Apresentação A discussão sobre qualidade de vida ganha relevância diante do aumento da expectativa de vida e do impacto crescente de doenças crônico-degenerativas associadas ao envelhecimento populacional. A Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca a urgência de incorporar tópicos relacionados aos cuidados no final da vida e ao processo de morrer na formação médica. O surgimento de doenças emergentes, como a Covid-19, com as mudanças demográficas, exige abordagens específicas durante as fases de adoecimento e óbito. Isso resulta na busca crescente por prontos-socorros (PS), impulsionada pela fragilidade da atenção primária. Diante do quadro de adoecimento crônico, a falta de equipes disponíveis de cuidados paliativos (CP) direciona os pacientes para as emergências, onde a dinâmica acelerada dificulta uma abordagem mais compassiva e individualizada. Apesar das emergências não serem ideais para CP, elas desempenham um papel crucial no gerenciamento de sintomas durante crises agudas, permitindo uma abordagem centrada no paciente, contrapondo-se a uma abordagem focada exclusivamente na doença. Assim sendo, o escopo desta pesquisa visa realizar uma revisão sistemática de literatura, analisando a abordagem das equipes de PS na prestação de cuidados a pacientes com doenças crônicas avançadas, com ênfase na perspectiva dos CP. Adicionalmente, o estudo destaca a necessidade de avaliação das deficiências existentes, especialmente no contexto estrutural brasileiro. Desenvolvimento do trabalho A busca, conduzida em janeiro de 2024, adotou uma abordagem metodológica qualiquantitativa e exploratória para aprofundar a investigação. Foram incluídos artigos integralmente disponíveis, exclusivamente relacionados ao escopo do estudo, publicados em português, inglês ou espanhol, e indexados nas bases de dados da USA National Library of Medicine (PubMed), da Virtual Health Library (BVS) e da Scientific Electronic Library Online (SciELO), no período entre 2019 e 2024. A seleção dos artigos utilizou descritores dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e Medical Subject Headings (MeSH), notadamente "palliative care", "emergency medical services" e "attitude of health personnel", com a combinação feita pelo operador booleano "AND". Após análise dos artigos disponíveis, identificou-se uma lacuna significativa, especialmente relacionada aos cuidados paliativos durante emergência. Inicialmente, 46 estudos foram localizados para revisão, entretanto, apenas 6 atenderam aos critérios estabelecidos de elegibilidade. Resultados Estudos evidenciam desafios na comunicação entre profissionais de saúde e familiares, destacando limitações na continuidade dos cuidados e interpretações divergentes sobre CP. A necessidade de treinamento em CP, o desenvolvimento de um caminho de cuidados compartilhado e a otimização do ambiente emergem como ênfases para aprimorar a prestação de cuidados. Em relação aos médicos, observa-se aprovação, expressa vontade de expansão e demanda por educação contínua. Isso inclui a liberação de profissionais para outras tarefas, aumento do apoio durante os turnos e desenvolvimento pessoal. O destaque para barreiras culturais ressalta a importância da sensibilidade cultural e reconhecimento da diversidade religiosa. Adicionalmente, durante a pandemia de COVID-19, circunstâncias atípicas e sobrecarga impactaram o cenário, adicionando complexidade ao contexto de cuidados. Essas condições desafiadoras exigem uma adaptação ágil e estratégias específicas para garantir a qualidade dos cuidados prestados. No contexto da sistematização dos cuidados paliativos na educação médica no Brasil, é evidente a necessidade de reavaliação do papel da Educação Médica (EM), crucial para proporcionar suporte eficaz dos profissionais por meio dos CP. Essa reorientação, visando superar tabus ligados à morte e incorporar competências emocionais, busca promover uma abordagem mais abrangente da pessoa, contrastando com o modelo tradicionalmente mecanicista e hegemônico nas instituições médicas, que enfatiza predominantemente os aspectos biológicos do processo saúde-doença. A notória falta de dados sobre EM e CP no cenário brasileiro é acompanhada pela ausência de literatura relevante nos PS. Os desafios no ensino incluem a escassez de corpo docente especializado e a falta de recursos, comprometendo a formação médica conforme as diretrizes internacionais e nacionais. O ensino de CP enfrenta desafios, como a escassez de corpo docente especializado, a ausência de um serviço clínico dedicado, o reduzido interesse institucional, a falta de recursos financeiros, e limitações de tempo e material didático. Observa-se que o ensino de CP desempenha um papel crucial como catalisador para uma formação médica humanista e reflexiva, sendo essencial em três níveis: básico para todos os profissionais de saúde, intermediário para lidar com pacientes graves e especializado para casos complexos e pesquisa. Além disso, persiste a falta de consenso na extensão do treinamento, predominantemente em inglês. Iniciativas de educação comunitária e campanhas são essenciais para sensibilizar sobre CP, juntamente com a implementação de serviços especializados. Considerações finais A necessidade premente de incorporação de CP nos serviços de emergência, ainda pouco explorada em estudos brasileiros, destaca a urgência de pesquisas que esclareçam a aplicação efetiva desses cuidados no contexto de PS. Reconhecer a importância dos CP nas equipes de PS é crucial, promovendo uma mudança de ênfase do cuidado centrado apenas em “salvar vidas” para uma abordagem mais humanizada e centrada na dignidade do ser humano, especialmente em casos de cuidados de fim de vida. Apesar de os CP serem uma adição recente nos sistemas de saúde brasileiros, a abordagem de saúde pública é essencial para superar obstáculos, como a ausência de políticas, programas educacionais, pesquisas e medicamentos relacionados aos CP. A falta desses cuidados, especialmente em populações vulneráveis, implica sofrimento desnecessário. O diálogo e a comunicação desempenham um papel crucial na construção do significado da vida, mesmo nos momentos próximos à morte. Desconsiderar os CP nas políticas de saúde significa privar o paciente não apenas do direito a uma morte digna, mas também do sentimento de autocontrole, favorecendo uma abordagem tecnizada que negligencia a autonomia e dignidade do paciente.