As escolhas alimentares perpassam por diferentes aspectos: psicológicos, fisiológicos, socioculturais e econômicos. Durante o ciclo gravídico-puerperal essas escolhas alimentares são marcadas por prescrições, de familiares, amigos e de profissionais de saúde. As estratégias de educação alimentar, nutricional e de promoção da alimentação saudável no pré-natal devem ser realizadas por profissionais que valorizem as referências culturais presentes nas práticas alimentares das gestantes e puérperas atendidas. O objetivo deste estudo é analisar a percepção dos profissionais de saúde, que atendem gestantes e puérperas ribeirinhas em uma Unidade Básica de Saúde Fluvial (UBSF) no Amazonas sobre as questões relacionadas às práticas alimentares. Foi realizado grupo focal com a equipe multiprofissional que atua na UBSF, em que se observou que as orientações alimentares relatadas pelos profissionais eram as prescritas de forma corriqueira nas UBS, como a diminuição da ingesta de sal e gordura e o aumento do consumo de feijão, frutas e verduras. Nota-se pelas falas que muitos profissionais compreendem o contexto local e os fatores que influenciam as escolhas alimentares, como a disponibilidade do alimento, as crenças alimentares e a descontinuidade do fornecimento de energia elétrica, buscando ampliar o leque de escolhas. Porém alguns profissionais citaram a necessidade de recomendar certos alimentos, mesmo sabendo das dificuldades de obtenção dos mesmos. Isso remete à reflexão de que, por certas recomendações serem preconizadas, os profissionais se sentem na obrigação de manter esse padrão, mesmo que entendam as dificuldades das gestantes em cumpri-lo. Considera-se que, por se tratar de UBSF onde o atendimento pelos profissionais é organizado de forma diferenciada em que há maior adesão às consultas, a assistência pré-natal é um programa privilegiado para atuar, entre outros aspectos, na alimentação de gestantes e lactantes. Porém, para que as orientações sejam otimizadas, faz-se necessário que os profissionais conheçam, compreendam e saibam se adequar à realidade vivenciada por essa população, de forma que o provimento de nutrientes adequados possa ser efetivado a partir das condições ambientais e socioeconômicas dessa população.