Ação integrada no monitoramento dos casos de Aedes aegypti em Manicoré, Amazonas: relato de experiência

  • Author
  • Alexsandro Felix de Oliveira
  • Co-authors
  • Marcondes Ferreira Brasil , Mariles da Silva Bentes , Liliane da Silva Soares , William Pereira Santos
  • Abstract
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    Introdução: Até o momento (abril de 2024), o Brasil registrou o total de 2.747.643 casos de dengue, superando o total de casos registrados no ano passado inteiro (1.649.144). No Amazonas e em Manicoré, foram registrados, respectivamente, 6.444 e 98 casos da doença em 2023 e já registra 9.183 e 45 casos, respectivamente, em 2024. O registro epidemiológico e o impacto da doença nos diferentes territórios brasileiros e serviços de saúde, caracterizam a doença como uma crise sanitária relacionada ao vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. Trata-se de uma doença infecciosa aguda, presente em grande parte do mundo em áreas urbanas, periurbanas e rurais, recorrente nos países de clima tropical e subtropical, devido às condições ambientais que favorecem o desenvolvimento e a proliferação do vetor. O inseto se reproduz na água e o calor é, também, uma condição importante para eclosão dos ovos dos mosquitos. Para combater a dengue é necessário eliminar os focos de proliferação dos vetores: recipientes móveis em geral, como garrafas e potes; depósitos fixos, como caixas d’água, calhas, lajes e piscinas não tratadas; e plantas, como bromélias e ocos de árvores. Se ignorados, esses depósitos permanecem sendo um risco em potencial às pessoas e desafio aos serviços de saúde. Além disso, deve-se implantar/implementar estratégias de vigilância epidemiológica e educação ambiental nos territórios para diminuir os focos de proliferação e o descarte inadequado de resíduos, pois os mosquitos são adaptáveis e podem se reproduzir em recipientes que acumulam água, por menor que sejam. Os cuidados diários, porém, devem ser compartilhados com a comunidade, que também é protagonista no controle da doença.

    Objetivos: (I) Descrever as ações de monitoramento dos casos de Aedes aegypti encontrados nos depósitos coletados pelos Agentes de Combate às Endemias (ACE) durante as inspeções domiciliares, comércios, pontos estratégicos e terrenos baldios em Manicoré (Amazonas). (II) Compreender a relação entre o trabalho dos ACE e as práticas educativas durante as ações de controle e prevenção da dengue.

    Metodologia: Trata-se de um relato de experiência sobre as ações de controle da dengue realizadas em Manicoré, em 2022, conduzidas por Agentes de Combate as Endemias (ACE) e Gerência de Endemias vinculados à Secretaria Municipal de Saúde (SEMSA-Manicoré). O relato contou com a colaboração de um debatedor externo, também profissional de saúde. Essa interação permitiu ampliar as discussões e o entendimento acerca da dengue e suas repercussões biológicas, sociais e ambientais. As ações ocorreram presencialmente no município por meio de visitas dos ACE aos domicílios, pontos estratégicos, comércios e terrenos baldios, e tiveram o propósito de identificar focos dos vetores ou condições propícias para a reprodução dos mosquitos. Além disso, o trabalho oportunizou diálogo entre os profissionais de saúde e a comunidade, estabelecendo uma relação de confiança e práticas educativas na perspectiva da educação em saúde. Neste relato, os dados referentes ao registro de dengue foram extraídos do Painel da Dengue do Ministério da Saúde (https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/a/aedes-aegypti/monitoramento-das-arboviroses), e os dados relacionados à população foram obtidos do IBGE Cidades e Estados (Censo 2022) (https://cidades.ibge.gov.br/brasil/am/manicore/panorama). O levantamento desta pesquisa foi realizado em 9 de abril de 2024. Após essa data os casos de dengue poderão sofrer alterações em razão do registro de notificação da doença.

