Apresentação: A Organização Mundial da Saúde no Relatório Mundial sobre Violência e Saúde, define violência como o uso intencional da força ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação (OMS, 2002). Em 2006, o Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), instituiu o Sistema de Vigilância contínua de violência doméstica, sexual e outras violências interpessoais no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (VIVA/SINAN) com objetivo de conhecer a magnitude, a gravidade das violências e fornecer dados para debates com foco na saúde, prevenção, atenção, proteção a pessoas que sofrem violência e na fomentação de políticas públicas. Os dados do VIVA são colhidos através de fichas de notificação individual de violência interpessoal/autoprovocada, assim, toda e qualquer violência contra criança, adolescente, mulheres, pessoas idosas e grupo vulneráveis como: indígenas, pessoas com deficiência e população LGBTQI+ deve ser notificada a vigilância epidemiológica local. Destaca-se que a notificação é compulsória para profissionais da saúde, de instituições de ensino e de assistência social, segundo a Lei n°11.147 de 07/07/2020 do Governo do Estado do Espírito Santo. Com intuito de discutir tal fato, o Laboratório de estudos sobre Violências, Saúde e Acidentes (LAVISA), criado na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), visa a qualificação acadêmica de alunos, profissionais da rede de atenção à saúde e proteção contra a violência e formação de novos pesquisadores para a temática dos acidentes de transporte, violências, saúde pública, epidemiologia, conflito social, cidadania e direitos humanos. Por conseguinte, à partir do LAVISA, criou-se o projeto de extensão "Vigilância das violências: manejo, notificação e monitoramento", que é apoiado pelo Ministério da Saúde e conta com a parceria de 3 setores: Núcleo de Prevenção à Violência e Promoção da Saúde (Nuprevi), Programa de Atendimento à Vítima de Violência Sexual (Pavivis) e Vigilância das Violências e Acidentes (VIVA) da Secretaria de Estado da Saúde (SESA), permitindo aos acadêmicos terem contatos com ambientes e vivências que vão além da universidade federal. O objetivo deste estudo é apresentar o relato de experiência de duas alunas que participam do projeto de extensão "Vigilância das violências: manejo, notificação e monitoramento" atuando na Vigilância das Violências e Acidentes da Secretaria de Estado da Saúde. Desenvolvimento do trabalho: As alunas frequentam o setor de Vigilância das Violências da SESA duas vezes por semana e realizam atividades de acordo com as demandas do setor, como: organização da página do site da violência da SESA; identificação das fichas de notificação não encerradas no ano de 2024 até março; e seleção de artigos sobre violência no estado do Espírito Santo (ES) para serem adicionados na página de violência do site da secretaria, além da leitura de arquivos para produção de informativos sobre a linha de cuidados em violência no estado. No que concerne à organização da página da violência, foram lidos documentos referentes a legislações, fluxos de atendimentos, boletins epidemiológicos, ficha de notificações, informativos sobre violência contra mulher/violência sexual e artigos, alguns desses itens já estavam disponiveis na pagina para consulta e outros foram acrescentados e, a partir disso, esses arquivos foram separados por categorias e reorganizados a aba do site da SESA intitulada “Cultura da Paz”. Também foi proposto a seleção de artigos publicados pelo LAVISA sobre a violência no estado, para que fossem adicionados a aba “Cultura da Paz”, visando adicionar mais informações sobre a temática na página. Quanto às fichas de notificação, foram identificadas aquelas não encerradas, essas foram enviadas por email, aos setores regionais correspondentes de cada município, para que fossem solicitadas o encerramento das fichas de 2024 preenchidas até o presente momento. Ainda, foi realizada a produção de documentos informativos sobre a linha de cuidados em violência do ES, para que seja disponibilizado e utilizado para sanar dúvidas e disseminar informações necessárias para o acolhimento e cuidado das vítimas. Além das atividades que estão sendo realizadas, há discussões quanto a possibilidade de contribuição na realização de boletins epidemiológicos semanais, assim como o monitoramento de 78 pessoas (1 indivíduo por município) por bimestre e elaboração de Procedimento Operacional Padrão (POP) que contribua na gestão de trabalho desenvolvido pela setor. Resultados: O acompanhamento, as experiências e discussões formadas durante os encontros, dentro do setor de vigilância epidemiológica de violência na SESA, tem proporcionado conhecimento e uma formação mais completa por possibilitar a identificação dos desafios que são encontrados ao se discutir violência na área da saúde, promovendo um olhar amplo sobre a importância de cuidado com vítimas. Outrossim, permite o contato com a epidemiologia, banco de dados, tabelas e o site do e-SUS/Vigilância em Saúde, que apresenta diversas informações estatísticas sobre a realidade do estado frente a violência, levando a reflexão sobre medidas e políticas públicas que devem ser produzidas e trabalhadas. Considerações finais: A violência pode gerar consequências devastadoras. Além de poder causar a morte, também incapacita, gera lesões e danos que contribuem para o desenvolvimento de doenças crônicas e traumas que levam a altos custos emocionais e sociais que atingem não só as vítimas como também suas famílias. Aumento de gastos com emergência, assistência e reabilitação são consequências geradas com o aumento da violência, o que deixa claro a mesma gera prejuízos em diversos setores da sociedade. A possibilidade de vivência sobre a epidemiologia das violências dentro da Secretaria do Estado de Saúde do Espírito Santo agrega na formação profissional e mostra a importância da atuação de uma equipe multiprofissional diante dessa temática, visto que tal fato interfere de diferentes formas na saúde física e psicológica do indivíduo. Além de proporcionar aos graduandos outra visão da saúde e cuidados frente à violência, tendo em vista que a temática não é muito abordada na graduação e muitas vezes classificada como “problema de polícia”. Acredita-se que a formação com um olhar mais transversal por profissionais da saúde pode levar a atendimentos mais completos e eficazes para essa população. Gerar a notificação com dados mais completos, sensibilização em relação à relevância do tema como pauta importante de ações de saúde e promoção de informações que podem contribuir para a diminuição no número de vítimas.