ARTETERAPIA NO CUIDADO INTEGRAL EM SAÚDE MENTAL: UMA EXPERIÊNCIA NO CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL II

  • Author
  • Jaqueline Krepski Cardoso
  • Co-authors
  • ANDREA NOEREMBERG GUIMARAES , Tania Maria Ascari
  • Abstract
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    Apresentação: o cuidado com a saúde mental no Brasil sempre enfrentou desafios significativos, muitos pautados no estigma social. Por longo tempo, a assistência aos indivíduos com problemas mentais estava centrada em manicômios, instituições que deixaram marcas profundas na história do país devido à violência contra os pacientes e à sua consequente exclusão social. No entanto, a evolução rumo à reforma psiquiátrica, fruto de décadas de lutas e reflexões sobre o isolamento dessas pessoas e suas denúncias, culminou na promulgação da Lei nº 10.216, em 2001, que visa proteger os direitos das pessoas afetadas por transtornos mentais, marcando assim o início de uma mudança de paradigma. Dessa forma, surgiram iniciativas para promover um atendimento mais integral e holístico, como as Redes de Atenção Psicossocial, estabelecidas pela Portaria nº 3.088, de 2011. Essas redes buscam garantir que os indivíduos afetados por transtornos mentais não sejam mais deixados ao esquecimento ou à exclusão social, como ocorria anteriormente. Nesse sentido, destaca-se a importância dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), instituições espalhadas pelos municípios brasileiros que têm como objetivo central atender pessoas com transtornos mentais graves e persistentes, incluindo casos de dependência de álcool e drogas, conforme a demanda local. No âmbito dos CAPS, são oferecidas diversas atividades terapêuticas, visando estimular a autonomia e a criatividade dos pacientes. Entre essas atividades, destaca-se a arteterapia, que se mostra indispensável por proporcionar aos pacientes um ambiente propício para o desenvolvimento de relações de confiança, trocas interpessoais e expressão emocional. Além disso, a arteterapia revitaliza os participantes, conferindo-lhes um senso de propósito e possibilitando uma forma única de comunicação não verbal. Nesse contexto, o presente relato de experiência foi realizado em um CAPS II situado em um município do oeste catarinense, durante atividades teórico práticas da disciplina de Saúde Mental, do curso de graduação em Enfermagem da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), no segundo semestre de 2023; no qual foi possível vivenciar os benefícios da arteterapia como uma ferramenta terapêutica essencial para o cuidado holístico dos pacientes atendidos. Portanto, busca-se compartilhar a experiência vivenciada em oficinas de arteterapia realizadas no CAPS II, destacando sua relevância no contexto do tratamento e expressão dos indivíduos com transtornos mentais. Desenvolvimento: este relato de experiência destaca as atividades práticas em saúde mental realizadas no CAPS II, onde esses centros perpetuam a ideal de promover a construção de vínculos e o acolhimento integral dos indivíduos. O enfoque não se limita à doença, mas abraça o sujeito em sua totalidade, considerando suas vivências, pensamentos e necessidades, enquanto busca estabelecer uma troca de ideias e experiências que valorizam as realidades únicas de cada um e de suas famílias, combatendo assim a invisibilidade social. Ao adentrar o CAPS, é perceptível um ambiente arborizado, com espaços como campo de futebol, pomar, hortas e jardins, que contribuem para uma atmosfera acolhedora e terapêutica, onde é possível observar diferentes perfis de pacientes: aqueles que frequentam apenas para consultas e medicação, e outros que participam das oficinas oferecidas. A adesão à modalidade terapêutica de arteterapia é voluntária,  porém as famílias dos pacientes e a equipe multidisciplinar consideram relevante para o tratamento da saúde mental, sendo ofertada de segunda a sexta. Aos que frequentam as oficinas são oferecidas atividades artísticas, que incluem o uso de materiais como madeira, corda, barbantes, tecido e a oportunidade de jogos e costura, proporcionando uma forma única de expressão e interação. Os profissionais da saúde que realizam essa assistência fazem parte de uma equipe multiprofissional presente no CAPS, desempenham o papel essencial de suporte emocional e escuta ativa. Observou-se que