Apresentação
A taxa de incidência das Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) são inegavelmente uma questão de saúde pública e coletiva, que envolve não somente fatores biológicos e está intrinsicamente associada a fatores culturais e socioeconômicos. Com 25% dos diagnósticos dados a indivíduos até 25 anos de idade, e constituindo um dos principais motivos da procura pelos sistema de saúde, as IST afetam significativamente a saúde sexual e reprodutiva.
A adolescência é uma fase crítica que acentua a necessidade de individualidade, bem como envolve constantes cobranças associadas a uma possível inserção prematura na na vida familiar e laboral. Desta forma, a vida do adoslecente está permeada por desenvolvimento da personalidade, identificação do ato sexual e da sexualidade, das limitações do próprio indivíduo e pela busca por integração social.
Dessa forma, essa fase tem características próprias e é possível associar o aumento das IST nessa população com a dinâmica psicossocial envolvendo o desejo de autonomia e o aumento de práticas de risco (o que inclui ter múltiplos parceiros sexuais), além do uso menos frequente de preservativos e da ingestão de álcool e outras drogas durante a relação sexual.
Para além dos comportamentos supracitados, outro fator que contribui para o aumento das IST são as complexas estruturas das redes sexuais, as dificuldades de acesso ao sistema de saúde que incluem a falta de acolhimento e orientação adequada nesses serviços, o baixo conhecimento dos adolescentes, incompatibilidade de horários com as unidades de atendimento à saúde, preocupações com a discriminação e inseguranças quanto ao anonimato e à confidencialidade do serviço.
Nesse contexto, é necessário considerar a importância da abordagem da temática no contexto escolar, especalmente ao se destacar as escolas enquanto espaços fundamentais para diálogos que envolvam promoção da saúde e expressão da diversidade cultural. Ademais, ressalta-se que, além de gerar e disseminar conhecimento, a educação, em suas variadas formas, possibilita melhoria da qualidade de vida, contemplando uma dimensão humana que extrapola a aquisição do conhecimento.
Vale ressaltar que, embora se tenha um contexto que incentive essas discussões e que professores possam reconhecer a necessidade de falar sobre sexualidade, muitos docentes ainda se sentem inseguros e hesitantes em abordar tal tema, por ocasionar algum tipo de desconforto. Além disso, a sociedade em que vivemos repreende assuntos de tal natureza e tende a não contemplar essas temáticas, relacionando-as com pecado, proibições e imoralidade, gerando tabus, preconceitos e até sentimentos negativos relacionados ao tema e, consequentemente, acarretando um fechamento de espaços de fala.
Diante disso, objtiva-se propôr, através desse relato de experiência, uma análise crítica do dialogo gerado acerca das IST na adolescência em uma escola da rede estadual do municipio de Miguel Alves no estado do Piauí.
Desenvolvimento
Trata-se de um estudo descritivo do tipo relato de experiência, resultado de uma roda de conversa acerca das IST na adolescência, realizada na Unidade Escolar Joaquina Lira de Carvalho, comunidade Angelim, Zona rural do município de Miguel Alves no estado do Piauí em junho de 2023.
Rodas de conversa são uma ferramenta de discussão coletiva em espaços criados para o diálogo que permitem que os participantes externalizem suas opiniões e escutem a si mesmo e aos outros. O momento da palestra fez parte do cronograma do ‘’I Simpósio em Saúde’’ organizado pela direção e os alunos da escola, que contou com a presença de 28 estudantes de 15 a 23 anos, do primeiro, segundo e terceiro anos do Ensino Médio.
A roda de conversa começou com uma dinâmica de apresentação dos participantes e, em seguida, deu-se início à conversa que possibilitou a escuta e compartilhamento de experiências nas quais aqueles adolescentes estavam inseridos, seguido de discussão no contexto e da temática das IST.
Resultados
Percebeu-se que a roda de conversa foi de grande importância dentro do contexto escolar, pois foi um momento de troca de conhecimento entre o profissional e os estudantes. Estes relataram algumas situações vivenciadas por eles e por outros alunos dentro da escola, por vizinhos, comunidades onde vivem ou das próprias mídias sociais, e tiraram dúvidas a respeito dos temas de gravidez, preservativos e IST.
As falas dos participantes expressaram a importância de que atividades como estas sejam realizadas com frequência, com a participação dos alunos de todos os turnos e séries da escola, assim como a abordagem de outras temáticas, tais como saúde mental, bullying e diversidade de gênero.
As ações de Educação em Saúde sobre IST são fundamentais, pois direcionam o olhar para necessidades específicas do setor escolar, por meio de uma escuta ativa e compreensão dos fatores biopsicossociais dos adolescentes. Nesse contexto, as metodologias ativas são ferramentas estrategicamente eficazes para agregar conhecimento ao mesmo tempo em que reduzem comportamentos de risco e quebram tabus.
Durante o diálogo, os alunos trouxeram suas duvidas e vivências, ficando evidente que as informações acerca do tema abordado são escassas. os Houve relatos quanto à deficiência da abordagem de educação sexual na escola. Segundo participantes, nota-se um certo receio por parte dos professores quando são questionados sobre tal assunto. A escola, por sua vez, deveria ser um lugar seguro e de busca de informação científica, levando em consideração que, na maioria das vezes, não há diálogo relacionado a esse tema em casa.
Clareza, ética, profissionalismo e informações qualificadas passadas por professores e profissionais da educação sobre sexo e sexualidade são, portanto, indispensáveis no âmbito educacional. No alcance desse feito, professores precisam também ser escutados quanto a seus pontos de vista sobre essa temática na sala de aula para que os mesmos sejam orientados sobre sua importância.
A abordagem da tema com os profisisonais da educação contribuiria, inclusive, para tranquilizar os familiares dos alunos sobre a importância do ensino da temática pelos professores, e pode contrinuir para uma abordagem facilitada da temática também no contexto domiciliar, evitando que os adolescentes busquem respostas em notícias e redes sociais carregadas de preconceitos e imprecisões.
Considerações finais
A partir da experiência, foi evidenciado que desenvolver atividades educativas e de promoção da saúde com temáticas de acordo com a necessidade local, como é o caso das IST, proporciona o fortalecimento de vínculos dos trabalhadores da saúde com a comunidade escolar, além de esclarecimento de dúvidas, trocas de experiências e discussões que podem auxiliar no cuidado, conscientização e prevenção desses agravos.