Atendimento integral às pessoas vivendo com HIV/Aids: perspectivas dos usuários de uma Unidade Dispensadora de Medicamentos inserida na APS

  • Author
  • Isabel Cardoso de Carvalho
  • Co-authors
  • Fernanda Manzini , Alessandra da Silva Kulkamp , Leandro Ribeiro Molina , Vanessa de Bona Sartor , Luísa Vitória Gehrke , Fabíola Michele Gessner , Silvana Nair Leite
  • Abstract
  • Introdução: Atualmente, há 39 milhões de pessoas vivendo com HIV/Aids (PVHA) no mundo e 29,8 milhões estão em tratamento. A melhora do acesso à terapia antirretroviral (TARV) vem apresentando um impacto significativo na reduc?a?o da mortalidade em decorre?ncia da Aids ao longo das u?ltimas décadas. No contexto brasileiro, apesar dos avanços, as desigualdades persistem, especialmente em populações em situações de vulnerabilidade, que lidam com barreiras de acesso aos recursos essenciais de prevenc?a?o e tratamento do HIV. O modelo descentralizado do cuidado à PVHA para a Atenção Primária à Saúde (APS), proposto pelo Ministério da Saúde e implementado em Floriano?polis a partir de 2015, esta? mais consolidado no que diz respeito ao diagnóstico e atendimento me?dico, embora os desafios ainda permaneçam no âmbito da Assistência Farmacêutica. Objetivo: Compreender a experiência da PVHA atendida em uma Unidade Dispensadora de Medicamentos (UDM) inserida na APS e a relação da oferta desse servic?o com o acesso e a adesa?o ao tratamento antirretroviral. Métodos: Foi conduzido um estudo exploratório de abordagem qualitativa, a partir de entrevistas em profundidade semiestruturadas com PVHA que retiram os antirretrovirais na UDM Saco Grande da rede municipal de Floriano?polis. A escolha do campo da pesquisa se justifica por ser a única farmácia localizada em Unidade Básica de Saúde (UBS) com dispensação de antirretrovirais do município. A análise dos dados envolveu uma leitura repetida das transcrições das entrevistas, visando obter uma compreensa?o aprofundada do conteúdo. A categorização temática das falas foi baseada nos atributos da APS (acesso, integralidade, coordenac?a?o do cuidado e longitudinalidade) e no reconhecimento do papel do farmacêutico no processo de cuidado. Resultados: Em Florianópolis, o modelo descentralizado do cuidado à PVHA na APS está organizado em 50 UBS, 4 Policlínicas e 3 Unidades de Pronto Atendimento, ale?m de laboratórios municipais e estaduais. As UDM estão predominantemente localizadas nos Serviços de Atenção Especializada nas Policli?nicas Municipais. Um avanc?o significativo ocorreu em 2019, com a implementação da primeira UDM na APS, situada na UBS Saco Grande. A necessidade da implementação de uma UDM na APS surgiu por motivação dos próprios farmacêuticos da UBS, egressos do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Fami?lia, que defenderam à epoca para os gestores municipais que a descentralização do cuidado na APS deveria incluir o acesso ao medicamento e assim contribuir com a ampliação do acesso e garantia da adesão à TARV. A UBS Saco Grande está localizada em uma área periférica e de vulnerabilidade social de Florianópolis, com uma população ativa de cerca de 20.000 pessoas. É importante destacar que a UBS possui uma estrutura organizada de forma a garantir um cuidado integral e continuado à PVHA. A unidade possui uma gestão colegiada, promovendo este espaço para discussões e tomadas de decisões, além de promover estratégias regulares de educação permanente em saúde. Por ser uma Unidade Escola, recebe residentes dos Programas de Residência Multiprofissional em Saúde da Família e de Medicina de Família e Comunidade, além de estudantes de graduac?a?o. Atualmente, a UBS possui sete Equipes de Saúde da Família (eSF), compostas em grande maioria por profissionais egressos da residência. A