DESAFIOS E RESILIÊNCIA NO TERRITÓRIO: MULHERES VIVENDO COM HIV NAS FRONTEIRAS, EM TEMPO DE COVID 19

  • Author
  • Cristianne Bressan Vital de Souza
  • Co-authors
  • Júlio César Schweickardt
  • Abstract
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    O Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), é o agente causador da AIDS, que é a sigla para Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. Sua presença no cenário mundial foi observada a partir de 1981, quando foi identificado predominantemente entre homens homossexuais na cidade de Nova York. Por meio de pesquisas subsequentes, o vírus foi isolado e estabelecido como o responsável pelo desenvolvimento dessa síndrome. Quando a AIDS surgiu no mundo ocidental, a comunidade médica e científica enfrentou uma situação sem precedentes. Foi como se tivessem se deparado com os destroços de uma explosão que acabara de ocorrer em suas mãos. Naquele momento, não havia diretrizes claras, apenas suposições e incertezas. O medo e a morte eram as únicas certezas palpáveis. As manchetes dos jornais noticiavam milhares de casos de infecção e mortes. O ciclo de terror desencadeado pelo HIV começou com um profundo desconhecimento sobre a doença, resultando em consequências tão devastadoras quanto a própria enfermidade. O estigma, a discriminação e a perseguição atingiram grupos e comunidades inteiras, que foram injustamente culpados por carregar esse mal que afetou uma geração inteira. No Brasil, desde 2016, observa-se uma tendência de ressurgimento da epidemia de HIV, acompanhada pela redução dos investimentos internacionais e pelo fortalecimento de setores conservadores em relação às políticas públicas de saúde, resultando em uma abordagem cada vez mais restrita dos direitos humanos no enfrentamento do HIV . Desde o início da epidemia, em 1980 até junho de 2021, o Brasil acumulou um total de 1.045.355 casos de AIDS notificados no país. Desses casos, só no ano de 2020 chegou-se a 29.917, notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), declarados no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e registrados no Sistema de Controle de Exames Laboratoriais de CD4+/CD8+ e Carga Viral do HIV (SISCEL) /Sistema de Controle Logístico de Medicamentos (SICLOM), com uma taxa de detecção de 14,1/100 mil habitantes. O boletim epidemiológico de 2021 demonstra que o HIV continua afetando centenas de pessoas todos os anos, sendo notificados no SINAN de 2007 até junho de 2021, 381.793 casos de infecção pelo HIV. Em 2020, foram diagnosticados 32.701 novos casos de HIV. Em termos de distribuição de gênero, os homens representam 65,8% (688.348) e as mulheres 34,2% (356.885). A luta contra o HIV é uma empreitada que se estende ao longo de um período considerável, e é um dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) da Agenda 2030, que almeja erradicar a AIDS e outras doenças transmissíveis.  Esse cenário, enfatiza a importância de discutir essa temática, já que se trata de um problema contemporâneo que continua a afetar a vida de muitas pessoas, incluindo as mulheres.  As mulheres constituem um grupo que requer atenção significativa em relação ao tratamento do HIV, a compreensão da situação desse tratamento oferecido a elas fornece informações cruciais para a tomada de decisões que visam aprimorar a qualidade de vida desse público. Quanto ao objetivo da pesquisa:  este estudo intencionou descrever as consequências geradas às mulheres que dependem dos serviços de saúde voltados especificamente para o tratamento do HIV, na região de fronteira Tabatinga/Letícia, em decorrência da Covid 19, no período de 2020 a 2022. Metodologia : Trata-se de um estudo qualitativo, sobre a atenção à saúde da mulher na região do tríplice fronteira do Alto Solimões, na Amazônia. A abordagem qualitativa esteve focada no comportamento humano e suas percepções quanto ao objeto de estudo pesquisado. Por ser um estudo qualitativo, não amostral, o projeto contou com a participação de 10 (dez) mulheres que viviam com HIV, que estavam vinculadas ao Serviço de Atendimento Especializado (SAE) e recebiam acompanhamento regularmente por esse serviço, e que residiam na área de fronteira Tabatinga/Leticia. Após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), essas mulheres foram abordadas primeiramente por um profissional de saúde do SAE designado pelo gestor do serviço durante suas visitas ao SAE. A abordagem também incluiu contato telefônico com aquelas que haviam autorizado previamente o contato, como parte do fluxo de trabalho do serviço. As entrevistas foram conduzidas em um ambiente seguro, (sala) no SAE e no diálogo com a pesquisadora , foi lido e assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Em nenhum momento, a pesquisadora entrou em contato diretamente com as usuárias para convidá-las a participar do estudo. Os dados foram processados por meio do agrupamento de informações obtidos através das entrevistas, levando em consideração as respostas desfavoráveis e favoráveis em relação aos impactos da pandemia no atendimento oferecido às mulheres vivendo com HIV. Resultados: No decorrer da pesquisa, foi possível compreender a realidade experimentada pelas usuárias do serviço ofertado pelo município, tornando-se essencial, pois possibilitou identificar as demandas oportunas e avaliar as estratégias implementadas para enfrentamento da Covid 19. Além disso, o estudo proporcionou insights por meio dos relatos de experiência compartilhados por essas mulheres, no que se refere  as principais barreiras enfrentadas no acesso aos serviços de HIV durante a pandemia. Isso nos proporcionou uma compreensão mais profunda das situações vivenciadas por elas nas fronteiras, durante um período de crise de saúde pública e instabilidade sanitária em uma região sujeita a mudanças constantes. Considerações Finais: Por meio dos resultados obtidos, buscamos fornecer alternativas e sugestões para aprimorar a assistência prestada às mulheres que vivem com HIV, além de compreender as respostas tanto dos serviços de saúde quanto das próprias usuárias diante da pandemia. Nosso propósito incluiu a investigação das possíveis mudanças ocorridas durante o período da pandemia de COVID-19. Dessa forma, pretendeu-se avaliar se as mulheres vivendo com HIV na região de fronteira entre Tabatinga e Letícia enfrentaram dificuldades em razão das  medidas sanitárias adotadas durante essa crise, particularmente, no que diz respeito ao acesso aos serviços especializados no lado brasileiro. Em suma, a pesquisa trouxe à luz percepções de acessibilidade à saúde, obtidas a partir das entrevistas com esse grupo específico, considerando as circunstâncias singulares de uma região de fronteira. Totalizou em 10 relatos de experiências, de forma voluntária, contendo registros das dificuldades enfrentadas por estas mulheres, durante a pandemia, permitindo ao pesquisador identificar um viés epistemológico, a resiliência presente nos relatos, bem como, as principais barreiras que oprimem o acesso dessas mulheres em vulnerabilidade social, aos serviços de saúde, comprometendo a integralidade do cuidado, preconizado na Constituição Federal de 1988.

     

  • Keywords
  • Mulheres, Saúde, HIV, Território, Fronteiras
  • Subject Area
  • EIXO 2 – Trabalho
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