Apresentação: O presente resumo tem como objetivo relatar a experiência de pessoas usuárias do ambulatório trans ao promover e participar de um ciclo de oficinas de fanzines: “mãos que tramam mundos”. Os encontros foram pensados e propostos a partir de uma abordagem experimental e dinâmica, pretendendo compartilhar fazeres artísticos e manuais de forma interdisciplinar sobre produção de fanzines. Fanzine (do inglês - fan+magazine) se refere a pequenos livros, revistas, cartazes, etc. As zines são um meio interessante para autopublicações de baixo custo e acessível distribuição, facilitando a circulação destas de forma autoral e independente. Utilizam-se multilinguagens como colagem, desenho, escrita, bordado, pintura, enfim, um espaço de criação livre. A zine se faz a partir de dobraduras de papel, que se transforma numa pequena revista, sendo um processo criativo que permite múltiplas apresentações.
Desenvolvimento: O desejo de conhecer e conviver com outras pessoas transvetigêneres usuárias/usuáries/usuários do ambulatório trans, que até o momento não possuía nenhum grupo de convivência, resultou na proposta de realizar oficinas de atividades artísticas que possibilitasse nos conhecermos e também produzir em conjunto. A proposição partiu das pessoas usuárias do ambulatório, que desejavam habitar aquele espaço para além do acompanhamento clínico, fazendo do ambulatório também um espaço de socialização e troca entre pessoas transvestigêneres. O ciclo de oficinas teve seu início com uma primeira turma de oito pessoas, e foi realizada nos dias 22 de março e 5 de abril de 2024 em um dos ambulatórios trans do município de Pelotas/RS.
Assim sendo, o primeiro desses momentos foi utilizado para que os usuários se conhecessem e se familiarizassem com os fanzines. Para isso, foram apresentados diversos exemplos, especialmente de produções feitas por pessoas trans, e foi explorada a natureza do zine - no que consiste? Como e por quem pode ser realizado? O que um zine é capaz de comunicar? Nessa primeira oportunidade, estavam presentes pessoas usuárias, trabalhadoras e gestoras do ambulatório. No segundo dia, ocorreu a confecção dos zines propriamente ditos. Para tanto, foram oferecidos materiais como papel, linha, agulha, canetas, giz, cola, entre outros. As produções envolveram diversas questões, não restritas à temática da transexualidade.
Resultados: A oficina se revelou um potente espaço de criação, entretanto, sobretudo um lugar de encontro entre subjetividades trans. As ferramentas artísticas foram propulsoras para o compartilhamento de vivências, ideias, talentos, músicas, preferências, banalidades, entre outros compartilhamentos que fizeram do grupo um importante dispositivo de convivência e troca entre frequentadores do serviço.
Considerações finais: Essa potencialidade da realização de grupo nos espaços de saúde está em consonância com a premissa de que saúde se configura também em bem estar social, na medida em que a convivência entre pessoas trans apresenta uma diversidade de possibilidades de existência. Além disso, faz do ambulatório um espaço capaz de cuidar da/o sujeita/o de modo integral, não restrito às questões clínicas biomédicas referentes ao processo transexualizador.