    Desenvolvimento: Manicoré (AM) possui, de acordo com o Censo (2022), 53.914 habitantes, sendo 1,12 habitante por quilômetro quadrado. Atualmente, o município conta com 13 ACE. Esses profissionais se distribuem de forma organizada pelo município para realizar atividades de controle e prevenção de endemias. Conforme dados da Gerência Municipal de Endemias de Manicoré, são cadastrados, atualmente, 10.068 imóveis para inspeção, distribuídos nos bairros: 11 de Maio, Auxiliadora, Centro, Dom Bosco, Manicorezinho, Mazzarello, Novo Horizonte, Presidente Lula, Rocinha, Rosário, Santa Luzia, Santo Antônio, São Domingos Sávio e São Sebastião. As práticas, porém, não se restringem a essas atribuições, mas se ampliam e mantêm relação com a educação em saúde. Inicialmente, os ACE planejam suas atividades junto à SEMSA de Manicoré, considerando a dimensão territorial e a distribuição populacional, bem como o perfil epidemiológico, que já é de conhecimento do município. Durante as visitas, que são sistematizadas, os ACE identificam as áreas propensas ao desenvolvimento do Aedes aegypti e, ao identificar os ovos, larvas e pupas dos agentes transmissores da doença, estes são recolhidos e encaminhados ao serviço de Entomologia, que se localiza no próprio município. A Entomologia é uma área da Biologia que se dedica ao estudo dos insetos, estabelecendo, junto à dimensão da Saúde e no caso da doença relatada, relação com os seres humanos. Os ACE, após as visitas, podem comunicar à Gerência de Endemias os locais e casos suspeitos de dengue, bem como de Zika vírus e Chikungunya. A identificação e o registro são importantes para que os casos possam ser notificados compulsoriamente e monitorados pelos serviços de saúde. A vigilância, por sua vez, deve analisar a circulação e o aumento de casos nas regiões. As visitas, ocorrendo nas residências ou postos comerciais, são uma oportunidade para que ocorram práticas educativas, criando possibilidades de diálogos e trocas de experiências, fazendo emergir conhecimentos que possam contribuir com a segurança sanitária do território e das pessoas. Essa relação se torna mais concreta com a troca entre as pessoas e os ACE, que são orientados a levar informações baseadas em suas próprias experiências, bem como orientações com base nas diretrizes e protocolos estabelecidos para o controle, prevenção e vigilância em saúde com relação às endemias. O intuito dessa estratégia é fornecer condições, em termos de conhecimento, para que as pessoas possam também assumir a responsabilidade de zelar diariamente pela segurança da própria moradia e do território. Trata-se, então, de uma ação conjunta e frequente. As orientações incluem manter atenção no combate aos focos de reprodução do mosquito, ressaltando que os ovos desses vetores, mesmo que fiquem sem água, podem eclodir quando novamente entram em contato com umidade. As orientações ressignificam as ações de educação e sensibilizam as pessoas ao processo diário de cuidado às vidas, produzindo vínculo de alteridade com o território. A proposta educativa, ao emergir no contexto local, revela também a necessidade de aproximação e compreensão dos saberes locais, das condições socioculturais e das especificidades do território. Dessa forma, não se reproduz colonialismo sobre a prática educativa, mas estabelece um processo de aprendizagem coletiva a partir da realidade das pessoas envolvidas. Além disso, coloca em relevância o aspecto social, considerando questões éticas da vida, do trabalho, das pessoas e das relações.

    Conclusão: A dengue é um grave problema de relevância pública que desafia os serviços de saúde no Brasil. Os ACE têm papel central nas ações de controle da doença e na integração entre saúde e comunidade. O trabalho desses profissionais também implica na redução de vulnerabilidades e fortalecimento das capacidades de resposta e prevenção de riscos à saúde.

  • Keywords
  • Agente de Combate às Endemias (ACE); Amazonas; Aedes aegypti; educação em saúde
  • Subject Area
  • EIXO 1 – Educação
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