O grupo possibilita o senso de pertencimento, e se caracteriza como produto simbólico das relações sociais construídas em contexto histórico específico e mediadas pela linguagem enquanto, também, construção coletiva. Mais do que um conjunto de pessoas, se caracteriza como lugar de encontro. Além disso, enquanto espaço de acontecimento do cuidado e da linguagem, ocorre somente na pluralidade, sendo também possibilidade de acolhimento daqueles vulnerabilizados. A pandemia do COVID-19 evidenciou ainda mais a desigualdade social, principalmente as assimetrias de sexo, raça e classe social, fazendo com que problemas cotidianamente vivenciados pelas mulheres, por exemplo, se mostrassem ainda maiores. Nesse cenário, os Centros de Convivência (CECOs), em seu arcabouço político, abarcam a inclusão de pessoas historicamente excluídas, possibilitando o senso de pertencimento, interação social, grupalidade e outras formas de expressão da subjetividade. Assim, o objetivo do presente trabalho é compartilhar e discutir a experiência de um grupo de mulheres coordenado por uma fonoaudióloga residente em Saúde Mental e Saúde Coletiva em um Centro de Convivência e Cooperativa (CECCO) de Campinas. O CECCO se configura como campo do segundo ano do Programa de Residência em Saúde Mental e Saúde Coletiva da UNICAMP. A partir da demanda de mulheres do território por ofertas de espaço de fala, foi elaborada uma proposta de grupo com o objetivo de promover espaço de fala, livre expressão da subjetividade e troca de experiências. A atividade ocorre em parceria com o Centro de Saúde de referência, compondo a coordenação com a fonoaudióloga residente, uma agente comunitária de saúde e uma nutricionista residente. Os encontros acontecem semanalmente em formato aberto no Centro Comunitário do território. Devido à organização social das relações de sexo, é importante a diferenciação do cuidado das mulheres enquanto grupo. Violência contra a mulher, violência racial, vulnerabilidade social, a vida na periferia metropolitana, dificuldades com filhos e família, trabalhos opressores e desgastantes, a sobrecarga como cuidadoras de seus filhos, companheiros e parentes e a invisibilidade e falta de espaço de fala são temas que apareceram com intensa frequência nos encontros. A potência de construção do vínculo, além de favorecer a identificação e diferenciação e de possibilitar as construções conjuntas, favorece as trocas afetivas, sociais, linguísticas e cognitivas. No grupo, as mulheres encontraram um espaço, um lugar seguro para compartilhar “segredos guardados” e na troca entre elas, foram se desatando nós e aliviando angústias antigas, o que operou enquanto lugar de luta contra a invisibilidade e resistência feminina. A coordenação composta de forma multiprofissional reforça a necessidade do trabalho em equipe, do encontro de saberes e do arranjo teórico-prático que melhor favoreça o manejo, o enquadre e o formato do grupo. O grupo de mulheres se configura enquanto produção de cuidado que se destinou à busca pela promoção ao direito de expressão de forma co-construída, e ao possibilitar/transformar modos de ser e estar no mundo por meio de espaços saudáveis de comunicação. O mesmo se mostrou de extrema relevância ao oportunizar a travessia para maior consciência de que a mulher é um sujeito de desejos e de direitos.