Apresentação: A formação em fisioterapia, historicamente, possui enfoque técnico e reabilitador, voltado para problemas individuais da saúde, principalmente doenças com sequelas reabilitáveis. Essa estrutura de ensino, baseada na dicotomia corpo-mente, não contribui para a aproximação do estudante com as diferentes realidades e necessidades dos indivíduos, como no atendimento a pessoas com transtornos mentais, considerando que o sofrimento psicossocial está interseccionado, muitas vezes, a outros problemas de saúde. Assim, o sujeito com transtorno mental pode estar presente em todos os campos de atuação do fisioterapeuta, e é necessário que o profissional tenha um olhar ampliado do processo saúde-doença para proporcionar cuidado humanizado e integral. Desenvolvimento: Trata-se de um relato de experiência do projeto de extensão “Nise da Silveira: reabilitação fisioterapêutica e saúde mental” da Universidade Federal de Santa Catarina, campus Araranguá. O projeto é desenvolvido em um Lar de Acolhimento há dois anos, onde residem 28 mulheres com transtornos mentais e em situação de vulnerabilidade social. Os atendimentos fisioterapêuticos são realizados semanalmente, pelos voluntários, estudantes de Fisioterapia, atendendo principalmente às demandas de mulheres com esquizofrenia pós-acidente vascular cerebral. Resultados: Ao longo do desenvolvimento do projeto, percebeu-se a relevância da experiência para os estudantes e para as mulheres atendidas. As narrativas apontam que o envolvimento no projeto de extensão, que envolve acolhimento, cuidado e reabilitação de pessoas com transtornos mentais, preencheu lacunas existentes no currículo do curso, e os tornou mais sensíveis, visto que é rotineiro o atendimento de pessoas com adoecimento mental em todas as áreas do estágio e, muitas vezes, os estudantes manifestam estigma e preconceito, não sabendo lidar com a situação, o que impacta na qualidade e efetividade do tratamento fisioterapêutico. Além disso, os atendimentos demandaram criatividade e adaptação dos estudantes, devido ao fato de que em alguns momentos as mulheres não compreendiam ou não aceitavam realizar o que estava sendo proposto. Considerações Finais: o projeto de extensão “Nise da Silveira: reabilitação fisioterapêutica e saúde mental” se mostrou de extrema importância para a formação dos estudantes de Fisioterapia, por proporcionar novos olhares acerca do processo saúde-doença e embasar práticas mais efetivas, humanizadas e acolhedoras. Os atendimentos fisioterapêuticos também foram fundamentais para as mulheres que residem no Lar de Acolhimento, proporcionando mais autonomia e funcionalidade e criando relações de afeto e cuidado.