Sintomas depressivos maternos: prevalência e associação com a classe econômica em mulheres da cidade de Pelotas-RS

  • Author
  • Bruna Beatriz Alves dos Santos
  • Co-authors
  • Maria Eduarda Vieira Reis , Victória Duquia da Silva , Bárbara Borges Rubin , Fernanda Teixeira Coelho , Luciana de Avila Quevedo , Ricardo Tavares Pinheiro
  • Abstract
  • Apresentação: A depressão materna refere-se ao funcionamento psicodina?mico da mãe nos dois primeiros anos da maternidade, o qual caracteriza-se pela sintomática de irritabilidade, perda da capacidade de sentir prazer, ansiedade, desânimo persistente, sentimento de culpa, entre outros sintomas. 

    Durante a fase gestacional, ocorrem diversas mudanças sociais, físicas, hormonais e emocionais, que tendem a se intensificar durante todo o período gestacional e no pós-parto. Nessa perspectiva, o período após a gestação é considerado de grande vulnerabilidade psicológica para as mães, devido a uma certa melancolia maternal por estar vivenciando mudanças corporais intensas, alteração de rotina e preocupação integral com bebê. Além disso, muitas vezes as mulheres vivenciam  esse momento sem rede de apoio ou com uma rede de apoio fragilizada, o que pode tornar essa fase ainda mais vulnerável. 

    Sendo assim, observa-se uma alta  prevalência de depressão entre as mulheres mães, o que se configura como um problema de sau?de pu?blica, uma vez que pode afetar significativamente a sau?de da ma?e e do bebe?. Pesquisas mostram índices nacionais entre 9% e 26%, chegando a 39,4% de prevalência dos sintomas depressivos maternos, e nas pesquisas internacionais observam-se dados expressivos com variação entre 20% e 22% a 38%, sendo a me?dia mundial de 16,33%. 

    Nesse contexto, analisar a prevalência dos sintomas depressivos maternos torna-se relevante, além de identificar fatores que possam estar associados a esses sintomas, como a classe econômica dessas mulheres, visto que a baixa renda familiar é um importante fator de risco para desenvolvimento da sintomatologia depressiva. Com isso, os contexto sociais e econômicos maternos podem influenciar de forma significativa a saúde mental da mulher. 

    Diante disso, o objetivo do estudo foi quantificar a prevalência dos sintomas depressivos maternos e sua  associação com a classe econômica das mulheres da cidade de Pelotas/RS.

    Desenvolvimento do estudo: Trata-se de um estudo transversal aninhado a um estudo de longitudinal intitulado “Transtornos neuropsiquiátricos maternos no ciclo gravídico-puerperal: detecção e intervenção precoce e suas consequências na tríade familiar”. A população alvo foram gestantes residentes na zona urbana do município de Pelotas-RS e captadas inicialmente entre o primeiro e segundo trimestre de gestação. A seleção da amostra foi realizada através do sorteio da metade dos setores censitários da zona urbana da cidade de Pelotas, delimitados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou seja, 244 do total de 488 setores. Após o sorteio, todos os domicílios de cada setor censitário sorteado foram visitados para verificar a presença de gestantes que preenchessem os critérios de inclusão. Todas as mulheres que residiam em um desses setores e estavam com até 24 semanas gestacionais foram convidadas a participar da pesquisa. Os dados do presente  estudo referem-se à 4ª avaliação realizada aos 18 meses após o parto, entre os anos de 2018 e 2020.

    A escala da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP) foi utilizada para avaliação da classificação econômica das participantes, que se baseia na acumulação de bens materiais, escolaridade do chefe da família, se a rua é pavimentada e se a casa possui água encanada. Essa classificação enquadra os participantes em classes (A, B, C, D ou E), a partir dos escores alcançados. A letra “A” refere-se à classe socioeconômica mais alta e “E” a mais baixa. Para este estudo, as classes A e B foram agrupadas, assim como as classes D e E. Ao serem agrupadas, as classes A+B denominam-se como classe alta, a classe C como média, e D+E como classe baixa.

    Para avaliar os sintomas depressivos, foi utilizado o Beck Depression Inventary II (BDI-II), que consiste em um inventário com escala sintomática de auto-relato, composto por 21 itens sobre sintomas depressivos nos últimos 15 dias, gerando pontuações totais que variam de 0 a 63. Para este trabalho, foi utilizada a pontuação dicotômica, considerando de 0 a 13 pontos sem sintomas e a partir de 14 pontos com sintomas de depressão.

    Após a codificação dos instrumentos, os dados foram duplamente digitados no programa EpiData 3.1 e posteriormente analisados no Statistical Package for the Social Science (SPSS) através de frequência simples e relativa e do teste qui-quadrado. Foram consideradas associações significativas quando p<0,05.

    O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Católica de Pelotas sob o protocolo nº 47807915.4.0000.5339 e todas as participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Mães com sintomas depressivos graves foram encaminhadas para a Unidade Básica de Saúde (UBS) de referência.Resultados: Os dados finais analisados se referem a uma amostra de 467 mulheres com dados completos sobre sintomas depressivos e classe econômica. Nessa amostra, 50,1% (N=234) das mulheres tinham 30 anos ou mais de idade, 63,5% (N=296) tinham 11 anos de estudo ou mais, 83,7% (N=391) viviam com o companheiro, 44,3% (N=207) estavam em sua 1ª gestação e 45,4% (N=212) não planejaram a gravidez. Além disso, em relação às classes socioeconômicas, 26,6% (N=124) pertenciam à classe alta (A+B), 60,0% (N=280) à classe média (C) e 13,5% (N=63) à classe baixa (D+E). A prevalência dos sintomas depressivos maternos foi de 36,2% (N=169).  Nota-se que houve associação dos resultados observados, uma vez que a prevalência de sintomas depressivos maternos foi maior em mulheres pertencentes à classe socioeconômica baixa (D+E) (55,6%) quando comparamos com as de classe média (C) (33,9%) e às de classe alta (A+B) (31,5%) . Diante disso, no que tange a classe econômica e sintomas depressivos, observamos que a associação entre as variáveis foi estatisticamente significativa (p=0,002). Além disso, observamos uma linearidade nos resultados apresentados, no qual a prevalência dos sintomas depressivos maternos aumentou de acordo com a diminuição da classe socioeconômica (p de linearidade = 0,005).

     

    Considerações finais: Tendo em vista os resultados encontrados no presente estudo, podemos observar que os sintomas depressivos maternos estão com altas prevalência no período pós-parto, outra preocupação é a sua relação com a classe econômica baixa, a medida em que a vulnerabilidade socioeconômica prejudica a saúde mental materna. Sendo assim, se faz necessário e urgente políticas públicas eficazes de apoio econômico e mental para as mães brasileiras, a fim de mitigar as diferenças sociais e promover saúde psicológica materna.

  • Keywords
  • Sintomas depressivos maternos, classe socioeconômica, saúde mental materna.
  • Subject Area
  • EIXO 6 – Direito à Saúde e Relações Étnico-Raciais, de Classe, Gênero e Sexualidade
Back