Apresentação: A demanda de cuidados em saúde mental no Sistema Único de Saúde, que já era variada e grande, foi impactada nos últimos anos pela covid-19. Por outro lado, a oferta de serviços e dispositivos de atendimento tem como um de seus desafios gerenciar os recursos disponíveis, seja porque não são suficientes, seja pela fragmentação da oferta e do acesso, seja pelo desafio de operacionalizar a integralidade do cuidado. Um dos elementos importantes na lógica criada para atender esta demanda – a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) - é que esta rede foi pensada para atender “gravidades” diferentes de casos em diferentes Pontos de Atenção, o que significa que as equipes precisam fazer avaliações sobre essa “gravidade” no cotidiano de seu trabalho, mesmo que isso nem sempre esteja explícito. Além disso, a RAPS foi estruturada com base em premissas divergentes do modelo biomédico que guia, atualmente, a classificação diagnóstica do sofrimento psíquico: a clínica proposta na concepção da RAPS fundamenta-se na ideia de singularidade, da existência de sujeitos contextualizados, atores de suas próprias vidas e percursos. Dadas essas premissas, é esperado que as equipes ponham em marcha uma noção de clínica muito mais apoiada na proposta de cuidado e de construção de projetos de felicidade do que na remissão de sintomas ou na possibilidade de “cura”. No entanto, essas mesmas equipes vivenciam uma realidade prática que, possivelmente, interfere nas opções clínicas que conseguem lançar mão. Objetivo: compreender como estas equipes realizam a avaliação de risco em saúde mental na RAPS do município de São Paulo, considerando que esta avaliação de risco é uma estratégia clínica fundamental tanto para a lógica da divisão dos Pontos de Atenção quanto para efetivar uma clínica implicada com a demanda dos sujeitos. Método: Pesquisa em andamento, que busca problematizar como se constitui essa rede e, ao mesmo tempo, investiga a história e o debate ao redor dos conceitos de “risco” em saúde, “clínica” do mal-estar ou do sofrimento psíquico e mesmo “saúde mental” e “doença mental”. Esta é uma pesquisa qualitativa, que irá entrevistar profissionais de diferentes Pontos de Atenção da RAPS em uma das Supervisões Técnicas de Saúde da cidade de São Paulo. Junto com as entrevistas serão realizadas observações densas sobre o cotidiano desses serviços e serão levantados dados sobre o volume, as características e os encaminhamentos dos atendimentos. Resultados esperados: Espera-se que esta pesquisa possa ajudar a compreender como a RAPS opera esta clínica do sofrimento psíquico e lida com a relação oferta/demanda de cuidados no campo da saúde mental. Considerações finais: Há que se levar em conta como ocorre a avaliação dos riscos e vulnerabilidades dos casos na RAPS de modo a poder compreender os desafios de acesso ao cuidado oportuno no momento adequado em meio à uma rede extensa, porém possivelmente, muito mais pautada na oferta do que na demanda.