Apresentação: A Saúde Coletiva, enquanto campo de conhecimento que se debruça sobre a determinação social do processo saúde-doença, é fundamental nos currículos dos cursos da saúde. No caso do currículo médico que, em sua grande maioria, é orientado pelo modelo flexneriano, ela comparece como uma disciplina que, por vezes, pede ou funciona como pré-requisito para outras disciplinas. Sabendo que, o pré-requisito enfatiza o cumprimento de componentes anteriores, preparatória para a fase seguinte de caminhada no percurso acadêmico. Tomando em escuta a organização curricular no curso de Medicina da Universidade Federal do Amazonas, a proposta deste trabalho foi analisar a forma como esses pré-requisitos foram construídos ao longo do tempo e o que as transformações que ocorreram na sua evolução temporal dizem acerca dos processos históricos e sociais da construção do campo da Saúde Coletiva. Desenvolvimento: Trata-se de um recorte do corpus constituído por uma pesquisa de iniciação científica, em funcionamento desde junho de 2023, e que tem como base a abordagem qualitativa e o estudo discursivo materialista. Neste trabalho são analisadas sete grades curriculares do curso de medicina da UFAM, do período de 1968 a 2010. Para análise do material proposto, utilizou-se os pressupostos da Análise de Discurso. Resultados: Nas primeiras três versões do currículo, as disciplinas voltadas para a Saúde Coletiva não apresentavam nenhum pré-requisito, o pode ser explicado pelo o curso estar em sua fase embrionária, haja visto que a primeira turma iniciou em 1966. Somente dez anos depois é que os pré-requisitos, na área, apareceram; especialmente, para a disciplina de Epidemiologia, que exigia como pré-requisito, nessa época (1976), as cadeiras de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia. Essa mudança pode estar relacionada ao cenário epidemiológico da época; entre as décadas de 1970 e 1980, as doenças infecto-parasitárias apresentavam altas incidências na população brasileira. A partir de 1985, esses pré-requisitos se estenderam para a disciplina de Saúde Coletiva. Nesse mesmo ano, com a divisão da cadeira de Epidemiologia em duas, a unidade Epidemiologia II passou a exigir, como pré-requisito, além da cadeira I, a disciplina de Clínica Médica. Esse gesto, parece apontar para uma compreensão sobre a importância do saber epidemiológico para a prática clínica especialmente em territórios como a Região Amazônica onde a ocorrência das doenças infecciosas, por exemplo, está relacionada a sazonalidade. Na grade em vigência (2010), parece haver uma cisão da compreensão anterior, nesta, os requisitos se organizam a partir da própria área: Saúde Coletiva II tem como pré-requisito Saúde Coletiva I, e assim sucessivamente. O que parece denotar uma certa maturidade epistêmica da área, no percurso de sua institucionalização enquanto campo de conhecimento e mesmo uma tentativa de ruptura com as bases biomédicas da formação médica, voltando-se mais à perspectiva das ciências humanas e sociais. Considerações Finais: O gesto de leitura dos pré-requisitos das cadeiras voltadas para a Saúde Coletiva permitiu observar o modo como a área foi se materializando, historicamente, no curso de medicina da UFAM, permitindo observar, ao mesmo tempo, o próprio processo de sua institucionalização enquanto campo de conhecimento, genuinamente brasileiro.