equipe de farmácia é composta por farmacêuticos especialistas em saúde da família, residentes e estudantes de graduação em farmácia. Além da dispensação dos medicamentos antirretrovirais, são dispensados também os medicamentos do Componente Ba?sico da Assiste?ncia Farmace?utica, incluindo medicamentos controlados, alguns medicamentos do Componente Especializado e tambe?m medicamentos do Componente Estrate?gico. Ou seja, e? um servic?o que vem buscando priorizar o máximo de acesso aos medicamentos e aos serviços farmacêuticos, centrado nas necessidades da populac?a?o local. Os farmacêuticos desta UBS estão inseridos ativamente nas eSF, participando das reuniões de equipe, visitas domiciliares e atendimentos coletivos e individuais. Nessas interações interdisciplinares, os farmacêuticos se colocam como pec?a fundamental na identificac?a?o dos Problemas Relacionados a? Farmacoterapia, possibilitando a implementação de intervenções adequadas junto à equipe. Toda essa organização estrutural permite a atuação do farmacêutico na coordenação do cuidado e isso é reconhecido pelos usuários nesta pesquisa. Desafios foram apontados pelos usuários como problemas no acesso a consultas, renovação de receitas e solicitação de exames laboratoriais, entretanto os usuários destacaram que os farmace?uticos da UDM forneceram subsi?dios para a superac?a?o dos problemas, por conta da proximidade e articulação com as eSF, e também com os especialistas. Ficou evidente a valorização da comunicação do farmacêutico com os demais profissionais de sau?de, a fim de buscar soluções integradas para atender de forma mais eficaz às necessidades especi?ficas destes usuários. Além disso, foram levantadas discusso?es relevantes sobre como outras condic?o?es de sau?de influenciam o acesso e o tratamento do HIV na APS. Dessa forma, uma abordagem integral e coordenada na APS torna-se essencial para garantir que as PVHA recebam o cuidado continuado, considerando na?o apenas o tratamento antirretroviral, mas tambe?m suas necessidades de sau?de gerais e especi?ficas. Foi destacado que os farmacêuticos apresentam uma escuta ativa, empática e sem julgamentos das mais diversas situações de saúde dos usuários. O vínculo e a confiança estabelecidos se tornam fundamentais para promover uma maior autonomia e participac?a?o do usuário em seu cuidado. Considerações finais: O modelo centralizado de acesso aos medicamentos antirretrovirais ainda e? predominante em Floriano?polis. Contudo, a iniciativa dos farmace?uticos da UBS Saco Grande em implementar uma UDM na APS representou um avanc?o significativo na ampliação do cuidado à PVHA. Isso sugere que o munici?pio tem potencial para expandir esse modelo descentralizado para outras UBS com a atuac?a?o de farmace?uticos. A atuação do farmace?utico no cuidado à PVHA na APS deve ir ale?m da gesta?o de medicamentos, abrac?ando os princi?pios fundamentais do acesso, integralidade, coordenac?a?o e longitudinalidade, contribuindo assim para a promoc?a?o de um cuidado integral e efetivo a?s PVHA. Desta forma, é fundamental que a UBS tenha uma estrutura organizada e adequada a receber a UDM, com uma equipe de farmácia devidamente constituída, integração do farmacêutico nas eSF, promoção de estratégias de educac?a?o permanente, presença dos Programas de Residência Multiprofissional e atuação de profissionais capacitados, que possuam os atributos essenciais da APS bem compreendidos e internalizados para que possam garantir o cuidado continuado à PVHA.

  • Keywords
  • Pessoa vivendo com HIV Aids, UDM, Atenc?a?o Prima?ria a? Sau?de, Servic?os Farmace?uticos, Acesso, Coordenac?a?o do Cuidado, Integralidade, Longitudinalidade
  • Subject Area
  • EIXO 2 – Trabalho
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