Este resumo descreve a implementação e os resultados de um grupo operativo-terapêutico focado na promoção da saúde, que integra aspectos tanto individuais quanto sociais, unindo o clínico ao político. Esta iniciativa ocorreu através de uma estagiária de Psicologia durante a fase final da pandemia de Covid-19 em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS II) localizado em uma cidade do interior do Rio Grande do Sul.
Apesar de a pandemia de Covid-19 ter afetado significativamente a rotina do referido CAPS, com a suspensão de atividades grupais e a limitação dos atendimentos e das interações sociais, ele continuou sendo um ponto de apoio essencial para cerca de sete usuários intensivos, desenvolvendo assim atividades semelhantes aos serviços de hospital-dia em saúde mental. Estes usuários apresentavam vínculos familiares e sociais fragilizados ou rompidos, vivendo em isolamento, encontrando no CAPS sua única opção de cuidado e socialização.
Reconhecendo a importância de preservar esse espaço de interação, foi criado por eles em colaboração com a estagiária de Psicologia o "Grupo para Além da Imaginação". Todos os participantes eram usuários intensivos do serviço, de diferentes gêneros, com idades entre 19 e 63 anos e portadores de transtornos mentais graves e persistentes, com histórico de internações, variando entre períodos breves em alas psiquiátricas de hospitais gerais até internações longas e degradantes em clínicas que remetiam ao modelo asilar.
O objetivo do grupo não foi ocupar os usuários com atividades para evitar a ociosidade ou docilizar comportamentos, mas sim promover a reabilitação psicossocial, visando o resgate da cidadania e dos direitos humanos dos participantes, alinhado às ações de desinstitucionalização, a fim de evitar que se tornassem estratégias disciplinadoras com práticas de normatização da loucura. Para isso, foram oferecidas diversas atividades terapêuticas e culturais em encontros semanais, entre fevereiro e junho de 2021, com liberdade para os participantes ajustarem o calendário de acordo com suas necessidades. Todas as precauções de segurança contra a Covid-19 foram seguidas pela estagiária e participantes.
As atividades incluíram exercícios de relaxamento guiado, arteterapia, como pintura de telas e da recepção do CAPS, música e contação de histórias. Contudo, elas se estenderam para além dos limites físicos do serviço, envolvendo incursões em espaços culturais e comunitários, contando com visita ao museu, à biblioteca pública, à uma emissora de rádio e outra de jornal. Entendeu-se que era de suma importância que as produções do grupo fossem compartilhadas com a comunidade. Realizou-se então a exposição das pinturas na área externa do serviço, além de entrevista com os participantes na rádio e em um jornal local, no contexto do Dia Nacional de Luta Antimanicomial, e posterior publicação da matéria. Este processo conferiu voz e vez aos usuários, descortinando para a comunidade o destaque do papel transformador social do CAPS.
O Grupo para Além da Imaginação, se apresentou como um solo fértil para trabalhar a desinstitucionalização e a reabilitação psicossocial dos participantes demonstrando a eficácia da integração de atividades terapêuticas, educativas, sociais e culturais no tratamento da saúde mental. Além disso, serviu como modelo de como as intervenções psicossociais podem ser adaptadas em tempos de crise para continuar sendo oferecido o apoio essencial. Este trabalho ressalta que futuras iniciativas devem considerar a criação e expansão de práticas e espaços de diálogo através das mídias e dos movimentos sociais e culturais, a fim de apoiar a saúde mental integrativa e combater o estigma associado aos transtornos mentais.
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