Arqueologia do sensível ou sobre o infraordinário no cuidado em saúde

  • Author
  • Elisandro Rodrigues
  • Co-authors
  • Roger Flores Ceccon , Carlos Alberto Severo Garcia
  • Abstract
  •  

    Está távola busca realizar uma conversa e uma aproximação institucional entre Universidade Federal de Santa Catarina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Escola GHC para pensar os processos de cuidado em saúde. Parte de uma ideia de narrativa em saúde, buscando no conceito de Medicina Narrativa desenvolvido, por Rita Charon, um agenciamento de pensamento problematizando a competência narrativa como capacidade de identificar e representar a passagem do tempo e rememorar acontecimentos a partir das histórias contadas pelos pacientes a fim de interpretar as histórias de doença para uma relação mais cuidadosa em saúde. Busca-se assim nas pequenas narrativas, que estão presentes nos diferentes contextos do cotidiano, discorrer sobre o cuidado em saúde. Sabemos que as narrativas são importantes no nosso processo de constituição subjetiva, desde o nascer até nosso último suspiro estamos criando narrativas. As grandes narrativas são as que constituem o mundo enquanto tal. A vida é uma grande narrativa e cada dia, cada gesto no nosso cotidiano é, de certa forma, uma pequena narrativa, uma pequena história, uma história curta. Narrar é trabalhar com a memória viva que nos é passada desde os inícios dos tempos. No nosso ofício do cuidar, ou seja, no nosso processo de trabalho em saúde, a narrativa oferece múltiplas possibilidades para uma prática mais humanizada ao entendermos as histórias que nos são contadas nos mais diversos atendimentos que realizamos. Lidamos, deste modo, a todo momento, com uma política da narratividade. E, no Sistema Único de Saúde, a nossa prática cotidiana é encharcada de narrativas e, quem sabe, o que nos falta é qualificar a nossa escuta e o processo de cuidado em saúde ancorados pela prática literária, pela competência narrativa ao olhar mais de perto as palavras. Propõe-se uma távola para olhar mais de perto as palavras, o cotidiano de cuidado em saúde e a arqueologia do sensível como quem toma na mão o gesto e o deslocamento do olhar, da escuta. Se a saúde é um ato político, pensar mais de perto na palavra, tomar ela na mão enquanto território vivo do cuidar é, de certa forma, dizer que narrar a vida, narrar o infraordinário é também um ato político. Em outras palavras, pensar uma Arqueologia do sensível e o infraordinário no cuidado em saúde é dizer que é no encontro com a palavra da outra, do outro que se cria os atos de cuidado. É o que Deleuze comenta pensando a saúde como literatura, ou o que Georges Perec, em seu texto sobre o infraordinário, fala sobre fundar nossa própria antropologia, quem sabe, parafraseando ele seja o momento de criarmos nossa própria arqueologia do sensível. Interrogar aquilo que parece haver deixado de nos surpreender: a vida do outro, da outra. Quem sabe, o que nos falta seja o que Emerson Merhy nos diz, em uma entrevista realizada em 2013 no Encontro Regional da Rede Unida em Inhotim, quem sabe o que falta é, como nos lembra também Didi-Huberman, tornar sensível o nosso corpo.

  • Keywords
  • Arqueologia do sensível, Infraordinário, Cuidado em saúde.
  • Subject Area
  • EIXO 5 – Saúde, Cultura e Arte
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