DESAFIOS E APRENDIZADOS NA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM A IMIGRANTES: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

  • Author
  • Jaqueline Krepski Cardoso
  • Co-authors
  • Tifany Colome Leal , Camila Sissa Antunes
  • Abstract
  • Apresentação: os movimentos migratórios são uma realidade no contexto global e na história, caracterizando-se pelo deslocamento de pessoas de seus países de origem para estabelecerem-se em outros territórios, mantendo consigo suas histórias, línguas e culturas. No Brasil, como em muitos outros países, observa-se um aumento significativo no número de imigrantes, os quais devem ser acolhidos de acordo com os preceitos do Sistema Único de Saúde (SUS), estabelecido pela Lei 8080 na década de 90, que garante a todos o direito à saúde, incluindo promoção, proteção e tratamento de suas necessidades. No entanto, a assistência à saúde deve ir além do simples acesso e tratamento, superando as barreiras linguísticas e culturais para oferecer um cuidado de qualidade, pautado nos princípios de universalidade, equidade e integralidade do SUS. Diante das diferenças entre a cultura de origem e a do país atual, muitos indivíduos encontram dificuldades na busca por assistência e na compreensão dos cuidados oferecidos. Isso se tornou evidente ao analisarmos a situação de mulheres puérperas, nas atividades práticas do sexto semestre do curso de graduação em Enfermagem, em um hospital público destinado a cuidados infantis no oeste do estado de Santa Catarina no município de Chapecó, na qual enfrentamos desafios significativos ao orientar puérperas haitianas sobre amamentação, e cuidados com o recém-nascido (RN) em fototerapia devido às barreiras linguísticas e culturais, bem como aos seus costumes específicos. Objetivo: relatar a experiência na orientação de puérperas haitianas em hospital público no oeste catarinense. Desenvolvimento: a enfermagem, em sua busca pelo cuidado integral dos pacientes, dedica-se a orientá-los de maneira abrangente sobre os riscos relacionados à sua condição de saúde, conforme os diagnósticos estabelecidos. Isso inclui informar sobre os benefícios da amamentação, a posição adequada para o bebê dormir e se alimentar, intervenções comuns em casos de icterícia e infecções, higiene do coto umbilical, as primeiras vacinas necessárias, próximas consultas nas unidades básicas de saúde e testes realizados no RN. No ambiente hospitalar, especificamente no hospital de cuidados infantis do município de Chapecó, durante o mês de outubro de 2023, foi observado que muitas imigrantes haitianas enfrentavam dificuldades para compreender o idioma predominante, uma vez que no Haiti se fala Criolo, entre outras línguas. Muitas vezes, a comunicação ocorria apenas com o acompanhante masculino da puérpera, o que constituía mais uma barreira. Contudo, a busca por conhecimento por parte delas e a necessidade da equipe de enfermagem de estabelecer relações de confiança permitiram superar essas barreiras. Durante as orientações, foi necessário recorrer a gestos e utilizar palavras que as puérperas compreendiam para transmitir as informações essenciais. Esforços foram feitos para explicar de maneira clara e compreensível os cuidados prestados aos bebês, destacando a importância da fototerapia em casos de icterícia, por exemplo. Ocorreu situações em que as puérperas não compreendiam a necessidade de o bebê permanecer apenas de fralda e com proteção ocular durante o procedimento, o que exigiu esclarecimentos adicionais, visto que essa situação acaba sendo comum a RNs com icterícia neonatal que precisam desse tipo de tratamento, pois a proteção ocular durante a fototerapia evita danos aos olhos do bebê devido à exposição à luz intensa e a  presença apenas da fralda aumenta  a área de pele exposta à luz, acarretando em maior eficácia do tratamento. Além disso, as puérperas foram orientadas sobre a técnica de amamentação, tanto pela fonoaudióloga para prevenir complicações quanto pelos profissionais de enfermagem. Esse esforço conjunto da equipe de saúde possibilitou uma melhor compreensão por parte das puérperas sobre os cuidados necessários para o bem-estar dos bebês, mesmo diante das barreiras linguísticas e culturais. Nessa perspectiva é importante sempre respeitar as experiências dessas mães assim como seus conhecimentos anteriores, buscando entrelaçar as diferentes perspectivas, no melhor para o paciente, pois o cuidado implica em adentrar a realidade do outro e compreender que o outro é fruto de sua construção social, o que implica nas suas ações em saúde, e compreendendo as dificuldades das imigrantes haitianas longe das suas matrizes, torna nosso dever enquanto enfermeiros  aplicar  esforços intersubjetivos para promover e preservar a saúde do outro. Resultados: as atividades práticas realizadas durante o sexto semestre permitiram a expansão do olhar em relação ao cuidado, especialmente ao nos depararmos com indivíduos que necessitam de assistência, independentemente das barreiras culturais e linguísticas que possam surgir. Essas experiências destacaram o papel fundamental da enfermagem na defesa do Sistema Único de Saúde (SUS) e na promoção do cuidado integral. A proximidade entre enfermeiros e pacientes permitiu perceber que o cuidado vai além da mera execução de técnicas, envolvendo uma abordagem holística do indivíduo. É fundamental reconhecer que os imigrantes têm direito à saúde, assim como todos os outros cidadãos, e merecem um tratamento com equidade. Além disso, é importante considerar que os imigrantes trazem consigo sua história, conhecimentos e identidade cultural, aspectos essenciais a serem valorizados no processo de cuidado. No decorrer do acompanhamento de mulheres haitianas nas atividades práticas, foi notável o interesse delas em aprender e compartilhar suas experiências e dúvidas, no cuidado com seus recém-nascidos. Em diversos momentos, expressaram a gratidão por receberem assistência no Brasil, destacando a ausência desse suporte em seu país de origem. Essas vivências ressaltam a importância do SUS, que possibilita o acesso à saúde e o acompanhamento dela ao longo da vida. Dessa forma, é fundamental que os futuros profissionais de enfermagem busquem proporcionar um cuidado integral, não permitindo que as diferenças sejam justificativas para negligenciar a qualidade do atendimento. Ao contrário, devem ser vistas como oportunidades para promover uma abordagem mais inclusiva, garantindo que todos tenham acesso ao cuidado de saúde de forma digna e respeitosa. Considerações finais: Em suma, essa experiência proporcionou uma compreensão mais profundada sobre a importância da adaptação dos profissionais dos seus conhecimentos na assistência prática à saúde, principalmente ao nos depararmos com a dinamicidade dos perfis de pacientes no contexto hospitalar. Ficou evidente que as atividades práticas durante a graduação são essenciais no processo de formação, pois permitem que o aluno, no processo de ensino-aprendizagem, se depare com a necessidade de colocar seu conhecimento teórico em prática, adaptando-o conforme a necessidade. Essa adaptação constrói bases para formar futuros profissionais que estejam preparados para lidar com as diversas situações em saúde. Nesse sentido, é fundamental sempre buscar aprimorar nossos conhecimentos sobre as diferentes culturas e línguas, procurando formas de comunicação que possibilitem transmitir nossos conhecimentos e cuidados a todos os pacientes, independentemente de suas origens. Além disso, o sentimento de realização ao saber que foi possível aplicar o conhecimento adquirido nas aulas, visando proporcionar uma assistência eficaz e humanizada.

  • Keywords
  • Cuidados de Enfermagem, Imigrantes, Recém-Nascido
  • Subject Area
  • EIXO 6 – Direito à Saúde e Relações Étnico-Raciais, de Classe, Gênero e Sexualidade
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