Introdução: Anualmente, a Epifania Comunidade Católica, sediada no município de Vitória, Espírito Santo, organiza as atividades do Barco Ambulatório Laguna Negra, uma importante ação destinado a proporcionar promoção de saúde e assistência multiprofissional à comunidade ribeirinha localizada na região da Prelazia de Lábrea-AM. O Projeto Amazonas, uma iniciativa de extensão coordenada por uma professora do curso de fisioterapia da Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA, opera em colaboração estreita com a Missão Laguna Negra. Nesse contexto colaborativo, duas estudantes do curso de Fisioterapia da UNIPAMPA, acompanhadas pela professora coordenadora do projeto, dedicaram um período de 15 dias em uma jornada a bordo de um barco, navegando pelas sinuosas margens do Rio Purus, com o propósito de oferecer cuidados de saúde à população ribeirinha residente na região. O presente resumo tem como objetivo principal compartilhar e analisar as enriquecedoras experiências vivenciadas pelas alunas, destacando a relevância da intervenção fisioterapêutica frente às diversas queixas musculoesqueléticas relatadas pelos moradores ribeirinhos atendidos durante essa missão humanitária.
Descrição da experiência: A missão Laguna Negra é organizada em quatro etapas, na intenção de cobrir toda a extensão da Prelazia de Labrea, banhada pelo Rio Purus, e dessa forma prestar assistência a todas as comunidades ribeirinhas da reunião. Em cada etapa participam uma equipe diferente de voluntários, de forma que o barco percorra o Rio Purus por um período de pouco mais de dois meses, mas que cada equipe de saúde permaneça apenas cerca de 15 dias, considerando a dificuldade de os voluntário se afastarem por mais tempo de suas responsabilidades laborais e familiares. Durante a quarta etapa da missão Laguna Negra, foram desenvolvidas as atividades do Projeto Amazonas, nesse período foram atendidos ribeirinhos de aproximadamente 40 comunidades diferentes. A equipe de fisioterapia desempenhou um papel crucial nesse contexto, realizando o acolhimento de um total de 685 ribeirinhos. As atividades de acolhimento incluíram a aferição da pressão arterial, antropometria, medição da glicemia, temperatura corporal e a escuta atenta e paciente das queixas dos ribeirinhos. Dentre as queixas relatadas, aproximadamente 22% estavam relacionadas a dores musculoesqueléticas, englobando condições como lombalgia, cervicalgia, dores articulares e musculares, muitas das quais associadas a problemas posturais. Logo no momento inicial de escuta, ao serem apresentadas tais queixas, as estudantes de fisioterapia, juntamente com a professora, prontamente ofereciam orientações sobre exercícios de alongamento e atividades que poderiam ser incorporadas à rotina diária dos ribeirinhos, levando em conta suas realidades e necessidades específicas. Essas intervenções visavam não apenas a redução dos sintomas, mas também a melhoria geral da qualidade de vida e o alívio das dores experimentadas pelos pacientes. Além das intervenções individuais, uma parte crucial das atividades do projeto incluiu sessões de orientação coletiva na comunidade sobre a importância dos alongamentos e exercícios específicos para a saúde musculoesquelética. Com uma abordagem participativa e educativa, a equipe de fisioterapia, conduziram sessões informativas onde compartilharam técnicas simples e eficazes de alongamento que poderiam ser facilmente realizadas pelos ribeirinhos em seu dia a dia. Essas orientações foram adaptadas para atender às diferentes faixas etárias e condições físicas dos participantes, levando em consideração as atividades comuns desempenhadas na vida cotidiana da comunidade ribeirinha. Ao promover a prática regular de alongamentos, o objetivo era não apenas aliviar sintomas imediatos, mas também prevenir futuras complicações musculoesqueléticas, melhorando assim a qualidade de vida e promovendo o bem-estar geral da população atendida.
Impactos: Os atendimentos prestados durante a missão representaram uma oportunidade valiosa para o aprimoramento profissional das alunas, contribuindo significativamente para sua formação. Essa experiência não apenas permitiu que elas aplicassem seus conhecimentos teóricos na prática, mas também proporcionou um ambiente de aprendizado imersivo, onde puderam compreender em profundidade as causas subjacentes dos problemas musculoesqueléticos enfrentados pela população ribeirinha. Conforme relatado, esses problemas pareciam ser predominantemente resultado das atividades cotidianas da comunidade, que, por sua natureza, muitas vezes contribuíam para o surgimento de dores musculares e questões posturais. Ao interagir diretamente com os moradores locais, as alunas puderam observar em primeira mão os padrões de movimento, as práticas laborais e as condições de vida que influenciam a saúde musculoesquelética da população. Essa imersão no contexto cultural e social das comunidades ribeirinhas proporcionou um entendimento mais holístico e contextualizado dos desafios de saúde enfrentados por essas pessoas. Além disso, possibilitou às alunas uma reflexão crítica sobre a importância da educação em saúde e da promoção de mudanças comportamentais para prevenir e gerenciar esses problemas de forma eficaz. Dessa forma, os atendimentos durante a missão não apenas beneficiaram os pacientes, oferecendo-lhes cuidados de saúde necessários, mas também foram um catalisador para o crescimento pessoal e profissional das alunas. Elas saíram dessa experiência não apenas com habilidades clínicas aprimoradas, mas também com uma apreciação mais profunda da complexidade e da interconexão entre fatores sociais, culturais e ambientais na determinação da saúde musculoesquelética. Essa compreensão mais ampla certamente as equipou para se tornarem profissionais mais eficazes e compassivas em suas futuras práticas clínicas.
Considerações finais: Ao concluir esta análise, é possível observar que a missão Laguna Negra, tem um impacto notável na vida das comunidades ribeirinhas atendidas. E no contexto da parceria com o Projeto Amazonas, os atendimentos prestados não apenas representaram uma oportunidade para aplicação prática dos conhecimentos teóricos das alunas de fisioterapia, mas também proporcionaram uma imersão profunda no contexto cultural e social dessas comunidades. O reconhecimento das queixas musculoesqueléticas como um desafio prevalente e a oferta de orientações tanto individualizadas quanto coletivas não só visou a redução dos sintomas, mas também promoveu a melhoria geral da qualidade de vida dos pacientes atendidos, evidenciando a abordagem holística e proativa adotada pela equipe de saúde. Os impactos não se limitaram apenas aos pacientes atendidos, mas se estenderam às alunas, que experimentaram um crescimento pessoal e profissional significativo durante essa jornada. Ao imergir nas realidades das comunidades ribeirinhas, elas adquiriram uma compreensão mais profunda dos fatores sociais, culturais e ambientais que influenciam a saúde musculoesquelética, o que aliado à reflexão crítica sobre estratégias de intervenção e promoção da saúde, certamente as equipou para se tornarem fisioterapeutas mais eficazes e compassivas em suas futuras práticas clínicas. Assim, os atendimentos durante a missão Laguna Negra não apenas representaram uma importante prestação de serviços de saúde, mas também foram um poderoso veículo de aprendizado e crescimento pessoal e profissional para as alunas envolvidas, promovendo uma abordagem mais abrangente e humanizada à fisioterapia.