Apresentação: As insurgências decoloniais no espaço acadêmico têm apontado a necessidade de uma refundação pluriétnica e pluriepistêmica dos currrículos. Desse ponto de vista, no caso brasileiro, a incorporação das epistemes dos troncos afroconfluente e indígena aos currículos é fundamental. No contexto da formação de profissionais de saúde, essa discussão ainda não foi iniciada de maneira significativa. No entanto, há pequenas experiências emergentes que podem oferecer pistas e contribuir para desencadear práticas e processos nessa direção. Este trabalho é um relato relacionada a uma experiência dessa natureza. Objetivo: Apresentar e discutir uma experiência pedagógica com um grupo de alunos de medicina e fonoaudiologia do primeiro ano em uma oficina com Mestra Japira Pataxó sobre ervas medicinais. Desenvolvimento do trabalho: A experiência foi construída alinhando de forma ativa a agenda das atividades de Mestra Japira na universidade visitante, com a agenda didática de um grupo de estudantes de medicina e fonoaudiologia, em um desvio em relação às atividades previstas no programa da disciplina “Ações de Saúde Pública”. No horário da aula, os alunos foram convidados a participar da oficina sobre ervas medicinais, conduzida por Mestra Japira Pataxó, pajé da aldeia pataxó "Novos Guerreiros", localizada próxima à Porto Seguro (BA), e atualmente, professora convidada pelos próximos dois anos da UFBA. Antes, durante e após a oficina, foram realizadas discussões em grupo com os estudantes, permitindo apreender as ressonâncias da experiência entre eles. Resultados: A experiência permitiu problematizar, com os alunos, a formação em saúde, ao destacar os saberes indígenas, que, por décadas, foram alvo do epistemicídio e do desprezo nas universidades brasileiras. O encontro com Mestra Japira Pataxó abriu brechas para refletir sobre os sentidos da inclusão dos saberes indígenas nas rotas do cuidado. A cosmovisão ameríndia não toma o cuidado de forma individualista e fragmentada, já que este está intimamente ligado ao cuidado da comunidade, dos parentes (os demais indígenas da comunidade) e das matas, em diálogos e negociações que incluem humanos e não humanos, plantas, bichos e espíritos da floresta. Foi possível problematizar também como a saúde dos povos originários é afetada por eventos necropolíticos, como as invasões de fazendeiros, garimpeiros e os empresários do ramo hoteleiro e imobiliário. Considerações finais: Acreditamos que o cuidado deve ser pauta princeps na formação de profissionais da área da saúde. O reconhecimento dos saberes originários produz efeitos nas práticas de cuidado dos próprios estudantes e, possivelmente, na integração dos estudantes indígenas na universidade. O encontro com Mestra Japira com os estudantes e dos estudantes com o campus universitário foi uma aposta do grupo de professores na defesa de práticas de cuidado de si e dos outros, que não se limitem às possiblidades de uma formação monocultural e monoepistêmica.