Saúde trata-se do bem-estar pleno do indivíduo. Posto isso, entende-se que a saúde é determinada, além da ausência da doença, por fatores culturais, demográficos e socioeconômicos – que influenciam na qualidade de vida do indivíduo. Essa relação estreita tem por consequência uma espiral descendente, em que o ser vulnerável é condenado ao acesso limitado à saúde e este o leva à maior marginalização. Nesse cenário, populações já excluídas – seja por questões étnico-raciais ou ligadas à classe, ao gênero ou à sexualidade – tendem a apresentar piores indicativos. Analisando a população imigrante, percebe-se que a interação entre os fatores demográficos, culturais e socioeconômicos e a qualidade de vida é acentuada quando comparado a mesma ligação vivenciada pela população local, o que configura uma maior vulnerabilidade ao grupo. Nesse sentido, percebe-se que, ao tratar-se de um momento de fragilidade do indivíduo relacionado, entre outros fatores, ao distanciamento de sua nação, a imigração age como determinante – mesmo que indireto – de saúde, ao passo em que influencia nas características que regem o bem-estar físico, mental e social do indivíduo. Diante deste cenário, este estudo busca conhecer os aspectos que influenciam no bem-estar geral dos imigrantes e descrever uma possível conexão entre as características dessa população e seu acesso à saúde. Esta pesquisa objetiva descrever características sociodemográficas, de saúde e relacionadas ao acesso a serviços de saúde de pacientes atendidos no Ambulatório de Acolhimento em Saúde do Imigrante (Passo Fundo/RS), investigando de que forma tais fatores se apresentam, como o Ambulatório atende essa população e qual seu papel referente à saúde dos imigrantes. Trata-se de um estudo epidemiológico observacional de delineamento transversal, com abordagem quantitativa dos dados. A amostra, adquirida por conveniência, é de 41 imigrantes atendidos no Ambulatório entre junho de 2023 e agosto de 2023. O perfil encontrado foi de imigrantes adultos (75,6%), pretos/pardos (56,1%), venezuelanos (58,5%), do sexo feminino (56,1%) e residentes no Brasil entre 1-5 anos (46,4%). A maioria possui Ensino Superior ou Pós-graduação (43,9%), é assalariada (83,9%) e mora com a família (61,0%) em casa de concreto (70,7%) com acesso a saneamento básico (95,1%). Acerca das comorbidades, apresentam doença respiratória (17,9%), hipertensão arterial sistêmica (26,8%), diabetes mellitus (9,8%), obesidade (19,5%), ansiedade (19,5%) e insônia (26,8%). Entre os participantes, 56,1% avaliam o atendimento recebido no Ambulatório do Imigrante como “Muito Bom”. A observação de tais dados possibilita a utilização destes para um maior conhecimento do panorama em saúde vivenciado pela população imigrante atendida na localidade, ao mesmo tempo em que viabiliza o aprimoramento de políticas públicas construídas e direcionadas à situação – visando o acolhimento, o cuidado e a promoção em saúde. Por se tratar de um estudo pioneiro no estado do Rio Grande do Sul, abre-se a possibilidade para novas investigações acerca do assunto, sobretudo no aprimoramento e na criação de estratégias em saúde direcionadas à população imigrante.