Entre 2021 e 2022 fui residente de enfermagem no programa de residência multiprofissional em saúde da família com ênfase na saúde da população do campo (PRMSFESPC) na Escola de Governo FIOCRUZ Brasília. A residência me possibilitou conhecer novos espaços de militância e ampliou a consciência sobre os movimentos sociais.
Os movimentos sociais são espaços de conhecimento e luta por direitos daqueles que são diariamente negligenciados e silenciados por uma sociedade segregacionista, lutar por melhorias e qualidade de vida, respeito, direito à vida e democracia são suas bandeiras. A residência tem caráter multidisciplinar, e enfatiza a saúde da população do campo, onde pude compreender melhor sobre os enfrentamentos e lutas sociais dos povos das águas, do campo e das florestas. Foram nesses espaços múltiplos e diversos, ampliador do conhecimento que tive o reconhecimento de como realizar mudanças na sociedade. Onde pude compreender, como devo colocar em prática todo meu aprendizado que obtive na graduação e na residência, praticando saúde junto aos movimentos sociais.
Esses espaços políticos, como assembleias, conferências e espaços de organizações sociais são de extrema importância para pensar e planejar o cuidado em saúde e assim fazer chegar aos profissionais de saúde de modo a construir boas práticas. O fato de ter vivenciado experiências que converse e atue com os movimentos, juntamente com os conhecimentos das práticas da enfermagem me proporcionaram, um olhar direcionado para as populações que necessitam de mais atenção, como as mulheres pretas, pessoas LGBTQIA+ e em situação de vulnerabilidade social.
A experiência do trabalho multiprofissional com os residentes do serviço social, fisioterapeuta, profissional de educação física, psicólogo, farmacêutico e militantes dos movimentos sociais do Conselho Pastoral da Pesca e Articulação de Mulheres Pescadoras no evento Grito da Pesca Artesanal em novembro de 2021 e 2022 possibilitou conhecer a realidade das populações das águas. Segundo a política nacional de saúde integral da população do campo e da floresta, deve-se respeitar o estilo de vida dessas populações e sua autonomia e especificidades garantidas por lei. Outra grande experiência relevante foi participar do Acampamento Terra Livre (ATL), um evento de luta pelos direitos dos povos indígenas. Uma verdadeira imersão nas pluralidades dos povos do Brasil. O trabalho em equipe na tenda da saúde, se deu de maneira enriquecedora, participando profissionais de variadas categorias, integrantes de diversos movimentos sociais, liderança indígenas, onde todos compreenderam a necessidade de entender a singularidade de cada povo e desta forma contribuir para o planejamento do cuidado de maneira enriquecedora. Possibilitando assim, a desmistificação que saúde só se promove saúde em ambientes tradicionais, hospitalocêntricos. Como descrito na PNSIPCF a saúde deve chegar a todos os lugares de forma integral e equânime.
No ano de 2024, pude retornar ao programa PRMSFESPC, como tutora dos alunos da categoria profissional de enfermagem, onde venho compartilhando minhas vivências e experiências com esses residentes. Corroborando para uma formação com olhar para além dos muros das unidades de saúde, para que eles possam se tornar profissionais capazes compreenderem a singularidade de cada território, promovendo saúde de uma maneira equânime.
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