O processo de cuidar de crianças e adolescentes pode ser desafiador e complexo, pois apresentam exigências específicas em cada fase do desenvolvimento e estão frequentemente expostas a diferentes tipos de vulnerabilidades, necessitando de ações de proteção e prevenção. Nesse contexto, visualiza-se a escola como um espaço favorável para as iniciativas de educação em saúde, visto que esta possibilita a articulação da aprendizagem com a família, comunidade escolar e sociedade além de proporcionar o diálogo entre profissionais e o público-alvo. Adicionalmente, destaca-se que durante a pandemia da COVID-19, para que a população tivesse acesso à informações de qualidade, que impactassem na prevenção e promoção da saúde, as atividades educativas passaram a ser desenvolvidas com o uso de tecnologias digitais, a partir do uso de mídias digitais. Em vista disso, a tecnologia contribuiu para a produção do cuidado, estabelecimento de vínculos e o desenvolvimento de ações de educação em saúde. Consequentemente, o acesso à educação por meio do uso das tecnologias digitais foi superado por desafios, com destaque para dificuldades de acesso à internet, aprendizado sobre o uso das mídias digitais, recursos para o desenvolvimento de aulas online, e até mesmo a falta de compreensão sobre a diversidade de tecnologias disponíveis. Este estudo, portanto,objetiva conhecer a percepção dos estudantes universitários sobre o uso das tecnologias digitais para práticas de educação em saúde com crianças e adolescentes.Trata-se de uma pesquisa qualitativa, descritiva, com estudantes de graduação da região noroeste e fronteira do Rio Grande do Sul. Foram selecionados estudantes de graduação em ciências da saúde, maiores de 18 anos, com vínculo institucional em uma das universidades públicas pertencentes ao estudo e que tivessem acesso às plataformas digitais disponíveis para a coleta de dados. Estudantes com matrícula trancada ou que estivessem afastados por motivos de saúde foram excluídos da amostra. A coleta de dados ocorreu no período de julho a agosto de 2020, em duas etapas, através de um roteiro elaborado no Google Docs® para fins de caracterização dos participantes e a segunda etapa por meio de entrevistas estruturadas no Google Meet®. A caraterização sociodemográfica foi realizada a partir de variáveis como sexo, idade, região,, curso de graduação, semestre, participação em projetos de ensino, pesquisa e extensão, uso de mídias digitais e acesso às tecnologias. Assim, 45 estudantes participaram dessa etapa. Posteriormente, foi realizada a entrevista estruturada, a partir de um sorteio do banco de dados do Google Docs ®. Foi utilizado como critério a saturação teórica dos dados e a inclusão dos participantes cessou, a partir do momento em que não havia novas informações, totalizando 18 entrevistados. As entrevistas estruturadas com roteiro foram agendadas previamente, conforme disponibilidade dos estudantes e realizadas individualmente na plataforma Google Meet®. Os áudios foram gravados e transcritos na íntegra no programa Microsoft Word® e submetidos à análise de conteúdo temático, a partir das seguintes etapas: pré-análise, exploração do material, tratamento e interpretação dos dados. Foi realizada a leitura do texto e seleção do conteúdo relevante ao objetivo da pesquisa, a fim de contemplar a pré-análise. Na etapa de exploração do material, a codificação ocorreu em unidades de registro, o que permitiu desenvolver a categorização temática. A partir dessa etapa, os excertos de texto foram organizados em uma tabela, utilizando-se as afinidades semânticas que deram origem à categorização e às subcategorias. Nesses casos, utilizou-se a letra E para manter a identidade dos participantes, referindo-se à palavra "aluno" seguida do número ordinal correspondente à ordem de realização das entrevistas. A pesquisa está registrada no Comitê de Ética em Pesquisa sob número CAAE 86186518.5.0000.5346 e parecer 4.114.313. Do total de 18 entrevistas coletadas, 9 (50%) alunos eram provenientes da Universidade Federal de Santa Maria campus de Palmeira das Missões, e 9 (50%) da Universidade Federal do Pampa campus de Uruguaiana. Dentre os alunos de graduação, 14 (77,77%) eram graduandos de Enfermagem, 3 (16,66%) de Fisioterapia e 1 (5,55%) de Nutrição. Destes, 15 (83,33%) do sexo feminino e 3 (16,66%) do sexo masculino. A faixa etária dos estudantes variou entre 20 e 28 anos. Em relação à participação em projetos na Universidade, 17 (94,44%) participaram de projetos de pesquisa, ensino e extensão, e 1 (5,55%) participou apenas de um projeto de extensão. Em relação ao uso das tecnologias, emergiram duas categorias: "Uso de mídias digitais para educação em tempos de pandemia" e `'Uso de tecnologias digitais por crianças e adolescentes". Na primeira categoria, para os participantes entrevistados, o uso das tecnologias para a educação em saúde pode ser um aliado, mesmo diante da impossibilidade do contato presencial no contexto da pandemia da COVID-19. As enunciações dos participantes também revelam que o uso das tecnologias digitais é benéfico para a troca de informações, além de ser uma estratégia de comunicação em massa, utilizando os diversos recursos disponíveis. Os entrevistados apresentaram a diversidade de recursos disponíveis através das tecnologias digitais. Para eles, além da comunicação, da manutenção do contato sem exposição física durante a pandemia da COVID-19 e da troca de informações, ainda é possível construir conhecimento com a utilização dos recursos digitais. Na segunda categoria, as falas dos entrevistados revelam que, para eles, as crianças e os adolescentes utilizam as tecnologias digitais no seu cotidiano. Além disso, destacam fatores que favorecem a utilização desses recursos, bem como a facilidade de acesso. Embora no processo de ensino universitário o contato com crianças e adolescentes fosse presencial, devido à necessidade de distanciamento social por causa da pandemia, a educação em saúde por meio do uso de tecnologias digitais passou a ser utilizada. As mídias digitais foram citadas como estratégias de disseminação de conteúdos, educação em saúde e vínculo. Destarte, revela-se que no olhar dos acadêmicos, o uso das tecnologias digitais começa cada vez mais cedo e que as práticas de educação em saúde por meio das mídias digitais foram essenciais a partir da pandemia para o cuidado das crianças e adolescentes. Ressalta-se como limitações do estudo a sua realização em apenas duas instituições de ensino. Por fim, sugere-se o desenvolvimento de atividades de educação em saúde baseadas em mídias digitais com crianças e adolescentes através da realização das ações de ensino, pesquisa e extensão para que as tecnologias digitais sejam disseminadas no processo de formação acadêmica nas universidades.