Pensar a saúde no Brasil a partir dos conceitos da Educação Popular em Saúde (EPS) representa, no processo de construção de ações e de políticas públicas, levar em conta a democratização do SUS, impulsionar movimentos voltados para o cumprimento efetivo das diretrizes e dos princípios do sistema de saúde. E diante dos inúmeros e complexos agravos de saúde pública existentes em nossa sociedade, a EPS parece se apresentar como uma ferramenta efetiva na imensidão de estratégias preventivas e de enfrentamento dos problemas existentes, como, por exemplo, a violência, uma vez que, percebe-se um avanço no combate à violência em suas diferentes formas e locais, mas ainda pode-se observar uma desconexão entre as redes responsáveis pela atenção à violência, como a saúde, assistência social, educação e segurança pública. Desta forma, faz-se necessário investigar os efeitos da implementação da EPS no território para promover o fortalecimento dos indivíduos por meio da participação cidadã, da prevenção e da promoção da saúde Objetivo: compreender os círculos de cultura realizados com mulheres, maiores de 18 anos, vítimas de violência, como ferramenta de cuidado no distrito norte do município de Campinas no ano de 2021. Método: foram realizados dois ciclos de grupos compostos de 8 encontros, inspirados na perspectiva freireana, com mulheres, maiores de 18 anos, residentes no distrito norte do município de Campinas/SP. Os grupos foram registrados em diário de campo, o qual foi analisado a partir da perspectiva hermenêutica-dialética. Resultados: Observa-se o impacto, implicações e alcance da violência na vida das participantes se revelando na identificação dos seguintes temas geradores: violência em assassinatos de familiares, abuso sexual, violência doméstica, violência de gênero, violência urbana, opressão, violência do Estado, violência estrutural, violência obstétrica, violência na saúde e assédio. Tais temas estão envoltos e envolvidos em outros, pois geram outros tópicos que estão relacionados ao impacto da violência na vida dessas mulheres diretamente ou indiretamente. As participantes demonstraram interesse em perpetuar o círculo de cultura entre as mulheres da comunidade. Conclusão: A EPS favoreceu a troca e reflexão sobre o vivido. Contextualizada, a experiência da violência foi compreendida também em sua dimensão coletiva. Marcadores sociais de opressão e vulnerabilização foram identificados nas histórias pessoais de cada mulher. O círculo de cultura se mostrou uma ferramenta potente para o empoderamento das participantes, transformação das mulheres por meio da EP a partir de relações humanísticas alicerçadas no respeito aos valores e crenças das pessoas reais e assim, consequentemente, criam-se relações de afeto, cuidado, confiança, respeito e liberdade.
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