Apresentação: O Movimento dos Ouvidores de Vozes teve origem na Holanda nos anos 1980, quando o psiquiatra Marius Romme e sua paciente Patsy Hage decidiram compartilhar suas experiências, resultando na formação de grupos de ajuda mútua. No Brasil, o movimento ganhou força a partir de 2015. Em 2017, iniciou-se o grupo de ouvidores de vozes, através do projeto de extensão "Ouvidores de Vozes" da Universidade Federal de Pelotas, que oferece um grupo quinzenal no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Fragata para diálogos terapêuticos e compartilhamento de experiências. Objetivo: O projeto tem como objetivo abordar, intervir e buscar atribuir sentido à experiência no contexto da vida da pessoa e da atenção psicossocial. Desenvolvimento: Trata-se de um relato de experiência, vivido, durante o ano de 2024, pela bolsista do Projeto "Ouvidores de Vozes" onde a mesma compartilha sua participação no grupo de ouvidores de vozes, integrando os diálogos terapêuticos com os usuários, juntamente com a coordenadora do projeto. Durante esses encontros, são utilizadas técnicas como escuta ativa e qualificada, promoção da liberdade de expressão, compartilhamento de experiências e orientações sobre a convivência com as vozes no cotidiano. O projeto visa oferecer suporte e promover o compartilhamento de vivências entre ouvidores de vozes, seus familiares, profissionais de saúde e a comunidade em geral, contribuindo para o combate ao estigma. Resultados: Durante os encontros, observamos diversas trajetórias de evolução entre os participantes. Um caso notável foi de um usuário que, normalmente alegre, relatou e também foi percebido pelos familiares, colegas e profissionais que o acompanham, um desânimo significativo visões e pesadelos com autolesão por cortes e enforcamento. Uma participante descreveu medos noturnos e visões de vultos, mantendo a televisão ligada para se sentir segura, expressando desejo de retornar às ruas onde viveu por 22 anos sem medos e sem os vultos. Um novo membro revelou ouvir diversas vozes de comando e ter visões relacionadas a sua morte . Duas usuárias compartilharam problemas pessoais, uma com dependência emocional devido ao medo de ouvir vozes, que as atribuiu à vizinhança, e outra lidando com conflitos familiares e sendo rotulada de "louca". Um participante falou sobre sua internação no Hospital Psiquiátrico, mencionando um misto de medo e desconforto. Todos mencionaram a dificuldade com vozes e vultos, e refletiram sobre momentos passados de desejo suicida como forma de acabar com seu sofrimento. Considerações Finais: Em suma, os relatos destacam a complexidade das experiências de participantes que lidam com vozes e visões. As histórias individuais sublinham os desafios enfrentados e a importância do suporte do projeto. A variedade de experiências enfatiza a necessidade de uma abordagem inclusiva e compassiva. O projeto promove o diálogo e o compartilhamento, oferecendo um espaço crucial de apoio e compreensão, essencial para o enfrentamento desses desafios.