A experiência da maternidade é um processo singular para cada mulher e ao considerarmos aspectos biológicos, psicológicos, sociais e culturais da maternidade, é possível obtermos uma compreensão mais abrangente dessa experiência universalmente significativa. Considerando que a experiência da maternidade não é apenas individual, mas está inserida em um contexto social e cultural é que o presente trabalho se insere e objetiva discorrer acerca do "Projeto Cegonha" que acontece no munícipio de Soure, na ilha do Marajó, no estado do Pará, há cerca de 8 (oito) anos.
O projeto acontece duas vezes por semana, no Centro de Referência em Assistência Social – CRAS, onde as turmas são semestrais e seu principal público alvo são, principalmente, mulheres gestantes em situação de vulnerabilidade social e/ou com pequena ou inexistente rede de apoio. Durante a duração das turmas, as grávidas tem acesso à alimentação, palestras acerca da maternidade, atendimentos de saúde e cursos para geração de renda, todas essas intervenções são realizadas pela equipe técnica do próprio Centro que é composta por profissionais da psicologia, assistência social, enfermagem, medicina e fonoaudiologia. Tal projeto foi criado e desenvolvido com objetivo de diminuição das desigualdades, fortalecimento de vínculos materno e social, ensino de técnicas e habilidades úteis à maternidade além de capacitação para emancipação social e financeira.
As experiências compartilhadas no convívio diário do projeto entre as próprias integrantes, desenvolvem uma identificação grupal e amplia a rede de apoio entre as próprias usuárias. No decorrer das aulas, as gestantes confeccionam o seu próprio enxoval personalizado com bordado marajoara. O motivo pelo qual as mesmas bordam o grafismo marajoara se justifica pelo incentivo à cultura regional e o fortalecimento do sentimento de pertencimento e afeto à terra natal que é transmitido para seus bebês até como modo de fortificação do vínculo materno. Ao final do semestre, a equipe técnica juntamente com a coordenação do Centro viabiliza um ensaio fotográfico para registro desse momento singular que é a maternidade.
A partir do breve relato supracitado acerca do projeto, percebe-se o estímulo cultural na constituição nas subjetividades maternas com o intuito de fortalecer os vínculos maternos afetivos e transferência geracional da identidade cultural. A forma de autoafirmar a origem desde o nascimento através da produção do enxoval com tal grafismo, demonstra o quanto a arte impacta o bem estar emocional, a saúde e o fortalecimento do vínculo entre mãe e bebê. Há um orgulho em ser chamado ‘Filho da terra’ e tal autodeterminação denota um ideal, uma referência. Considerando que não há hierarquia de saberes e nem de culturas, a produção desse material se constitui como um recurso terapêutico que impacta de modo positivo a saúde mental que é fundamental principalmente nesse momento sensível e vulnerável que é a maternidade. Por conseguinte, ressalta-se a importância de ampliar e incentivar a produção cultural para o fortalecimento da sensação de pertencimento que é inerente à vida humana.
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