Introdução: As diferentes etnias indígenas existentes no território brasileiro sofreram e sofrem com o epistemicídio, a morte do conhecimento tradicional com a chegada de uma cultura que cria formas de dominação política e ideológica, logo, o conjunto de saberes dos povos originários enfrenta preconceitos e desvalorização. Dentre as formas de opressão, a medicina indígena é historicamente deslegitimada, pois a visão do homem branco é muitas vezes distorcida, carregando consigo preconceitos. Isso ficou evidente na história da criação do Centro de Medicina Indígena Bahserikowi, que significa “centro de cura”, quando Luciene Barreto, foi picada por uma cobra em 2019. Inicialmente, a equipe médica avaliou que seria necessário uma amputação, mas a pedido da família, o HUGV fez um tratamento conjunto que uniu os saberes tradicionais e ocidentais, o que evidenciou a necessidade de se conhecer mais sobre a medicina indígena. No livro “Trançar, destrançar e tecer na dança e no canto” escrito por João Paulo Barreto, fundador do centro Bahserikowi, aponta que a medicina indigena deve ter uma abordagem participativa, lado a lado com a medicina ocidental. Objetivo: Aprender sobre os saberes indígenas, com a finalidade de desmistificar o preconceito estrutural incorporado na sociedade. Metodologia: Trata-se de uma visita ao centro Bahserikowi, com o intuito de identificar a maneira como os indígenas das etnias tukano, desana e tuyuka atuam no cuidado de seus povos utilizando métodos milenares, para promover saúde e cura. Esse estudo foi realizado através de pesquisa de campo, em contato direto com membros dessas etnias e através de relatos vivenciados pelos organizadores desse centro foi possível entender seus métodos. Resultados: O Centro de Medicina Indígena Bahserikowi foi criado como uma forma de resistência cultural em um ambiente urbano ocidental, buscando preservar e valorizar os saberes tradicionais. O preconceito ocidental muitas vezes reduz a medicina indígena a meras crenças religiosas e processos espirituais. No entanto, essa visão é limitada, pois assim como na medicina ocidental, a medicina indígena também exige uma preparação rigorosa e um tempo de formação específico para que os praticantes recebam os títulos de suas respectivas funções. A preparação dos futuros "médicos" indígenas envolve um isolamento na floresta por um período de 3 a 4 anos, com uma transmissão oral do conhecimento. Durante esse período, eles aprendem as causas das enfermidades e as receitas de cura, tornando-se "homens remédio". Existem várias categorias de formação, como os baia, os cumon e os ya, sendo esta última extinta com a chegada dos colonizadores. Para os indígenas, as histórias elaboradas são as fórmulas de cura, assim como os remédios são usados no ambiente metafísico. Essas práticas de cura apresentam duas formas de cuidado da saúde: o Bahsese, fórmulas metaquímicas de produção de remédios, e o uso de plantas medicinais. Conclusão A visita foi fundamental para ampliar a compreensão sobre cura e doença, reconhecendo a importância da cultura dos pacientes e respeitando sua autonomia e saberes ancestrais, mostrando que a saúde não é apenas a ausência de doença, mas também o bem-estar físico, mental e social