Apresentação: a Atenção Primária à Saúde (APS) é considerada a principal porta de entrada da população ao Sistema Único de Saúde (SUS) e tem como propósito desenvolver atividades com foco na promoção da saúde e prevenção de agravos, além de auxiliar na redução dos atendimentos hospitalares. Conforme a Portaria nº 2.436/2017, que aprova a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), a APS é um agregado de ações de saúde, a nível individual ou coletivo, que abrange a promoção, prevenção e proteção à saúde, diagnóstico, tratamento e reabilitação, buscando a redução de danos, manutenção da saúde e segurança ao acesso. Para ampliar esse acesso, comumente as unidades de saúde estão localizadas em pontos estratégicos dos municípios e, muitas vezes, são nessas unidades onde se prestam os primeiros cuidados de urgência e emergência. Além disso, muitas cidades de pequeno porte não dispõem de hospitais para acolher as necessidades de saúde da população residente, sendo que estes se encontram a alguns quilômetros de distância e, também nesses casos, o primeiro atendimento é realizado pela própria equipe atuante na APS do município. De acordo com a Portaria GM/MS nº 1.863/2003, do Plano Nacional de Atenção às Urgências, as Unidades Básicas de Saúde são consideradas unidades de atendimento pré-hospitalar de modalidade fixa, da qual deveriam ser capacitadas para oferta de assistência qualificada e especializada ao atendimento e ao encaminhamento às unidades adequadas. Quando os atendimentos de urgência e emergência ocorrem na APS, quem realiza o primeiro cuidado é a equipe de enfermagem e a equipe médica. Entretanto, nem sempre os profissionais possuem a capacitação, o preparo e os recursos necessários para intervir nessas situações. Nessa conjuntura, os atrasos na detecção, na formulação do diagnóstico precoce e na implementação de um tratamento rápido e eficaz podem gerar impactos negativos no processo assistencial, resultando na perda significativa de qualidade e duração de vida dos pacientes, somado ao aumento de custos para o sistema de saúde. Em vista disso, tornou-se objetivo do estudo identificar o conhecimento da equipe de Enfermagem sobre os primeiros cuidados de urgência e emergência na APS de um município do Extremo Oeste de Santa Catarina. Desenvolvimento: trata-se de um estudo qualitativo, de caráter descritivo-exploratório, desenvolvido junto aos profissionais que compõem a equipe de Enfermagem atuante na APS de um município da região do Extremo Oeste de Santa Catarina. Como critérios de inclusão, foram aplicados: ser maior de 18 anos, atuar na APS e fazer parte da equipe de Enfermagem, exercendo suas atividades como enfermeiro, técnico ou auxiliar de enfermagem. Como critério de exclusão, considerou-se o profissional em licença maternidade, gozo de férias ou qualquer outro tipo de afastamento. A coleta de dados ocorreu no mês de julho de 2023, por meio de entrevista semiestruturada, de caráter individual, gravada em aparelho digital, de modo a registrar integralmente a fala do participante. Para análise dos dados, utilizou-se a Análise de Conteúdo do Tipo Temática, proposta por Minayo. Foram respeitados os preceitos éticos de pesquisa, em conformidade com a Resolução nº 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Oeste de Santa Catarina, sob Parecer nº 6.037.257. Resultados: fizeram parte do estudo seis profissionais de enfermagem, sendo uma enfermeira, quatro técnicas e uma auxiliar de enfermagem, com idade entre 40 a 55 anos, todas do sexo feminino, nenhuma com especialização em urgência e emergência. A partir da análise do conteúdo, tornou-se possível identificar e categorizar os resultados de acordo com a percepção e as vivências dos profissionais de enfermagem durante os primeiros cuidados de urgência e emergência prestados na APS. Ao questioná-los sobre os seus entendimentos acerca dos conceitos de urgência e emergência, verifica-se que os participantes compreendem seu significado. Porém, nota-se que o conhecimento dessas definições é um tanto vago e limitado, mas estão dentro do contexto correto. Os participantes conceituam urgência e emergência como duas situações que requerem do profissional muita agilidade. De acordo com os entrevistados, os primeiros cuidados de urgência e emergência na APS consistem em avaliar os sinais e sintomas do paciente, identificar os sinais de gravidade, estabilizar e monitorar a condição do paciente, além de ofertar oxigênio, realizar o acesso venoso e imobilizar, quando necessário. Assim, apreende-se que os profissionais de saúde precisam ter, além do conhecimento teórico e científico, a habilidade técnica que permita identificar e agir rapidamente diante dessas situações. Quando estas são avaliadas erroneamente, podem impossibilitar o reconhecimento da impressão inicial e da instabilidade fisiológica em que o paciente se encontra, acarretando em riscos para sua saúde e sua vida. No entanto, nem sempre os profissionais se sentem preparados enquanto equipe, alegando falta de sintonia ou falta de capacitação adequada para atuar nesses cuidados, conforme observado nos depoimentos dos participantes. Dessa maneira, é importante que a equipe esteja familiarizada com o local de trabalho e receba capacitações frequentes sobre como utilizar apropriadamente os recursos, para que possam manejar o paciente de maneira correta e auxiliar na estabilização do mesmo. Ademais, a maioria dos entrevistados afirmaram que tiveram contato com casos de urgência e emergência ainda durante a graduação ou ensino técnico. Mas, mesmo com o conhecimento prévio, mencionam que ao atender estes casos se deparam com sentimentos de angústia, ansiedade e medo, que são despertados pela insegurança de não saber o que irá acontecer mais adiante com aquele indivíduo, se ele ficará bem. Para realizar um atendimento de qualidade, a equipe deve se manter calma, demonstrando confiança e segurança ao paciente e seus familiares. Especialmente o enfermeiro, sendo o líder da equipe, deve saber como se portar diante de situações de urgência e emergência, além de ter a capacidade de orientar e conduzir corretamente a sua equipe e, com os conhecimentos necessários, deve, inclusive, mantê-los sempre atualizados e qualificados para esse tipo de atendimento. Assim, para atuar em situações de urgência e emergência, é necessário não apenas o envolvimento físico por parte do profissional, mas que este utilize de suas competências, habilidades e experiências prévias para atuar em situações diversas, sempre objetivando um cuidado humanizado e de qualidade. Considerações finais: a partir do desenvolvimento dessa pesquisa, identificou-se que os participantes compreendem o significado de urgência e emergência, considerando que todos tiveram contato com o assunto durante a formação acadêmica. Além disso, pode-se entender como acontece o atendimento e o manejo dessas situações na APS de um município de pequeno porte no interior do estado de Santa Catarina. Percebe-se, entretanto, a necessidade de ampliar as capacitações e os recursos disponíveis para prestar um cuidado adequado aos indivíduos que chegam nessas condições. Dessa forma, aponta-se a necessidade de revisão e da implementação de protocolos e fluxogramas de acolhimento e classificação de risco na APS, conforme a realidade do município, para que os pacientes em situações de urgência e emergência sejam atendidos com maior eficácia, qualidade e eficiência. Esta organização auxilia a equipe de enfermagem nos atendimentos, a partir do embasamento quanto aos reais casos de urgência e emergência que chegam até a APS, bem como os cuidados a serem desenvolvidos diante de cada situação.