APRESENTAÇÃO: No contexto da Atenção Primária em Saúde (APS), o cuidado e a orientação para o binômio mãe-bebê são fundamentais para garantir o bem-estar de ambos. Isso envolve monitorar o desenvolvimento do bebê, fornecer suporte emocional à mãe, promover educação em saúde para que haja uma boa amamentação, realizar vacinações e orientar sobre práticas saudáveis, contribuindo para a prevenção de doenças e o desenvolvimento saudável desde os primeiros momentos de vida. A teoria transcultural é uma abordagem que reconhece a importância da cultura na prestação de cuidados de saúde. Ela oferece uma possibilidade valiosa de compreender e atuar diante dos aspectos das práticas de cuidado influenciadas pela cultura de forma mais abrangente. A utilização de estratégias lúdicas, como tecnologias educacionais, para manter essa mediação cultural e de educação em saúde entre enfermeiro e cliente é muito eficaz. Sabe-se que ferramentas educacionais como jogos são potencialmente interessantes para adquirir conhecimento, tanto pelo seu efeito motivacional, quanto pelos princípios pedagógicos que eles trazem consigo. Os princípios de ensino seguidos incluem: uma abordagem centrada no usuário, interatividade, repetição e feedback contínuo. Nesse sentido, o objetivo do estudo é o relatar a experiência durante a realização de uma atividade de Educação em Saúde mediada por um Jogo de Tabuleiro sobre os cuidados com binômio mãe-bebê à luz da Teoria Transcultural.
DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: Trata-se de um relato de experiência, observacional e descritivo, sobre a vivência de graduandos do curso de Enfermagem acerca da construção e aplicação de uma ação educativa com metodologia ativa de ensino-aprendizagem. A vivência foi desenvolvida em uma Unidade Básica de Saúde, na cidade de Belém-PA, no período entre 03 de outubro de 2023 e 21 de novembro de 2023, envolvendo acadêmicos de enfermagem do 4º semestre, a docente do componente do componente curricular Enfermagem Comunitária I e usuárias em acompanhamento de pré-natal e puerpério. As ações foram desenvolvidas como parte das atividades práticas do referido componente curricular, onde foram identificadas várias práticas de cuidado realizadas pelas grávidas e puérperas que eram influenciadas por aspectos culturais e que, algumas delas, poderiam ser consideradas danosas à saúde da mãe e do bebê. Assim, despertou-se o interesse em discutir essas práticas à luz da Teoria Transcultural, considerando que por meio da Teoria tais ações poderiam demandar intervenções/ações educativas para manutenção, adaptação ou retirada do cotidiano daqueles indivíduos. A vivência em questão teve como base metodológica a problematização proposta no Arco de Maguerez, sendo a experiência materializada em quatro fases: 1) identificando a demanda em saúde após observação da realidade; 2) identificação das principais práticas que, por influência de questões culturais, poderiam prejudicar o cuidado com o binômio mãe-bebê; 3) aproximação com a teoria transcultural e busca na literatura sobre as práticas prejudiciais; 4) elaboração da tecnologia educacional mediadora; 5) realização da ação e feedback dos participantes. Por fim, foi realizada a dinâmica com tabuleiro lúdico, momento no qual eram feitas perguntas, de acordo as normas do jogo, o que oportunizava gerar uma discussão sobre a temática. A ação foi finalizada com a distribuição de brindes para as participantes.
RESULTADOS: Diante da experiência, foi possível identificar que muitas mães aceitaram a mudança e/ou reformulação das práticas depois de ser orientada a forma correta de como cuidar do recém-nascido. Durante as ações as usuárias relataram ainda que nunca foram informadas a como efetuar esses cuidados com o filho. A maioria das participantes relatou que acreditavam ou já haviam acreditado em algum momento que seu leite era “fraco”. Além disso, também relataram não ter sido informada sobre a pega correta da mama pelo bebê, causando, assim, fissuras mamárias, levando ao desmame e a introdução alimentar precoce da criança, fato prejudicial à criança, visto que o leite materno é o ideal devido suas propriedades nutricionais e imunológicas que protegem o recém-nascido de infecções, além de reduzir a mortalidade infantil e fortalecer o vínculo mãe bebê. Tal realidade evidencia a importância de os profissionais da saúde levarem essa informação aos pacientes visando à lógica de promoção à saúde da APS. Durante a dinâmica, houve apenas um informe onde a mãe relatou não realizar nenhuma contraindicação. A maioria das participantes abordou conhecer sobre as práticas necessárias para a higienização da região umbilical do recém-nascido, praticada com o uso do álcool 70% e algodão, como também, relataram não aderir às práticas que trazem malefícios a saúde no neném, por exemplo, o uso de faixa umbilical, que pode abafar e ajudar na proliferação de bactérias. Posteriormente, ocorreu a orientação sobre a prática de usar talco, pois, houve o relato de não saber dos malefícios que isso pode trazer a saúde respiratória do bebê, assim, explicou-se sobre a contraindicação e os danos que essa prática pode causar ao recém-nascido. Ademais a maioria das mães relatou não ter confiança acerca de quando poderia começar a introdução de chás e quais deles era contraindicados, o que posteriormente foi explicado que a introdução deve ser feita a partir dos seis meses de idade, não podendo mesmo após essa idade, a introdução de chás pretos por estes conterem cafeína e deixarem a criança agitada, além disso, o uso de chás não deve ser feito várias vezes ao dia. Desta maneira, foi possível verificar que após a explicação do motivo de alguns métodos culturais não serem indicados não houve resistência das mães em trocar os mesmos, colocando em evidência a importância da educação em saúde desde as primeiras consultas da puérpera para melhor promoção do binômio. A abordagem utilizada ao longo do estudo foi a transcultural, tendo como princípio o respeito da diversidade cultural de cada indivíduo, conduzindo as ações de forma a produzir a permanência ou adequação do cuidado cultural, entendendo que cada pessoa tem um jeito próprio de cuidar de sua saúde, evitando práticas de cuidado impositivas e respeitando as crenças de cada indivíduo, de modo que o paciente será mais adepto às novas práticas de cuidado. Considera-se importante o uso dessa teoria na abordagem feita, visto que muitos cuidados praticados com o recém-nascido advêm de costumes culturais principalmente da região amazônica. Adicionalmente, a utilização do jogo de tabuleiro como tecnologia educativa lúdica se mostrou eficaz no momento de facilitar a troca da educação em saúde, visto que foge do modo tradicional de abordagem das consultas proporcionando um ambiente mais interativo e receptivo para a gestante/puérpera expor suas vivências e tirar dúvidas, assim como possibilita um retorno extremamente positivo das usuárias que se divertiram no processo de jogar o dado, retirar as perguntas e ganhar o brinde no final da dinâmica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Durante a vivência, pôde-se observar o quão são importantes os elementos culturais passados de geração em geração, principalmente, os conhecimentos voltados às gestantes e aos cuidados com o recém-nascido. o trabalho em ações educacionais em saúde para mães e responsáveis têm um papel de extrema importância para a sociedade brasileira e para a formação de futuros profissionais da saúde, pois os hábitos de vida, amamentação, higiene e cuidados gerais tem fatores culturais enraizados, tais aspectos que podem levar ao aumento ou a diminuição da saúde dessa criança. As condições de bem-estar do bebê estão diretamente ligadas com as políticas públicas vigentes em território nacional.