Este relato narra a experiência de estudantes de medicina da UFAM integrantes da Liga Acadêmica de Atenção Integral à Saúde LGBTQIA+ (LAAIS LGBTQIA+) no Amazonas. A LAAIS LGBTQIA+, a primeira em seu estado com o foco em promover a saúde integral da comunidade LGBTQIA+, abordando questões muitas vezes negligenciadas pelos serviços de saúde convencionais e pela própria grade curricular das universidades brasileiras. Nesse contexto, tivemos a oportunidade de palestrar sobre câncer de próstata para mulheres trans e pessoas não-binárias da Associação de Travestis, Transexuais e Transgêneros do Amazonas (ASSOTRAM), preenchendo uma lacuna na educação em saúde dessa população tão marginalizada.
A palestra foi cuidadosamente planejada, considerando a diversidade de identidades de gênero e os desafios específicos enfrentados por essa população no acesso à saúde. Pode-se abordar aspectos anatômicos e fisiológicos da próstata, sintomas e fatores de risco do câncer de próstata, bem como estratégias de prevenção e diagnóstico precoce em linguagem acessível para o público. Também pode-se discutir também sobre os impactos da hormonização para o desenvolvimento do câncer de próstata e ouvir relatos e experiências pessoais das participantes, o que permitiu estreitar ainda mais o laço entre os palestrantes e ouvintes.
Durante a palestra, focamos em proporcionar um ambiente acolhedor para que as participantes se sentissem confortáveis para compartilhar suas preocupações, conhecimentos e dúvidas. A troca de experiências foi engrandecedora para nós, médicos em formação, permitindo uma compreensão mais aprofundada das necessidades de saúde específicas dessa comunidade. As mulheres trans e pessoas não binárias da ASSOTRAM expressaram gratidão por receberem informações pertinentes e acessíveis sobre uma condição de saúde quase sempre negligenciada no contexto trans. Muitas delas relataram nunca terem sido incluídas em campanhas de saúde relacionadas ao câncer de próstata, o que ressalta a importância de iniciativas direcionadas como essa.
Além de tudo isso, essa palestra contribuiu para fortalecer os laços comunitários e promover a autoconfiança das participantes no cuidado com sua própria saúde. Sabe-se que também que a ausência de espaços seguros para debater sobre a saúde dessa população em específico pode levar ao silenciamento, opressão, orientações incorretas ou que não se aplicam a realidade, impraticabilidade de acesso à saúde como um direito e negação da existência da própria pessoa LGBTQIA+. Ao receberem conhecimento e apoio de uma fonte confiável e sensível às suas realidades, as mulheres trans se sentiram valorizadas e mais capacitadas para buscar cuidados de saúde preventivos em relação ao câncer de próstata, ou seja, mais próximas dos serviços de saúde.
Essa experiência destaca a importância de uma abordagem inclusiva e compassiva à saúde, que possa reconhecer e atender as necessidades específicas dessa comunidade, amplamente marginalizada. Fortalecer a população LGBTQIA+ por meio da educação em saúde é imprescindível para reduzir disparidades e promover o bem-estar geral. Dessa maneira, iniciativas como essa não apenas preenchem lacunas no cuidado da saúde, mas aproximam a comunidade social e acadêmica e promovem tanto o empoderamento individual, quanto o coletivo.