O período puerperal é marcado por diversas nuances, experiências fisiológicas, físicas e emocionais que dão início após o parto, durante cerca de 45 dias ou de acordo com a subjetividade de cada mulher. Essa fase também é acompanhada por implicações diretas na sexualidade das puérperas. Comumente, a representação desta experiência restringe-se ao ato sexual e as mudanças corporais do período gravídico-puerperal geram insegurança, devido à dor e à insatisfação com a autoimagem sendo recorrentes neste período. Além disso, há a necessidade de adaptação na rotina e alteração de hábitos da rede de apoio (amigos e familiares) devido à chegada do recém-nascido impactando no relacionamento do casal ou possíveis parceiros/as. Outro cenário a ser considerado é que, a partir de uma construção sócio-histórica, as necessidades das pessoas puérperas são secundarizadas, visto que o bebê se torna a prioridade para a prestação do cuidado. A partir desse cenário e da preocupação acerca dos cuidados com o bebê, essas mudanças podem ser acompanhadas por sentimentos de medo, insegurança, ansiedade e preocupação. Por essa razão, é imprescindível que profissionais de saúde considerem os aspectos biopsicossociais que acompanham as puérperas, para que assim seja prestado uma assistência integral às diversas demandas dessas pessoas. O seguinte relato narra a experiência de uma atividade extensionista, com o objetivo de elucidar de modo educativo, o cuidado a saúde da mulher puérpera, principalmente no viés da sexualidade. Essa vivência ocorreu em atividade virtual na plataforma do Google Meet, com parceria da Liga Acadêmica de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (LAISC- UFRB) com o SSeR- Grupo de Pesquisa Saúde, Sexualidade e Reprodução. A palestrante foi uma Doutora de Enfermagem membro do referido grupo de pesquisa e da instituição, os participantes foram discentes do Bacharelado Interdisciplinar em Saúde com terminalidade em medicina, enfermagem, nutrição e psicologia. O conteúdo exposto durante a sessão trouxe reflexões sobre a saúde da mulher puérpera, rede de apoio, cuidado do profissional de enfermagem na questão da sexualidade nesse período em específico. No início da atividade foi realizado um acolhimento, com apresentação e identificação entre participantes presentes de mulheres que estavam no período puerperal ou eram/foram rede de apoio intergeracional de alguma mulher. Iniciando a discussão sobre a temática foi utilizado como dinâmica uma exposição de oito imagens de um casal cartunistas que estava no período do puerpério em contexto pandêmico. Nessas imagens era possível visualizar as vivências desse casal em sua residência com uma criança e era possível identificar situações tais como: momentos em casal, amamentação, questões de mudanças físicas e emocionais. Ao longo dessa atividade os participantes relataram o que percebiam a cada imagem, relatos sobre a importância da rede apoio efetiva, momentos de alegria e tristeza, quais cuidados eram necessários em cada situação, a sobrecarga vivida pela mulher bem como o desencadear do cansaço físico e mental. Durante a dinâmica foi sinalizado que a chegada do bebê altera não só a dinâmica domiciliar, mas também diversos aspectos da vida da mulher e do casal. Consequentemente a vida conjugal sofre alterações que abalam diretamente a intimidade do casal e a sua comunicação, não esquecendo o abalo em muitos casos na auto estima da mulher com as mudanças na imagem corporal, trazendo assim sentimentos de estranheza, inferioridade, baixa autoestima e comparações com os padrões impostos pela sociedade, como foi apontado pelos participantes. Noutro momento da atividade foi realizada uma contextualização teórica introduzida após aplicação de uma técnica para construção de uma nuvem de palavras, advinda das três solicitadas aos participantes após serem questionadas/os sobre o Significado do resguardo no puerpério. Obtendo como destaque palavras como: cansaço, recuperação, cuidado, privação e insegurança. Por fim, a partir das palavras sugeridas pelos participantes foi realizada a discussão teórica sobre a atenção ao puerpério, destacando os indicadores de qualidade de vida e a aplicação do processo de enfermagem, por meio da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE). Logo torna-se relevante a discussão, percebendo que há de fato uma necessidade na atenção a esse público por parte dos profissionais de saúde em relação às dificuldades enfrentadas e demandas dessas mulheres no pós parto. Caso haja, uma recorrência na falta de suporte e assistência à saúde mental pode ser desencadeado uma sentimentos de baixa autoestima e outros possíveis problemas psíquicos, associados ainda a pressões sociais por questões estéticas e enquadramento num determinado papel social. Tais fatores gera um sentimento de incapacidade em não suprir os cuidados ao bebê, bem como a dificuldade de inserção nesse novo contexto, e as possíveis vulnerabilidades e incertezas que são comuns nesse período. A carência assistencial no período puerperal, pois os números relacionados às consultas pós parto na atenção primária são baixos, corroborando com agravos de saúde, influências sobre a auto estima e estabelecimento de vínculos comprometidos, fato que pode ser revertido ou minimizado com as intervenções efetivas por parte dos profissionais e rede de apoio orientada e informada. Neste contexto, a sexualidade, que socialmente ainda é relacionada apenas ao ato sexual, opondo as perspectivas biopsicossociais da mulher precisa ser considerada. Neste momento de vida, a experiência das mulheres puérperas deixam de existir enquanto pessoas, para serem mães que vivem e existem para atender as demandas da criança. O exercício da sexualidade precisa ser discutido e compreendido sem tabus, para que reduza seus preconceitos e estereótipos que são advindos de crenças enraizadas que por vezes são reforçadas e disseminadas e como consequência gerando retrocesso e problemas futuros. Esse conceito de sexualidade engloba o ato sexual, mas não se restringe a este, representação que a sociedade reproduz. Entretanto deve-se ampliar o olhar para uma relação que envolve diversos aspectos, seja ele psicológico, religioso, biológico, políticos, etc. Não se pode esquecer que além de envolver relações de gênero e orientação sexual, também tem o erótico, prazer que esse individuo sente e a intimidade consigo e com o outro. Nesse sentido é importante que os profissionais de enfermagem compreendam suas atribuições para que melhor possam intervir. Mediante, acolhimento a essas puérperas com escuta qualificada, identificando suas necessidades, de modo que venha a participar organizando todo esse processo com a equipe multiprofissional. A realização da consulta de enfermagem de preferencial até o sétimo dia de puerpério, realizar visita domiciliar, monitorar, coordenar e promover ações que gerem educação em saúde através de grupos, eventos sociais e rodas de conversa. Portanto, uma educação continuada desses profissionais contribui para qualidade do serviço beneficiando de modo preventivo as puérperas a fim de proteger das possíveis demandas que possam ocorrer ao longo desse processo. Conclui-se que atividades desse teor contribui para formação profissional dos estudantes, enriquecendo o aprendizado através de trocas de saberes, com metodologias ativas, discussões dinâmicas, teóricas e práticas. Essa vivência fortalece o desenvolvimento científico, pensamento crítico, de modo que coopere também com o ensino e extensão, visando a formação de profissionais capacitados para o mercado de trabalho, de forma humanizada, empática, comprometida com a saúde das mulheres puérperas considerando a individualidade de cada processo.