LUTAS, LINHAS E AGULHAS: CARTOGRAFIA DE COLETIVOS DE MULHERES BORDADEIRAS EM TERRITÓRIOS DE RESISTÊNCIA.

  • Author
  • Carla Pontes de Albuquerque
  • Co-authors
  • Keliomar Luiza Francisco Gomes , Marisa Flávia Silva
  • Abstract
  •  

    Este projeto busca mapear coletivos de resistência em territórios alvos de gentrificação. Na Gamboa, bairro que integra o Porto Maravilha, vivências transformadoras acontecem em um grupo de mulheres, no qual o bordado opera como dispositivo de expressão cultural e política, reverberando potencialidades pessoais e convergindo lutas por direitos coletivos. Com a perspectiva cartográfica, vão sendo tecidas as tramas dos encontros semanais de bordar; das participações em manifestações populares, feiras artesanais, redes com outros coletivos femininos e do cuidado recíproco comunitário. O coletivo Linhas da Gamboa foi constituído em 2022, quando a pandemia de Covid 19 já apresentava descenso, com o aumento da cobertura vacinal específica. Ainda que a mortalidade devida ao contágio fosse menor, as repercussões das graves perdas sofridas decorrentes da emergência epidemiológica e da perversa conjuntura política econômica que o país atravessava, se faziam profundamente presentes, principalmente em territórios já previamente vulnerabilizados. Integrantes do projeto de extensão “Produção de sentidos e diversidades expressivas na formação interativa e interdisciplinar na saúde” e outros projetos da Comunidade de Aprendizagem Sumaúma relacionados ao Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), que buscam problematizar a colonização de saberes e práticas acadêmicas, têm experienciado processos de educação popular e saúde com grupos populacionais em lutas por equidade. Entre as aprendizagens técnicas do bordado, há uma intensa troca de experiências de vida, a conversa circula com diferentes narrações e narradoras. A cada encontro, novas agendas emergem como o apoio a causas político-sociais; participação em manifestações de rua; organização e realização de oficinas em eventos; preparo de exposições; dentre outros. Historicamente, o bordado foi associado às mulheres e suas habilidades domésticas, muitas vezes relegado a um papel de menor importância em comparação com as atividades masculinas. No entanto, as mulheres têm transformado esta leitura da história e usado o bordado como uma forma de expressão de narrativas e memórias, preservação e vitalização cultural, fortalecimento de lutas feministas, ativismo e resistência. Coletivos como este, são faróis de solidariedade feminina, promovendo o apoio mútuo. Além disso, eles contribuem para a narrativa mais ampla da Gamboa como um território de resistência, onde as comunidades se unem para proteger suas raízes culturais e históricas. Em suma, a cartografia revela que as mulheres bordadeiras na Gamboa não apenas costuram linhas e histórias, mas também os laços culturais e sociais que mantêm vivas as tradições e a resistência em meio às mudanças que precarizam ainda mais a vida de grupos populacionais vulnerabilizados tanto na cidade como no campo. Estas bordadeiras são verdadeiras guardiãs de um legado cultural. A universidade e as instituições acadêmicas certamente têm muito a aprender com coletivos como este.

     

  • Keywords
  • Coletivo de Bordado, Mulheres, Saúde Coletiva, Territórios de Resistência, Cartografia.
  • Subject Area
  • EIXO 5 – Saúde, Cultura e Arte
Back