Práticas integrativas na Atenção Psicossocial: oficinas coletivas como estratégia terapêutica

  • Author
  • Milena Trevisan
  • Co-authors
  • Giovana Casarin Tisott , Laura Braun Eickhoff , Ana Paula Pillatt
  • Abstract
  • Apresentação: As práticas integrativas (PICS) têm se destacado como ações promissoras no campo expandido da saúde, especialmente na interseção da arte e cultura, ao auxiliar no tratamento e na reintegração à sociedade de pessoas com distúrbios de saúde mental. De acordo com a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS (PNPIC), as PICs caracterizam-se por sistemas e recursos terapêuticos que envolvem abordagens com foco na estimulação dos mecanismos naturais de prevenção de agravos e recuperação da saúde por meio de tecnologias experimentais e seguras, com ênfase na escuta acolhedora, no desenvolvimento do vínculo terapêutico e na integração do ser humano com o meio ambiente e a sociedade. Compreendem uma variedade de abordagens terapêuticas complementares, como meditação, ioga, arteterapia, musicoterapia e atenção plena, as quais podem ser trabalhadas como oficinas coletivas e oferecem uma visão humanizada, abrangente e inclusiva para lidar com os desafios enfrentados pelos usuários da atenção psicossocial. Além disso, a união entre abordagens convencionais com terapias alternativas busca não somente aliviar os sintomas, mas promover o bem-estar emocional, fortalecer as habilidades de enfrentamento e estimular o crescimento pessoal por meio da expressão criativa. Portanto, explorar o papel e os benefícios das PICs no contexto da saúde mental é essencial, pois contribui para uma visão abrangente sobre como essas abordagens complementares podem ser incluídas nos cuidados tradicionais para proporcionar a melhoria contínua e a reintegração bem-sucedida na sociedade. Diante disso, o objetivo deste estudo foi compreender a visão de profissionais da saúde de uma ala psiquiátrica de um hospital regional sobre a aplicação das PICs no processo de reabilitação. Desenvolvimento: Foi conduzido um estudo descritivo, de natureza qualitativa, no Hospital Nossa Senhora dos Navegantes (HNSN), localizado em Porto Xavier, região noroeste do Rio Grande do Sul. A metodologia adotada envolveu a realização de rodas de conversa e entrevistas semiestruturadas com os profissionais de saúde em que tópicos como a rotina, atividades desenvolvidas e progresso no tratamento dos pacientes foram abordados. As entrevistas foram conduzidas com a assistente social responsável pela área de saúde mental, visando obter diferentes perspectivas sobre as PICs adotadas na instituição e suas repercussões nas pessoas sob esses cuidados. Essas estratégias metodológicas permitiram uma compreensão aprofundada das experiências e percepções dos especialistas da área da saúde envolvidos, bem como dos indivíduos atendidos, em relação às terapias integrativas na saúde mental. Resultados: Os relatos apresentados pela equipe destacam uma estratégia abrangente e significativa para os internados, visando sua reabilitação e reintegração social. A implementação de atividades como a musicoterapia, arteterapia com pinturas e rodas de conversas realizadas diariamente com o acompanhamento de psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas e assistentes sociais demonstram um comprometimento com o bem-estar emocional e com o progresso terapêutico dos usuários. Segundo os profissionais da ala de saúde mental, inicialmente, era perceptível certa resistência ao acompanhamento e participação nas atividades propostas. No entanto, após um período dedicado à orientação do paciente, de convívio diário e de resiliência contínua dos profissionais responsáveis pelo seu tratamento, observou-se  uma significativa evolução no envolvimento e na receptividade. Essa mudança de atitude sugere a eficácia da abordagem adotada, evidenciando a importância do tempo e da oportunidade para que as pessoas em tratamento se adaptem e se sintam confortáveis com as atividades propostas. Esses resultados reforçam a relevância de estratégias terapêuticas flexíveis e adaptáveis, que possam superar resistências iniciais e promover uma participação ativa e engajada  no  processo de reabilitação. Consoante os profissionais, práticas que incluem jogos, como os de procurar palavras são excelentes para aprimorar a habilidade de foco mental, já que estimulam a manutenção da