Cartografias e territórios de vida : o portfólio como dispositivo para a formação crítica na saúde.

  • Author
  • Carla Pontes de Albuquerque
  • Co-authors
  • Daniel Netto de Aquino , Larissa Carvalho Pessanha
  • Abstract
  •  

    Esse relato traz vivências cartográficas de estudantes do primeiro período de Medicina da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), na disciplina de Prática em Saúde 1, do eixo de Saúde Coletiva e Humanidades, nas quais a temática ambiental e suas relações com o processo de saúde-doença-cuidado emerge de forma significativa. O registro das experiências nas aulas e no trabalho de campo foi realizado através de portfólios compartilhados por grupos de estudantes distribuídos segundo seus territórios de moradia, revelando ser o portfólio uma ferramenta educacional potente na implicação dos estudantes nos seus processos de aprendizagem. A formação de profissionais em saúde, especialmente na graduação, tem sido um campo de disputas diante as recomendações das diretrizes curriculares nacionais que indicam a importância da coerência com os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). Especificamente, a formação médica tem sido convocada a se deslocar de um eixo pautado em adoecimentos e diagnósticos para a construção de um conhecimento articulado com as necessidades de saúde da população, da gestão setorial e da participação social tendo em vista um perfil generalista antenado às realidades diversas populacionais no país. O território de vida se constituí como dispositivo para a problematização das redes assistenciais de saúde, suas fragilidades e potencialidades, explicitando que a produção de saúde demanda articulações que envolvem relações sociais e também o cuidado ambiental. Especialmente na atenção básica, a territorialização viabiliza análises socio epidemiológicas, revelando os fluxos relacionais na problematização da racionalidade biomédica exclusiva, constituída em reducionismos nosológicos. Com a abordagem territorial é possível elaborar políticas de planejamento integrando outros equipamentos públicos (lazer, educação, cultura) e as próprias redes vivas produzidas no cotidiano de vida dos grupos populacionais locais. Outra potencialidade da utilização dos estudos sobre o território é a identificação da relação da comunidade com a biodiversidade local. Particularmente, em espaços marcados por injustiças ambientais, como regiões de fronteiras, áreas de barragens, assentamentos rurais e periferias urbanas, a dinâmica do poder econômico sobre o campo da vida diária é perversa. Esses espaços, geralmente permeados por interesses conflitantes, exigem dos profissionais de saúde e acadêmicos ampliarem suas análises que necessitam ser também políticas. Para além do biológico, é fundamental conhecer os fatores que influenciam a conservação dos ecossistemas. Para o acompanhamento do processo de aprendizagem pessoal e coletivo no que tange o trabalho na saúde nos territórios de vida, a ferramenta educacional – portfólio, favorece registros dos respectivos itinerários, podendo utilizar diferentes meios expressivos na produção de agenciamentos para uma formação reflexiva. Com a perspectiva cartográfica de aprender com o território e seus fluxos cotidianos, a realização dos estudantes, monitores e docente de seus portfólios na disciplina Prática em Saúde 1, ainda que com muitos desafios enfrentados (dado hábitos remanescentes da educação bancária), tem revelado promissores horizontes no que tange uma formação em saúde mais plena. Foi possível constatar a percepção dos estudantes sobre a degradação ambiental, as consequências negativas dessa à qualidade de vida e suas inferências ao processo de saúde-doença-cuidado.

     

     

     

  • Keywords
  • Territorialização, Saúde, Cartografia, Portfólio, Formação Crítica.
  • Subject Area
  • EIXO 1 – Educação
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