Este trabalho tem como objetivo descrever e discutir a vivência de um estágio eletivo como ferramenta técnico-pedagógica visando a formação direcionada ao Sistema Único de Saúde (SUS) e seus preceitos. Trata-se do relato da experiência de uma fonoaudióloga e uma terapeuta ocupacional residentes do Programa de Residência Multiprofissional de Saúde Mental e Saúde Coletiva da Universidade Estadual de Campinas realizado no Programa de Residência Multiprofissional de Gestão de Políticas Públicas para a Saúde da Escola de Governo Fiocruz – EGF da Fundação Oswaldo Cruz/Brasília.
A escolha pelo Programa de Gestão de Políticas Públicas para a Saúde da FIOCRUZ/DF se deu pelo interesse pela intersecção dos campos da gestão e do cuidado em saúde mental. A experiência se deu no mês de setembro de 2023. A inserção ocorreu em dois cenários de prática e nas atividades teóricas que compõem o programa pedagógico. Foi possível desenvolver projetos e acompanhar o cotidiano da gestão do CAPS Infanto Juvenil Asa Norte - Brasília e da equipe de Atenção Psicossocial e Promoção do Bem Viver do Departamento de Atenção Primária à Saúde Indígena (DAPSI) da Secretaria de Saúde Indígena (SESAI) do Ministério da Saúde do Governo Federal.
A partir da atuação no CAPS IJ foram adquiridos aprendizados a respeito do processo de trabalho, gestão de recursos humanos, gestão de dados, liderança, articulação política e construção de parcerias no território. Contando também com a composição no 1° Forúm de Supervisão Clínico-Institucional da Rede de Atenção Psicossocial do DF.
Dentre as atividades desenvolvidas na SESAI, foi possível participar de reuniões interdepartamentais, discutir e analisar dados epidemiológicos de taxas de violência, suicídio e uso prejudicial de álcool e de medicamentos psicotrópicos e composição na elaboração de um documento de avaliação e monitoramento de práticas assistenciais no cuidado a atenção psicossocial da população indígena e o Bem Viver. Além disso, a participação na 1a Conferência Livre de Saúde Mental da Saúde Indígena.
A vivência entrelaçada às disciplinas possibilitou leituras para a contextualização da política pública de saúde mental, e suas especificidades ao público infanto-juvenil e indígina.
O estágio eletivo proporciona o ensino pela prática como uma estratégia fundamental para a qualificação de profissionais para a atuação nas diversas realidades do país. A experiência em outro contexto expande o repertório através da troca entre perspectivas, referenciais teóricos e produções de cuidado.
A vivência permitiu a ampliação do olhar para o cuidado em saude mental na interface com a gestão por meio de ações de planejamento, avaliação e monitoramento, associadas à compreensão das politicas publicas e arcabouço de programas temáticos. Ademais, uma produção científica que contribua para o aprimoramento das relações sociais e práticas no campo da gestão, dando ênfase ao território e ao fortalecimento da participação popular. As residências multiprofissionais objetivam produzir conhecimento em saúde com vistas a qualificação do processo de trabalho. Por fim, o estágio se mostrou transformador, impactando positivamente na formação e na reafirmação de ideais acerca do cuidado em saúde de modo afetivo e pautado nos princípios de equidade, integralidade e universalidade.