Abordando sobre dignidade menstrual com adolescentes do ensino médio: debates acerca de ações de educação em saúde no contexto escolar

  • Author
  • Alicyregina Simião Silva
  • Co-authors
  • Thalita Caroline Costa Façanha , Ilvana Lima Verde Gomes
  • Abstract
  • Apresentação 

    A menstruação, embora corresponda a um processo fisiológico e natural, ainda é marcada por preconceitos, mitos e desinformações, diretamente associados a desigualdade de gênero. Essa realidade, somada a situações de vulnerabilidade, desigualdade social e precariedade do acesso a itens de higiene, pode contribuir para a exclusão social das pessoas que tem útero, à medida que se apresenta enquanto barreira para a frequência escolar e realização das demais atividades cotidianas.

    Tais exemplos caracterizam os casos frequentes de pobreza menstrual enfrentados por essa população e que repercutem de forma significativa no aparecimento de problemas físicos, como infecções urogenitais, alergias ou irritação de pele e mucosas, emocionais, ocasionando desconforto e estresse, ou mesmo sociais, com repercussões diretas na vida ativa desse público.  

    Vale destacar que a estigmatização da menstruação e a pobreza menstrual correspondem a uma violação dos direitos humanos, que geram a necessidade de intervenções e do aprimoramento de políticas públicas nacionais que visem garantir o acesso da população a aspectos básicos relacionados à saúde. À exemplo disso, cita-se o Programa Dignidade Menstrual.

    Nesse contexto, conceitua-se a dignidade menstrual enquanto um direito que corresponde a garantia de acesso a itens de higiene e a ambientes sociais acolhedores, que possibilitem a higienização adequada e supram as necessidades próprias do período menstrual, como também garantam o acesso aos serviços de saúde e a informação adequada sobre a saúde sexual e reprodutiva.

    Somado a isso, ressalta-se que orientações e intervenções relacionadas a saúde sexual e reprodutiva de adolescentes e jovens representam uma importante atribuição da saúde pública e coletiva. No contexto do Sistema Único de Saúde (SUS) a abordagem do tema apresenta-se como uma das demandas da Atenção Primária à Saúde, visto que pode contribuir na prevenção de diversas doenças e complicações que afetam diretamente a saúde física e mental, o bem-estar e a qualidade de vida desse público, além de auxiliar a detecção precoce, diagnóstico e tratamento adequado de possíveis patologias, à exemplo da endometriose e das Infecções Sexualmente Transmissíveis.

    Assim, faz-se necessário o constante planejamento de intervenções elaboradas de forma intersetorial, com intuito de promover uma articulação adequada entre os profissionais de saúde, os profissionais de educação e as Unidades de Atenção Primária à Saúde, visando a promoção da saúde dos adolescentes. Nesse contexto, compreendendo a relevância do tema para o fortalecimento do SUS numa perspectiva do cuidado integral e da intersetorialidade, salienta-se que o aprimoramento do conhecimento sobre a temática corresponde a uma estratégia essencial de promoção da saúde e melhora da assistência à saúde do adolescente.

    Desse modo, o presente estudo possui como objetivo relatar a experiência e as reflexões levantadas durante a realização de uma atividade de educação em saúde desenvolvida com adolescentes de uma Escola Estadual de Ensino Profissional do Ceará, e que abordou sobre dignidade menstrual e saúde sexual e reprodutiva.

     

    Desenvolvimento

    Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência, elaborado com base nas reflexões proporcionadas através de uma atividade de Educação em Saúde desenvolvida em uma Escola Estadual de Educação Profissional de um município cearense. O estudo foi realizado no período de fevereiro a março de 2024.

    Participaram da ação todos os alunos do primeiro ano do ensino médio da referida escola, totalizando 100 adolescentes, com idade de 14 a 16 anos. Para a atividade foi cedido o horário de uma das aulas dos cursos de todas as turmas participantes. A ação consistiu no diálogo e discussão sobre assuntos relacionados a dignidade e higiene menstrual enquanto direitos básicos, ciclo menstrual, cólicas, Tensão Pré-Menstrual (TPM), autocuidado e aspectos gerais relacionados a saúde sexual e reprodutiva. A ação correspondeu a uma demanda da escola e a escolha da temática abordada na ação educativa deu-se pelo fato do evento coincidir com a entrega dos absorventes para os adolescentes, sendo esta uma das estratégias contempladas pelo Programa Dignidade Menstrual.

