Apresentação: durante a graduação em diferentes cursos, além das matérias obrigatórias, existem também cadeiras que são ofertadas pelo banco universal e que servem para adquirir conhecimentos diversos, carga horária complementar e preencher a grade curricular, além de trazer inúmeras oportunidades e experiências no meio acadêmico . A disciplina de “Corpos, Gêneros e Sexualidade” se encontra disponível para que alunos se matriculem neste sentido, de crescer mais como profissional e assim também como indivíduo. É considerada uma área interdisciplinar de estudo que explora como corpos, identidades de gênero e orientações sexuais são compreendidos, representados e vivenciados em diferentes sociedades e contextos históricos. Engloba teorias e métodos de várias disciplinas, como sociologia, antropologia, psicologia, estudos culturais, história e direitos humanos, para examinar as maneiras pelas quais o gênero e a sexualidade são social e culturalmente construídos, além de como esses conceitos afetam os indivíduos e as comunidades. Objetivo: equipar os estudantes com conhecimento crítico e ferramentas analíticas para compreender e desafiar as formas como gênero e sexualidade influenciam as experiências humanas, fomentando a consciência sobre diversidade e capacitando-os a atuar como agentes de mudança social para uma maior inclusão e equidade. Desenvolvimento: trata-se de um relato sobre as experiências vivenciadas por uma estudante de enfermagem, da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas, que compartilha suas impressões após se inscrever na disciplina de Corpos, Gêneros e Sexualidade. Essa matéria era organizada através de encontros semanais que abordavam diversos temas cruciais para a formação de indivíduos capazes de perceber a sociedade e suas diversas realidades, destacando como os padrões cisgêneros e heteronormativos estão tão arraigados, influenciando quem somos e como ocupamos os espaços no cotidiano. Alguns dos temas explorados incluem a compreensão da identidade não-binária, a relação entre comportamento e construção de gênero, e a análise crítica da sociedade estruturada em torno das noções de "macho" e "fêmea". Teorias Queer que investigam como as identidades são formadas e desafiadas, propondo uma visão fluida de gênero e sexualidade. Corpo e Biopolítica que estuda como os corpos são regulados, monitorados e controlados por políticas e práticas sociais. Isso inclui análise de como normas de saúde, beleza e comportamento são impostas e resistidas. História das Sexualidades onde explora as diferentes maneiras como a sexualidade foi compreendida e expressa ao longo do tempo e em diferentes culturas, incluindo a evolução das leis, normas e atitudes. Gênero e Instituições que investiga como as noções de gênero são reforçadas, desafiadas e transformadas em várias instituições sociais, como escolas, locais de trabalho, família e mídia. Personalidades notáveis de Pelotas ou que já haviam cursado a disciplina e se tornaram especialistas nos temas tratados eram frequentemente convidados para liderar esses encontros, promovendo discussões e debates que suscitavam questões que muitas vezes transcendiam a compreensão dos participantes. Além disso, era comum o uso de materiais diversos como literatura acadêmica, vídeos, músicas e folhetos fornecidos pelos professores da disciplina. Resultados: propôs-se aos alunos que participassem de um sarau Queer, que é uma abordagem crítica que questiona e deconstrói as normas sociais relacionadas a sexo, gênero e sexualidade. A atividade seria determinante para a avaliação final do curso, pois seu objetivo era apresentar temas que, embora considerados normais dentro do padrão heteronormativo, se destacam significativamente formas desumanas de oprimir o jeito de viver do outro. A estudante escolheu como tema "Relato de Mulheres Negras do Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas", inspirada por uma palestra na disciplina "Corpos, Gênero e Sexualidade", na qual uma convidada discutiu sua experiência como mulher negra na graduação. Ela descreveu sentir-se isolada, frequentemente comparada a seus colegas brancos e com seus esforços constantemente desvalorizados. A palestrante introduziu o conceito de "Doloridade", cunhado por Vilma Piedade, como um espaço para mulheres negras compartilharem suas dores e experiências. O trabalho foi desenvolvido por meio de um encontro com graduandas e ex-graduandas de enfermagem, que foram convidadas a discutir suas vivências no curso. As perguntas centrais foram: “Como é sua experiência como mulher negra em um curso de enfermagem predominantemente branco?” e “Você se sente apoiada pela comunidade universitária?”. Apesar de parecer perguntas simples, levantou-se diversos impasses, incluindo questões socioeconômicas. Algumas participantes relataram não ter enfrentado discriminação racial e se sentirem acolhidas no curso devido a suas condições econômicas favoráveis, ao passo que outras descreveram a necessidade de constantemente lutar por seu espaço, sentindo-se solitárias e invisíveis na universidade. Considerações finais: a disciplina de "Corpos, Gêneros e Sexualidade" oferece uma oportunidade valiosa para os estudantes expandirem não apenas seus conhecimentos acadêmicos, mas também sua compreensão crítica do mundo ao seu redor. Ao explorar temas tão relevantes e impactantes, como identidade de gênero, orientação sexual e normas sociais, os alunos são desafiados a questionar as estruturas de poder e injustiças que permeiam nossa sociedade. Este relato destaca a importância dessa disciplina na formação de profissionais e indivíduos conscientes, capazes de reconhecer e enfrentar as desigualdades e discriminações que afetam diversas comunidades. Além disso, o envolvimento em atividades como o sarau Queer demonstra como os estudantes podem aplicar esse conhecimento de forma prática, promovendo a conscientização e o diálogo sobre questões de gênero e sexualidade em seus ambientes acadêmicos e além deles. A história das mulheres negras dentro do curso de Enfermagem ressalta a importância de reconhecer e valorizar as experiências de grupos historicamente marginalizados. O relato dessas experiências revela as complexidades enfrentadas por mulheres negras em um contexto predominantemente branco e destaca a necessidade de criar espaços de apoio e inclusão dentro das instituições de ensino. Em suma, a disciplina de "Corpos, Gêneros e Sexualidade" desempenha um papel fundamental na formação de profissionais de saúde e cidadãos engajados, capacitando-os a problematizar as normas sociais, promover a diversidade e contribuir para uma sociedade mais justa e igualitária.