INTRODUÇÃO
A assistência pré-natal, segundo o Ministério da Saúde (MS), caracteriza-se pelas ações de atendimento e acompanhamento clínico e cujo principal objetivo é: “assegurar o desenvolvimento saudável da gestação, permitindo um parto com menores riscos para a mãe e para o bebê”. Afirma ainda que, tais ações devem ser pautadas em condutas que sejam acolhedoras, tratativas/preventivas e eficazes, trazendo assim a humanização, que consiste no protagonismo materno, medicina baseada em evidência e transdisciplinaridade para este período tão especial e ao mesmo tempo desafiador. Elucida também que o atendimento deve ter característica preventiva baseada na educação em saúde, pois, em sua grande maioria, a população feminina tem em seu pré-natal o primeiro contato com a assistência em saúde. Já a Gravidez de Alto Risco define-se como condições que comprometam o bem-estar do binômio mãe e filho. Ou seja, qualquer complicação real ou em potencial que venha a pôr em risco a saúde de ambos ou de apenas um destes. Ao exemplo de sinais e/ou sintomas indicativos do comprometimento do funcionamento correto metabólico/fisiológico, doenças pré-existentes, entre outros. Desencadeando assim, uma gestação que necessite de um acompanhamento de pré-natal mais específico e cuidadoso. Infelizmente, a assistência materno infantil nem sempre teve a devida atenção no mundo todo, tendo como reflexo inconsistências de dados sobre a saúde materna, pois, para medi-las há a necessidade de registros seguros e que abranjam maior números de informações possíveis. Poucos países possuem esse tipo de ação, resultando assim na falta de informações precisas ao exemplo da subnotificação da mortalidade materna. Assim, a Organização Mundial da Saúde (OMS) junto ao Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), vêm incentivando e apoiando ações para a redução da mortalidade de mães tanto no período gestacional quanto no pós-parto. Com o objetivo de atender a esta demanda mundial, no ano 2000, o Brasil iniciou um programa de serviço cujo propósito principal é a queda do índice de morbimortalidade, a total cobertura e o aprimoramento da assistência. Entretanto, ainda não foi possível alcançar esse objetivo, a realidade de um país imenso e de uma desigualdade ainda muito latente é bem diferente, estudos desenvolvidos pelo grupo de pesquisa Saúde da mulher, da criança e do adolescente – determinantes sociais, epidemiologia e avaliações políticas, programas e serviços, em especial a pesquisa intitulada “Nascer no Brasil”, traz em seus resultados a indicação com urgência da modificação do modelo de atenção ao pré-natal. O estudo de nível nacional demostrou que a dificuldade para se obter diagnósticos bem como início tardio do pré-natal, juntamente com problemas pessoais e as diversidades encontradas para o acesso a esta assistência, em especial na região norte e nordeste do país são os maiores fatores que contribuem negativamente e tornaram-se um grande desafio da gestão em saúde. Outro ponto refere-se à fragilidade de sistemas de articulação Inter federativas, com formulações de estratégias em gestão para as políticas e serviços públicos de saúde, principalmente nas regiões do Brasil interiorizadas e de difícil acesso, gerando assim uma baixa demanda de atenção às gestantes. O que nos leva a resultados e desfechos negativos como: bebês prematuros; bebês a termos, mas, com baixo peso; altas taxas de mortes maternas (64 a cada 100 mil nascidos vivos); internações em UTIs; doenças psicológicas maternas e gestações seguintes muito próximas. Diante desta fala, este estudo teve por objetivo mapear a frequência dos principais CIDs de diagnóstico de uma gestação de alto risco em relação as raças/etnias brasileiras sob a perspectiva do sistema público de saúde no período de 2018 e 2022.
MÉTODOS
Os dados foram obtidos a partir das informações disponíveis pelo Departamento de Informática do SUS (DATASUS) entre o período de 2018 a 2022. Selecionou-se as variáveis dentro do Sistema de Informação Ambulatorial (SIA) que visam demonstrar as frequências dos atendimentos das principais comorbidades a gestantes de alto risco por raça/etnia. As raças/etnias nesta análise são caracterizadas como: amarela, branca, indígena, parda, preta e sem informação.
RESULTADOS
No período analisado, foram encontradas em todo o país 678.965 assistências realizadas a gestantes de alto risco, distribuídas da seguinte forma: 38.779 atendimentos com diagnóstico de diabetes mellitus gestacional; 102.587 atendimentos para hipertensão gestacional; 37.364 para outras intercorrências na gestação; 37.363 com diagnóstico de pré-eclâmpsia e eclâmpsia e 462.872 com indicação para supervisão de gestação de alto risco. Entretanto, o que chama a atenção é a distribuição destas assistências em relação as raças. De todos estes atendimentos prestados apenas 0,18% equivalem a assistência realizada a raça indígena, enquanto a raça branca recebe em média 48,3% de toda essa assistência gestacional. Estes são os extremos encontrados nessa tabulação, as demais raças permeiam valores assistenciais apresentando grandes diferenças também, sendo mais precisamente: parda 33,3%, preta 7,55%, sem informações 6,9% e amarela 3,86%. Desta forma ranqueando as assistências gestacionais de alto risco de acordo com a raça teremos: 1ª – branca (48,3%), 2ª – parda (33,3%), 3ª – preta (7,55%), 4ª - sem informações (6,9%), 5ª – amarela (3,86%), 6ª - indígena (0,18%).
CONCLUSÃO
Mapear e observar as principais comorbidades que as mulheres desenvolvem durante o período gestacional é de extrema importância para melhorar a saúde populacional a curto, médio e longo prazo. Muitas mortes maternas e infantis podem e devem ser evitadas com o trabalho de prevenção a doenças e o cuidado precoce destas, com o diagnóstico na assistência ambulatorial através de um bom pré-natal. O estudo de identificação e posteriormente o entendimento de quais comorbidades tem prevalência nas raças/etnias bem como, quais encontram-se em menor assistência servem para direcionar melhor o tipo de assistência que deverá ser empregada para que tais adoecimentos possam ter seus cuidados mais precisos. Ao observar o resultado aqui demonstrado, deve-se lembrar que quando se trata de um país plural como o Brasil, mas, que ainda apresenta tantos preconceitos estruturais e étnicos questionar e buscar o porquê de notificações consideravelmente baixas para determinadas raças faz-se urgente. Outros estudos já apontaram que de fato, em determinadas regiões do Brasil a baixa notificação de cuidados relação a estas populações que estão à margem da sociedade, se dá seja por falta de conhecimento, por questões financeiras ou até mesmo por dificuldades de acesso físico. Entretanto, estudos mais aprofundados ajudarão a direcionar, estruturar ações mais precisas e qualificar os profissionais da assistência básica, podendo assim contribuir para a prevenção do desenvolvimento das doenças crônicas não transmissíveis na gestação.