SOFRIMENTO DOS TRABALHADORES DE SAÚDE MENTAL E SUA RELAÇÃO COM A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO

  • Author
  • ANA CAROLINA CERQUEIRA MEDRADO
  • Abstract
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    Este trabalho teve como objetivo analisar o sofrimento dos trabalhadores de saúde mental e sua relação com a precarização do trabalho. Para tanto, valeu-se de aproximações entre a sociologia do trabalho, a psicodinâmica do trabalho e a saúde coletiva. Trata-se de uma pesquisa qualitativa que teve como campo um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de Salvador e adotou as entrevistas narrativas como técnica de produção de dados. As entrevistas tiveram as seguintes questões/assertivas disparadoras: “fale-me sobre o seu percurso profissional”; “conte para mim sua experiência neste CAPS”; “O seu trabalho afeta sua saúde de alguma maneira?”, entre outras que surgiram a partir das narrações dos entrevistados. Os informantes foram profissionais do referido CAPS e residentes multiprofissionais de saúde que atuavam na instituição. Os critérios de inclusão dos informantes na pesquisa foram: atuar no referido CAPS, seja como profissional efetivo, seja como residente, e aceitar participar da pesquisa mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.  Os informantes da pesquisa foram seis homens e três mulheres, de idades entre 26 e 61 anos, sendo três residentes de programas multiprofissionais. Todos os residentes cumpriam estágio eletivo no serviço à época, tendo uma média de dois meses de atuação na instituição. Ressalta-se que os residentes falaram de suas experiências em saúde mental de forma geral, não especificamente sobre o CAPS no qual estavam atuando. Como procedimento de análise de dados utilizou-se princípios da hermenêutica de Ricoeur. Os dados foram organizados nas seguintes categorias: padecimentos dos trabalhadores de saúde mental; o trabalho capturando o corpo e o tempo. O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal da Bahia, parecer nº 1.443.135. Os resultados demonstram que, entre os fatores de sofrimento identificados estão: conflito no ambiente de trabalho, falta de reconhecimento profissional, sobrecarga de trabalho, insegurança quanto à técnica de intervenção, carga horária excessiva, alta demanda emocional e contato com contextos de violência. Tais fontes de sofrimento são provenientes da própria peculiaridade do trabalho em saúde mental, mas também indicam processos de precarização adentrando a esfera do Sistema Único de Saúde (SUS). Constatou-se ainda a invasão do trabalho no tempo livre dos trabalhadores, o que pode estar relacionado com a flexibilização do trabalho. Conclui-se que o trabalho em saúde mental tem sido penetrado pela lógica neoliberal, o que contradiz os valores ideológicos do SUS. Não foi narrada condição de adoecimento, o que pode estar relacionado com estratégias defensivas ou com a transformação do sofrimento em realização pessoal.

     

     

  • Keywords
  • Saúde mental; Sistema Único de Saúde; Saúde do trabalhador; Precarização.
  • Subject Area
  • EIXO 2 – Trabalho
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