muitas vezes, mesmo diante de um estado inicial de retraimento ou abalo emocional, os pacientes se abrem ao diálogo e à expressão artística. Alguns optam por cantar enquanto pintam ou praticam crochê, compartilhando suas experiências da semana. Mesmo em momentos de silêncio, a confiança estabelecida com a equipe permite que expressem suas necessidades e desejos, seja compartilhando uma história pessoal ou solicitando cuidados pessoais, como pentear cabelos ou cuidar das unhas. A trajetória nas oficinas ao longo do tempo cria um ambiente propício para o desenvolvimento individual e coletivo, onde os profissionais reconhecem e valorizam as necessidades de cada paciente. Esta abordagem de cuidado baseada na arte visa promover a socialização e a expressão criativa, capacitando os participantes a transformarem suas vivências e realidades, proporcionando-lhes um significado individual e um senso renovado de existência. Resultados: Essa experiência proporcionou reflexões acerca das complexidades envolvidas na abordagem biopsicossocial do cuidado às pessoas com transtornos mentais, evidenciando a importância dos profissionais de enfermagem na promoção do bem-estar e na melhoria da qualidade de vida dos pacientes. Graças as atividades práticas em saúde mental, foi possível compreender a relevância de adotar uma perspectiva holística, que considere não apenas os aspectos físicos, mas também os emocionais, sociais e psicológicos dos atendidos. Essa abordagem integrada é resultado direto das lutas históricas que culminaram na reforma psiquiátrica, um marco fundamental na transformação do tratamento oferecido a pessoas com transtornos mentais. Graças a essa mudança de paradigma, os pacientes antes negligenciados e marginalizados passaram a receber uma assistência mais humanizada e centrada em suas necessidades individuais. Além disso, as redes de atenção à saúde, que incluem os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), desempenham um papel crucial ao oferecer um ambiente propício para o tratamento, recuperação e o desenvolvimento pessoal dos pacientes. Nesse contexto, as oficinas de arteterapia surgem como uma ferramenta terapêutica eficaz na promoção da expressão e no estabelecimento de vínculos de confiança entre os profissionais de saúde e os pacientes, que por meio das atividades artísticas encontram um meio de expressar suas emoções, experiências e dificuldades, o que facilita a comunicação e fortalece o relacionamento entre os envolvidos. Além disso, a participação em atividades artísticas estimula a criatividade, promove a autoestima e proporciona um propósito, contribuindo significativamente para o processo de reabilitação e ressocialização dos indivíduos atendidos. Diante disso as atividades teórico práticas curriculares proporcionam compreender o contexto da saúde mental in loco, pelas participações das atividades desenvolvidas no CAPS, exercitando as habilidades de escuta, de comunicação terapêutica e observação do trabalho em equipe. Além disso, essa imersão no campo da saúde mental proporciona uma visão mais ampla e sensível das necessidades dos pacientes, para desenvolver uma atuação de forma mais eficaz e compassiva nesse importante campo da saúde pública. Considerações finais: participar ativamente das atividades realizadas junto aos pacientes com transtornos mentais nas oficinas de arteterapia propiciou uma compreensão mais profunda da relevância desse espaço na sociedade e do impacto positivo que ele exerce na vida dos indivíduos que enfrentam históricos de exclusão e estigmatização social. Essa imersão permitiu uma reflexão sobre o papel do profissional de saúde e a importância de abordar a assistência de forma integral, considerando não apenas os aspectos clínicos, mas também os emocionais, sociais e culturais. Dessa forma, essa experiência prática proporcionou uma formação mais completa e abrangente para que seja oferecido um cuidado mais humano, sensível e eficaz aos pacientes com transtornos mentais; além disso, ressaltou a importância de abordagens terapêuticas integrativas, como a arteterapia, no tratamento e na promoção do bem-estar psicossocial dos pacientes atendidos no CAPS.

     

  • Keywords
  • Saúde Mental, Arteterapia, Centro de Atenção Psicossocial
  • Subject Area
  • EIXO 5 – Saúde, Cultura e Arte
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