Introdução: O Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CapsAD) constitui-se como um dos principais serviços para a atenção a pessoas em sofrimento psíquico em decorrência do uso de álcool e outras drogas. Este serviço representa uma importante transformação no cuidado em saúde mental, porém ainda há desafios importantes para consolidação do modelo psicossocial, sendo uma das principais barreiras identificadas à atenção da pessoa em crise. Para que este atendimento seja possível, é fundamental conhecer os profissionais de saúde para além do seu conteúdo técnico sobre o cuidado em saúde mental, mas também, como eles se sentem durante o atendimento de crise, desta forma, buscando identificar as sensações que se transformam em barreiras no atendimento, bem como aquelas que potencializam boas práticas de cuidado. Objetivo: compreender os significados dos sentimentos reverberados por trabalhadores no atendimento à pessoa em crise psíquica em um CAPS AD III. Método: pesquisa qualitativa sob o referencial da fenomenologia social de Alfred Schutz, realizada com 14 trabalhadores, selecionados através da técnica de amostragem bola de neve. Os critérios de inclusão foram: trabalhadores do CAPS AD III que vivenciam situações de crise em seu cotidiano de trabalho com experiência mínima de três meses de atuação. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e também pelo Hospital Mãe de Deus/Associação Educadora São Carlos (AESC) via Plataforma Brasil, mediante parecer 5.155.975/2021 e CAAE 52618321.0.0000.5347. A coleta de informações foi realizada no período janeiro e fevereiro de 2022 através da entrevista fenomenológica de forma presencial e online, sendo submetidas à análise fenomenológica de Alfred Schutz. O estudo respeitou os aspectos éticos relacionados com pesquisas com seres humanos, bem como aspectos éticos referente a pesquisa realizada em ambiente virtual. Resultados: da análise emergiram duas categorias que revelaram os sentimentos e a frustração dos trabalhadores frente ao atendimento de crise. Surge o sentimento de que o medo atrelado à periculosidade, atribuída a loucura e ainda presente nos discursos dos trabalhadores. A necessidade de contenção mecânica protetiva produz tristeza e angústia ao trabalhador, em contrapartida quando a situação de crise é resolvida pelo manejo verbal e vínculo e sentimento gerado é de alegria e alívio. O manejo de crises recorrentes é um desafio para a equipe, sendo relacionado ao sentimento de insuficiência e sobrecarga dos trabalhadores. Os principais sentimentos referentes à frustração estão relacionados a baixa adesão dos familiares, problemas sociais que sobrepõem ao cuidado em saúde mental e a quebra da expectativa na relação trabalhador e usuário. Considerações finais: para a compreensão dos sentimentos é necessário criar relações terapêuticas verdadeiras entre trabalhador e usuário, com o propósito de lidar com a crise apostando no manejo verbal e no vínculo.