atenção e a identificação de padrões, o que melhora a capacidade de concentração. De maneira análoga, a musicoterapia é uma intervenção que utiliza a música como meio de comunicação e expressão, em que ouvir ou criar ritmos auxilia na regulação do humor e reduz a ansiedade proporcionando um canal para a expressão de sentimentos profundos. Em suma, todas as atividades realizadas objetivam o desenvolvimento nos mais diversos âmbitos psicossociais e a promoção da conexão social, incentivando a interação entre os pacientes. As oficinas coletivas, especialmente no que tange o artesanato manual, como costura, recorte e pintura, demonstraram ser especialmente eficazes na promoção do engajamento social das pessoas que participam. Uma vez que essas práticas requerem movimentos motores delicados e progressivos e, portanto, fortalecem as conexões neurais e a função cognitiva. Ademais, ao estimularem a criatividade e expressão artística, essas atividades fornecem aos pacientes habilidades que lhes dão maior propósito e oportunidades, melhorando suas perspectivas principalmente em relação à reinserção no mercado de trabalho. Isso destaca a importância de abordagens terapêuticas adaptadas às necessidades de cada indivíduo e o impacto positivo das atividades criativas na sua reabilitação e preparação para a reintrodução na sociedade. Além disso, a equipe responsável organiza encontros bimestrais com a participação dos familiares dos pacientes, os quais tem o propósito de abordar a preparação para o período pós-alta. Esses momentos são concebidos como oportunidades para uma comunicação aberta e colaborativa, permitindo que a família participe ativamente do processo de reinserção do usuário ao ambiente social. Durante essas reuniões, são discutidos aspectos relacionados à continuidade do tratamento, adaptação às mudanças no ambiente, suporte emocional, além de estratégias para enfrentar possíveis desafios após a alta hospitalar. Com isso, a coordenação do hospital reitera ainda a importância de manter uma rotina e horários pré-determinados no âmbito da atenção psicossocial, pois estabelecer uma estrutura diária oferece estabilidade, previsibilidade e senso de controle, elementos cruciais para a saúde emocional e o progresso no tratamento. Essa rotina ajuda a regular o sono, a alimentação e as atividades diárias, promovendo um equilíbrio saudável entre descanso, recreação e responsabilidades terapêuticas. Além do mais, horários estipulados para terapias, atividades recreativas e interações sociais ajudam os pacientes a desenvolver hábitos saudáveis e a se comprometerem com a sua recuperação, tornando-os protagonistas do seu processo de reabilitação. Ao fornecer uma estrutura sólida, os horários estabelecidos capacitam os pacientes a enfrentarem os desafios do dia-a-dia com mais confiança e resiliência. Considerações finais: As PICs possuem uma visão abrangente e podem auxiliar no processo de reabilitação, pois reinterpretam a relação entre saúde e doença, promovendo maior autonomia do indivíduo. Dentro dessa mesma área, nota-se que o modelo de assistência suplementar envolve uma abordagem mais ampla, que pode ir além dos tratamentos médicos convencionais, pois engloba não só os aspectos físicos, como também considera as questões sociais, culturais e emocionais, o que permite uma abordagem multidisciplinar. As PICs são igualmente consideradas como uma forma de colocar em prática a integralidade, princípio fundamental do SUS, e a fim de que isso aconteça, é essencial garantir uma implementação cuidadosa, para que tais atividades reflitam a abordagem holística da assistência. Adicionalmente, essas estratégias terapêuticas podem oferecer um suporte humanizado, seguro, eficaz e universal como estratégia terapêutica na atenção psicossocial. Conclui-se que as PICs podem complementar o atendimento de saúde tradicional, o tornando mais eficiente e proporcionando recursos para autocuidado e qualidade de vida. As análises das atividades feitas no Hospital Nossa Senhora dos Navegantes para com as PICs têm grande potencial para melhorar os serviços de saúde em diversos níveis de atenção à saúde da região, não somente na atenção básica como tradicionalmente são aplicadas.

     

  • Keywords
  • Saúde mental, PICs, Terapias Integrativas, Oficinas, Psicossocial
  • Subject Area
  • EIXO 2 – Trabalho
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