    Para direcionamento do diálogo, utilizou-se como recurso pedagógico slides, dinâmicas e músicas relacionados ao assunto abordado. A ação foi composta por três etapas, sendo estas: 1) Dinâmica inicial intitulada de corredor do cuidado; 2) Exposição dialogada sobre o tema; 3) Dinâmica final, definida como caça-palavras, para revisão dos temas abordados ao longo da atividade. Vale destacar que durante todo o momento da ação educativa os alunos puderam retirar as dúvidas sobre a temática e contribuir ativamente com a atividade.

     

    Resultados

    Ao longo da ação educativa, foi possível identificar a visão negativa dos estudantes sobre a menstruação, sendo este fato relacionado as características próprias dessa fase, que podem incluir alterações físicas e emocionais, como também às restrições que o período menstrual representa para os alunos, identificadas em relatos de ausência às aulas ou a outras atividades referentes ao convívio social. Destaca-se que durante a abordagem buscou-se exemplificar possíveis estratégias não farmacológicas que pudessem minimizar os efeitos ou dificuldades vivenciados durante esse período, sendo ressaltado também sobre a menstruação enquanto um processo fisiológico.

    Outro aspecto importante observado durante a discussão correspondeu as diversas dúvidas que os adolescentes apresentavam com relação ao período menstrual, à exemplo de achados considerados fisiológicos, indicativos de alteração ou sintomas relacionados a endometriose, características do ciclo menstrual, e cuidados realizados durante esse período, que incluíam a alimentação, prática de atividade física e higiene. Ademais, identificou-se grande quantidade de dúvidas relacionadas a utilização de métodos contraceptivos ou mesmo referentes a presença de corrimentos vaginais.

    Nesse contexto, observa-se a necessidade e relevância da realização de atividades educativas que abordem a saúde sexual e reprodutiva no contexto escolar, e que visem garantir o acesso à informação adequada, bem como estimular o autocuidado ou mesmo a mudança de hábitos de vida, de modo que essas correspondem a uma importante estratégia de promoção da saúde do adolescente.

    Levando isso em consideração, programas e políticas públicas são aprimorados e implantados com o intuito de possibilitar um diálogo efetivo e uma inserção dos profissionais de saúde no ambiente escolar, à exemplo disso cita-se o Programa Saúde na Escola que apresenta diferentes estratégias e formas de abordagens de temáticas diretamente relacionadas a saúde de adolescentes e jovens. Apesar disso, considera-se que em muitas realidades essas estratégias ainda não cobrem toda a população-alvo ou apresentam-se de forma fragilizada. Especialmente ao considerar que estas são ações e intervenções recentes e encontram-se em processo de implantação.

    Somado a isso, identificou-se que, através do diálogo, foi possível estabelecer um vínculo com os adolescentes, que sentiram-se confortáveis em compartilhar suas experiências e dúvidas sobre o tema. Dessa forma, a construção de um ambiente saudável e seguro para que os estudantes possam expor suas queixas ou angústias mostra-se essencial no contexto do cuidado desse público.

     

    Considerações finais

    A discussão acerca da menstruação e dos demais aspectos relacionados a saúde sexual e reprodutiva de maneira natural e livre de preconceitos, bem como a abordagem da dignidade menstrual enquanto direito, destacam a importância da educação em saúde como ferramenta de empoderamento da população, capaz de contribuir e favorecer a equidade e a redução da desigualdade de gênero.

    Tais aspectos são considerados fundamentais nos debates relacionados ao SUS e podem contribuir no aprimoramento de políticas públicas que visem promover a saúde de adolescentes e jovens também no contexto escolar. Especialmente ao se destacar a escola como importante ambiente impulsionador de mudança de hábitos e comportamentos, bem como de transformação da realidade atual.

     

  • Keywords
  • Menstruação, Saúde do Adolescente, Saúde Reprodutiva, Sistema Único de Saúde.
  • Subject Area
  • EIXO 1 – Educação
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