A violência obstétrica é definida pelo desrespeito ao corpo e aos processos reprodutivos das mulheres por profissionais de saúde e às falhas estruturais de centros obstétricos em um momento de grande fragilidade feminina. Os partos e seus cuidados eram de responsabilidade de profissionais conhecidos popularmente de aparadeiras, estas tinham conhecimentos e davam suporte às mulheres durante a gestação, parto e puerpério, além de fornecer os primeiros cuidados aos recém-nascidos. Assim, até o século XVII, o parto era considerado um assunto de mulheres, resolvido em casa, que não cogitava a presença masculina no processo. A medicina da época não tinha conhecimentos específicos em relação ao parto e a saúde da mulher, e os poucos médicos existentes eram chamados apenas em casos de gravidade. Por essa razão, as práticas do partos foram, e continuam sendo, momentos dramáticos por envolver uma situação de extrema vulnerabilidade feminina.
O Brasil se destaca com a segunda maior taxa de cesariana do mundo, alcançando 56,3% de todos os nascimentos em 2019. Além disso, existe uma desigualdade na distribuição das taxas de cesariana no país, sendo maiores em regiões mais desenvolvidas, em mulheres com idade maior ou igual a 35 anos, de cor da pele branca e com maior nível de escolaridade. Em contrapartida, durante o parto cesáreo, existe um maior risco de infecções puerperais, acidentes e complicações anestésicas, não representando um aumento simétrico ao comparar a alta da frequência de cesarianas com o aumento dos benefícios no binômio mãe-bebê. Por essa razão, o Governo Federal instituiu no país programas como o Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento (PHPN) e Rede de Acolhimento Materno-Infantil (RAMI), com o propósito de reduzir as altas taxas de morbimortalidade materna e perinatal, adotando medidas para melhor o acesso, a cobertura e a qualidade do acompanhamento pré-natal, da assistência ao parto e puerpério.
O termo violência obstétrica tem sido rejeitado entre os profissionais de saúde que atuam na assistência ao parto, sobretudo no Brasil. O principal motivo para sua baixa aceitação é a incorporação da patogenização e da medicalização do parto e nascimento à definição.
Diante deste problema, considera-se um desafio para o médico promover e recuperar a saúde das pacientes acometidas por essa violência portanto, o objetivo geral deste estudo foi descrever a violência obstétrica e o impacto no binômio mãe-bebê baseado em material bibliográfico disponível a fim de enriquecer o campo de estudo na temática abordada.
Nos 12 artigos incluídos nesta revisão, observou-se que houve predomínio da temática características da violência obstétrica, entretanto, quando analisados esses documentos, notou-se um predomínio nos traumas causados na parturiente e no neonato. Logo, as formas de avaliação e acompanhamento desses pacientes demonstraram características semelhantes. Os estudos avaliados evidenciaram algumas percepções em comum acerca dos danos causados pela violência obstétrica, estes danos foram transtorno mental, dificuldade no crescimento do neonato.
Os estudos demonstraram principalmente a repercussão negativa dessa situação traumática na saúde mental da mãe e como isso alterou a relação dela com o seu bebê. Diante desse contexto, os artigos demonstraram os reflexos desse estresse na integridade psíquica e observaram que mães vítimas de violência obstétrica tendem a desenvolver transtornos emocionais no pós parto imediato e tardio. Isto é, essas mulheres desenvolviam depressão pós parto, angústia e estresse emocional, insegurança, diminuição de afeto e afastamento do bebê.
Um dos impasses identificados nesta pesquisa para avaliar o impacto dessa violência, é a dificuldade da parturiente em compreender que sofreu uma violação.
Como limitação deste estudo, os pesquisadores concluíram que padra?o obste?trico intervencionista, medicalizado e hegemo?nico torna desafiador que o programa de humanização sistematize de forma eficaz uma rede de atenção à saúde a essa população. Um empecilho para uma análise mais robusta foi a quantidade de artigos de revisão que trouxeram contribuições unificadas do que é entendido como violência obstétrica e o impacto no binômio mãe-bebê.
Com base nos estudos revisados, é notório o impacto de como um tratamento de baixa qualidade no viés obstétrico pode deixar sequelas tanto para mãe como para o bebê. Respeitar, proteger e garantir o bem estar desse binômio é de significativa importância quando se diz respeito à saúde de ambos.
No entanto, é importante destacar algumas limitações dos estudos revisados, como da progenitora de reconhecer e assimilar que sofreu uma forma de violência e os meios de tentar evitar essas situações de apatia por muitas vezes cometidas por uma falha de sistematização do processo pré e pós-natal. Mesmo que diversos estados brasileiros estejam emitindo cartilhas educacionais e investindo em um meio obstétrico mais humanizado, é necessário cautela com cada mãe e seu filho, com o intuito de evitar danos e permitir que estas famílias que se iniciam possam ter a satisfação de crescerem juntos, sem traumas que interfiram na qualidade de vida e no desenvolvimento.
Para trabalhos futuros, é interessante explorar ainda mais formas de sistematizar um atendimento humanizado através do trabalho multiprofissional hospitalar, evidenciar protocolos que demonstram resultados satisfatórios e evitar qualquer tipo de violência que venha a impactar fisicamente, socialmente e emocionalmente à mãe e à criança