidade social a partir da atenção básica, apoia-se na Avaliação Multidimensional da Pessoa Idosa na Atenção Básica (AMPI-AB), realizada na Unidade Básica de Saúde (UBS) para nortear fluxos das pessoas idosas, de acordo com seus critérios de avaliação, na Rede de Atenção à Saúde (RAS) e intersetorialidade. Trata-se de um instrumento desenvolvido para proporcionar avaliação individual dos idosos em diversos eixos da saúde, classificando-os em “saudáveis”, “pré-frágeis” e “frágeis”. A partir de seus critérios de avaliação e construção o de um plano terapêutico singular (PTS), permite nortear os fluxos dessas pessoas na Rede de Atenção à Saúde (RAS) e Intersetorialidade.
Entretanto, em visitas realizadas a distintas unidades da RASPI da região central de São Paulo, por meio do Programa de Educação pelo Trabalho (PET-saúde), percebemos frequentes insatisfações dos profissionais destes serviços acerca da comunicação ineficiente com a Atenção Primária, relacionadas ao desconhecimento de fluxo e do funcionamento dos diversos serviços que compõe a RAS/intersetor por profissionais das UBS, ocasionando encaminhamentos equivocados. Foi observada sobrecarga de alguns serviços com aumento do tempo de espera em filas maiores do que o necessário, e o descumprimento de fluxos, prejudicando o desenvolvimento de trabalhos e planos terapêuticos adequados.
Dessa forma, planejamos desenvolver um meio de auxiliar os profissionais a decidir os itinerários terapêuticos dos idosos, bem como compreender as funcionalidades e critérios de acesso dos distintos programas oferecidos. A partir de um aplicativo para uso dos profissionais da Atenção Primária, buscamos direcionar o serviço mais adequado ao paciente com base em dados preenchidos no software.
DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO
Como referencial metodológico, foram adotadas as etapas do modelo de prototipação: comunicação, planejamento, criação do protótipo, avaliação, testes de funcionamento e consolidação da versão 1 do web software.
O processo de comunicação abrangeu levantamentos de dados sobre a RASPI a partir de visitas aos diversos serviços da rede e de pesquisas nas Diretrizes da Rede de Atenção à Saúde da Pessoa Idosa. Durante as visitas, foram realizadas entrevistas com os profissionais das unidades, como diretores, gerentes, coordenadores, enfermeiros, médicos e assistentes sociais, e pesquisas referentes ao funcionamento dos serviços visitados.
A etapa de planejamento, realizada a partir das informações coletadas, envolve o desenvolvimento de uma tabela contendo as unidades contempladas pela RASPI - Programa Nossos Idosos (PNI), Unidade de Referência à Saúde do Idoso (URSI), Centro de Referência do Idoso (CRI), Programa Acompanhante de Idoso (PAI), Centro de Acolhida Especial para Idosos (CAEI) e Centro-Dia , bem como critérios de inclusão ou exclusão nestes serviços, retirados de suas respectivas diretrizes.
Os critérios utilizados foram dicotômicos, sendo eles maior ou menor de 60 anos para idade, maior ou menor de 11 pontos na Avaliação Multidimensional da Pessoa Idosa da Atenção Básica (AMPI-AB) e “sim” ou “não” para os demais parâmetros: grau de dependência, vulnerabilidade ou risco social, familiares trabalhando e/ou estudando, dependência funcional nas AVDs, dificuldades de deambulação, insuficiência no suporte familiar ou social, risco de institucionalização, residência na área de abrangência, isolamento ou exclusão social, dificuldade de acesso aos serviços de saúde, transtornos neuropsíquicos, três ou mais doenças crônicas com complicações, instabilidade e alteração de marcha e equilíbrio.
A partir dos critérios, foi possível estabelecer uma relação objetiva entre perfil de paciente e critérios de inclusão para cada um dos Serviços da RASPI. Usando a linguagem de programação Python com a biblioteca Tkinter, desenvolveu-se um aplicativo que indica o serviço da RASPI mais indicado a cada paciente de acordo com os critérios de entrada do usuário.
O aplicativo apresenta um formulário com os 15 critérios supracitados e permite selecionar “sim” ou “não” como resposta para cada um deles. Após responder o formulário e clicar no botão “Buscar”, o aplicativo apresenta o serviço mais indicado.
RESULTADOS
Há somente uma combinação de resposta para cada um dos serviços da RASPI: URSI, CRI, PAI, CAEI e CENTRO-DIA. Para qualquer combinação de respostas diferente, o aplicativo apresentará PNI como serviço mais indicado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O conhecimento dos itinerários terapêuticos possíveis a pessoas idosas na RASPI é um desafio para os profissionais que atuam nos diversos pontos da rede, especialmente na Atenção Primária à Saúde, reconhecida como sua ordenadora. Identificar o serviço mais adequado ao usuário atendido pela APS é um desafio que demanda estratégias de gestão da rede, treinamento da equipe, mas também recursos tecnológicos que permitam adequações e atualizações rápidas e eficientes.
A proposta do aplicativo desenvolvido é agilizar e padronizar os encaminhamentos dos usuários da RASPI, de forma a beneficiar o paciente, que poderá acessar os serviços mais compatíveis com suas necessidades, bem como o profissional de saúde e a RAS, uma vez que o software busca tornar o atendimento e a busca por itinerários terapêuticos mais objetivos.
No entanto, foram identificadas algumas barreiras para o desenvolvimento pleno da ideia proposta, tais como a especificidade dos critérios de inclusão e exclusão para os serviços da RASPI, considerados no aplicativo, os quais foram determinados a partir dos respectivos documentos norteadores. Com isso, cada unidade, como PAI, URSI, requer uma combinação única de respostas para que seja possível o encaminhamento do paciente. Trata-se de uma barreira tanto ao desenvolvimento do software, quanto para o próprio itinerário terapêutico dos pacientes, uma vez que quaisquer outras combinações de critérios de inclusão e exclusão resultam unicamente em acompanhamento no PNI. Isto acarreta sobrecarga deste serviço e encaminhamentos equivocados, ou inadequados segundo os determinantes de cada serviço.
Entendemos que os profissionais da RAS conhecem a rede, entretanto, os critérios de encaminhamento para os serviços são vários e, por vezes, de difícil memorização. Desta forma, este aplicativo proporciona ferramenta de auxílio no referenciamento da pessoa idosa aos serviços, contribuindo para apoiar a execução do plano terapêutico singular a partir da aplicação da AMPI.
A proposta para trabalhos futuros é o aprimoramento do software a partir da técnica de Machine Learning de forma a garantir maior diversidade de serviços disponíveis para cada perfil de usuário, partindo do pressuposto de superar as barreiras por subjetividade de critério com o aprendizado de máquinas. Sugere-se também a inserção de equipamentos de assistência social para atenção integral à pessoa idosa ingressante nos programas sociais.
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