APRESENTAÇÃO
A arteterapia usa a atividade artística como instrumento de intervenção profissional para a promoção da saúde e a qualidade de vida, abrangendo hoje as mais diversas linguagens: plástica, sonora, literária, dramática e corporal, a partir de técnicas expressivas como desenho, pintura, modelagem, música, poesia, dramatização e dança, podendo ser aplicada por diversos profissionais na área da saúde, tais como enfermeiros, fisioterapeutas, assistentes sociais, psicólogos, terapeutas ocupacionais, em diversos contextos. O exercício da arteterapia nas suas variadas formas possibilita a reinserção social, onde o usuário pode se sentir acolhido, propiciando a ressignificação do seu autoconhecimento, facilitando sua autonomia de forma criativa por meio da arte. As imagens produzidas por meio do processo expressivo na arteterapia são projeções internas e manifestações pessoais. Elas permitem que o indivíduo se expresse da sua maneira, dando um novo sentido a sua própria existência. A arte se mostra um importante instrumento para a expressão da subjetividade humana, que permite ao psicólogo e cliente acessar conteúdos emocionais, analisá-los e ressignificá-los. Conteúdos como traumas, conflitos emocionais, relações interpessoais e outros, podem ser abordados por meio do uso da arte, sendo esta, uma ferramenta que amplia as possibilidades de expressão. A partir disto, este relato tem como objetivo apresentar experiências vivenciadas por acadêmicas de Enfermagem em uma unidade de saúde mental, onde foi empregada a arteterapia.
DESENVOLVIMENTO O presente trabalho é um estudo descritivo do tipo relato de experiência. As atividades foram realizadas por duas acadêmicas do 5º semestre do curso de Enfermagem, da Universidade Federal do Pampa, nos meses de maio a junho de 2023 e ocorreram durante a realização das práticas propostas na disciplina de Gestão do Cuidado II. As atividades ocorreram em uma Unidade de Saúde Mental de um Hospital de médio porte de um município da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul.
Resultados
A unidade onde as atividades práticas foram realizadas dispõe de 12 leitos ao total, sendo cinco femininos e cinco masculinos, além de outros dois leitos privativos. A equipe é composta por três enfermeiros, 12 técnicos de enfermagem, um médico psiquiatra e um clínico geral, uma assistente social, uma psicóloga e uma pedagoga. Em relação à estrutura física, a unidade possui 2 quartos coletivos, 2 privativos, 5 banheiros, refeitório/sala de atividades, área externa (pátio), 3 consultórios e recepção. No refeitório/sala de atividades conta com mesas, bancos, televisão e armários que são utilizados para o armazenamento dos materiais como papel, cartolina, tinta, lápis, entre outros materiais. Neste local, são realizadas as refeições dos usuários e também atividades que envolvem principalmente a pintura, o artesanato e a música, os materiais ficavam à disposição para serem utilizados por todos a qualquer momento, durante o dia. As atividades eram realizadas pelos próprios usuários juntamente com a pedagoga e as acadêmicas. É importante ressaltar, que a arteterapia se elabora em um processo independente da especialização em diversos campos de atuação e diferentes tipos de abordagens.
A arteterapia foi utilizada durante as atividades práticas das alunas, promovendo estímulo motor e cognitivo, integração social e possibilitando a troca de experiências entre alunas e usuários e a manifestação de suas emoções através da arte. Desde o primeiro dia de prática, foi possível observar diversos desenhos nas paredes dos leitos masculinos, sendo possível identificar que através dessa forma de arte o usuário também estava buscando uma forma de se expressar, além disso os desenhos manifestavam a individualidade de cada usuário.
Algumas atividades realizadas ocorreram em datas comemorativas conforme calendário e se programava a atividade dentro de um determinado tema, que se relacionasse a data em questão. Diante disso, foi possível notar o fortalecimento dos vínculos entre os usuários e profissionais. Alguns usuários viam a arte como uma forma de reflexão e distração, mas também demonstraram o interesse de transformar as suas produções como uma forma de renda, dessa forma demonstrando que além da criação artística como forma de promoção de saúde, eles podiam enxergar suas criações como uma possível forma de empreendedorismo. Do mesmo modo, observou- se uma significativa melhora da autoestima através da arteterapia. A partir do momento em que é determinada uma tarefa e a mesma consegue ser concluída, há a realização e satisfação pessoal, fazendo com que o indivíduo sinta- se útil. Foi possível perceber que independente da linguagem artística aplicada, esta constitui-se como uma ferramenta importante que traz consigo resultados positivos em um pequeno espaço de tempo, destacando a relevância desse recurso em usuários com sofrimento psíquico intenso, essencialmente daqueles que estão incapacitados de elaboração verbal e cognitiva. Tendo em vista a arteterapia tornando- se cada vez mais presente na clínica, através da experiência, constata- se que o usuário torna- se sujeito ativo do processo terapêutico, estimulando o indivíduo a expressar seus sentimentos e emoções, uma vez que em casos de internação há o sentimento de impotência, a perda de liberdade e redução da autonomia.
Ademais, a vivência permitiu às alunas analisar o funcionamento prático da Unidade de Saúde Mental, a relação entre os pacientes e profissionais da saúde e principalmente a sensibilização frente às pessoas com transtornos mentais e a reconhecer as singularidades de cada indivíduo.
Considerações finais
A arteterapia apresentou- se como uma ferramenta de extrema importância para o tratamento de usuários em uma unidade de saúde mental. Percebeu- se desde o primeiro dia de prática na unidade de saúde mental, que as atividades realizadas fortalecem o processo criativo, instituindo uma comunicação entre o real e o imaginário, configurando assim o ato criativo em expressão pessoal. Promovem a redução do estresse, propiciando mudanças positivas no âmbito afetivo e facilitando a comunicação dos usuários entre si e de usuários para com os profissionais da saúde. Observou- se que o desenvolvimento da arteterapia junto aos usuários internados em uma unidade de saúde mental permitiu a manifestação de questões subjetivas, através da expressão de ideias e sentimentos por parte dos participantes. Além disso, a mesma sendo aplicada adjunta a outros recursos terapêuticos, tais como: terapia ocupacional, psicológico e medicamentos, colaboram de forma significativa para um bom prognóstico, possuindo um caráter curativo. Terapias expressivas, proporcionam transformações relacionadas a emoções, integrando o ser humano fazendo com que o mesmo, venha obter um sentido a sua vida.