A Atenção Primária em Saúde (APS) representa, de modo geral, o primeiro contato do indivíduo com a rede de saúde – atuando como “porta de entrada” para serviços de maior complexidade. Base do Sistema Único de Saúde (SUS), a APS visa garantir acesso e cobertura a cuidados em saúde voltados à população em conformidade com suas especificidades, priorizando a justiça social e a equidade. De maneira longitudinal, a APS enfatiza a atenção clínica ao mesmo tempo em que viabiliza a promoção e a prevenção em saúde de maneira humanizada. Dessa forma, entende-se que, para que ocorra o pleno gozo do direito à saúde pelos cidadãos, os serviços devem estar voltados para o maior investimento e melhor desenvolvimento da APS. Nesse sentido, este resumo objetiva debater o papel dos gestores (municipais, estaduais ou federais) como peças-chave para que o SUS atue verdadeiramente como um sistema único. Realizou-se uma revisão bibliográfica na base de dados Scielo utilizando as palavras-chave “Gestão em Saúde”, “Atenção Primária à Saúde” e “Sistema Único de Saúde”. Os 23 artigos iniciais foram selecionados por título e, após, por leitura de resumo, restando 10 artigos de interesse à revisão. Percebeu-se que, para além do conhecimento em relação à burocracia inerente ao cargo, o gestor em saúde necessita ter perfil específico: humano e técnico. Em princípio, a gestão é vista como um maquinário complexo em que o gestor lidera conforme os protocolos e em que os trabalhadores agem de acordo com ordens durante seu tempo de produção – na área da saúde, porém, sabe-se que essa definição não contribui para a garantia plena da saúde. Nesse âmbito faz-se importante valorizar as capacidades de imaginação, de criação e de decisão dos empregados que permitem que estes sejam capazes de administrar a imprevisibilidade característica ao serviço em saúde. Os gestores, além de incentivar tal comportamento na equipe, aumentando sua autonomia, devem, por sua vez, agir com criatividade utilizando da fusão entre paradigmas e burocracias – agindo, ao invés de “máquina”, como “artesão” e, assim, tornando a APS plenamente humanizada – e, desse modo, contribuir com a garantia de um dos princípios norteadores do SUS: a resolubilidade. Além deste atributo, sabe-se, ainda, que outro fator de influência positiva na valorização da APS no SUS é a graduação dos gestores. Em geral, gestões lideradas por indivíduos graduados em saúde/gestão – independentemente do tempo em que estão no cargo – tendem a investir mais na APS, contribuindo com a garantia de outro princípio norteador do SUS: a descentralização. Evidencia-se, enfim, a importância do perfil do gestor em relação à garantia em saúde através do maior investimento em APS, buscando o rompimento da racionalidade gerencial hegemônica e a valorização do aspecto positivo do poder descentralizado. Focar na administração das relações interpessoais – gestor-equipe, clínico-equipe e profissionais-usuários – e dos resultados destas permite a realização de um projeto assistencial coletivo e modifica a prática do “produzir saúde”. Investir na consolidação da APS leva a uma melhor estruturação do SUS, direcionando o Brasil a um rumo mais justo e de garantia em saúde aos cidadãos.