O presente trabalho diz respeito à apresentação do processo formativo vivenciado pelo autor no Curso de Especialização em Preceptoria em Saúde Mental, integrante do projeto intitulado Desenvolvimento da Gestão de Programas de Residência e da Preceptoria no SUS (DGPSUS), vinculado ao Hospital Sírio-Libanês e desenvolvido em parceria com a Secretarias Municipal de Saúde e Meio Ambiente (SESMA/Belém) e Secretaria de Saúde Pública do Estado do Pará (SESPA), ocorrido no período decorrer dos anos de 2021 a 2023. Trata-se, portanto, da narrativa dos aspectos de ensino-aprendizagem que marcaram a formação do autor e como tais aspectos contribuiram para a constução do Plano de Intervenção (PI) exigido como parte dos critérios de avaliação e certificação. Muito mais do que isso, para além das formalidades obrigatórias em um curso dessa natureza, o objetivo é apresentar como os aspectos de aprendizagens foram se compondo e se fazendo relacionar diretaemnte ao valor do exercício de preceptoria enquanto tal e à consequente construção de sua identidade como um facilitador de aprendizagens, com vistas à transformação da realidade vivida, o que também remete à articulação entre ensino-serviço-comunidade, como deve(ria)ser no Sistema Único de Saúde (SUS). O Curso foi realizado por meio de encontros mensais (presenciais e/ou on-line) com uma facilitadora denominada “AFA” e se fundou em metodologias ativas de aprendizagem (com o uso de ferramentas como o Team-Based Learning – TBL -; viagem educacional; talk show; portfólio reflexivo; atividades profissionais confiáveis, etc.) que foram ganhando novos contornos para o autor enquanto preceptor em formação. Ao longo do processo formativo em preceptoria em saúde mental foi-se compondo uma série (Mil!?) de platôs que foram se (re)constituindo como placas tectônicas em constante movimento, apresentados e vivenciados como platôs de uma formação em preceptoria em saúde mental no SUS. O platô 1 (Abertura), se constituiu da narrativa de como cheguei ao curso, partindo de minha formação acadêmica e trajetória profissional subsequente, considerando um recorte mais recente dos últimos cinco anos. Nele, também foram descritas as expectativas para o curso, cujo percurso foi baseado em trocas de saberes entre os especializandos e entre nós e a AFA, e com os demais profissionais formadores que participaram dos diversos momentos de formação, não menos importantes, e que me conduziram à (re)qualificação para a formação profissional em preceptoria. No platô 2 abriu-se caminho para a aproximação inicial ao Projeto de Intervenção (PI) e, com ele, para a definição do que chamei de “rizoma – problema objeto de intervenção”. Nele, parti da análise reflexiva sobre um programa de residência multiprofissional em saúde mental, da RAPS do município, e que apontou a primeira formulação do que considerei como merecedor de atenção: “desarticulação entre o Programa de Residência em Atenção à Saúde Mental com os Preceptores dos campos de práticas em Belém e Região Metropolitana”. No platô 3, por sua vez, a partir de ferramentas em metodologias ativas desenvolvidas no processo formativo, comecei a pensar sobre estratégias de aprendizagem e construção de conhecimentos, configurando-se em um momento importante que trouxe possibilidades narrativas para o fazer do portfólio reflexivo, cuja construção trouxe alguns aspectos que se conectaram a essa escrita narrativa ou, escrita rizoma. No platô 4 trouxe para a minha caixa de ferramentas conceitual a ideia da cartografia e o ser cartógrafo para pensar numa imagem provisória do que viria adiante. Desse modo, também pensei a cartografia como um desenho que acompanha e se faz ao mesmo tempo que os movimentos de transformação da paisagem, e o “ser cartógrafo” como tendo a tarefa de “dar língua para afetos que pedem passagem”. Ao trazer as conexões anteriormente apontadas, ele foi se processando de modo a se materializar nas construções de platôs e rizomas, que compuseram a minha formação, para transformar as práticas pedagógicas de preceptoria. Como parte desse emaranhado conceitual, tras algumas ações por meio das quais fui tecendo o meu percurso formativo, o que inclui momentos particulares “pedagogicamente” chamados de “avaliAção”. Nesse sentido, avaliar aqui também foi considerado como algo a ser inventado, a partir da necessidade de fazer movimentos para desver certos aspectos da experiência, para que eles ganhem novos contornos, pois “tudo o que eu não invento é falso”. Trata-se de encontros que, inseminados de diferentes apostas e desejos, não decretaram nenhum fechamento, nenhum final ou verdade para as aprendizagens, estando sempre em aberto, em produção – são devir. Quis, então, inventar para crer! Esse foi o Platô 5 – “Forma‘Ação’ – o Eu preceptor”. Nesse contexto, (re)encontrei-me com “Tim Tim”, em uma “Viagem Educacional” e me deixei por ele ser guiado novamente. Nós, de mãos dadas, descobrirmos os territórios de (des)aprendizagens. Ele, cartógrafo que é. E eu, atravessado por representações, exercitei o cartógrafo em mim. Tim Tim percorreu múltiplos territórios que não podiam ser apenas marcados como espaços geográfico. Ele percorreu territórios existenciais e, neles, se apresentava como um ser de encontros. Considerando o processo de formação como uma espécie de viagem cartográfica, os cinco platôs foram tendo atravessamentos de rizomas como um “conceito ferramenta” que também contribuiu para a narratividade do percurso formativo, o que foi de fundamental importância, dado que essa perspectiva rizomática fez pensar, vivenciar experienciar e sentir os movimentos de aprendizagens como múltiplos, diversos e, a cada caminho desbravado, foram se abrindo novas possibilidades deles ocorrerem, conforme um processo de expansão típico de uma perspectiva voltada para a multiplicidade. Sobre a conexão com o portfólio reflexivo, este foi-se fazendo como recortes de “uma ‘folha em branco’, com palavras cansadas de tanto dizer o mesmo” e, por isso, se espraiou e se tornou múltiplo, formando as “vivências inter-ativas” construídas durante a formação. Tal configuração foi-se entrelaçando aos eixos formativos próprios do Curso, configurando-se em trilhas de (des)aprendizagens. Ao final, percebeu-se que o percurso formativo impunha o constante exercício de pensar a própria prática futura enquanto preceptor, ancorada não apenas no passado formativo (experiência prévia), mas também no presente (que se faz futuro) em constante modificação (atualização), como os platôs narrados. Tratou-se de operar na lógica da educação permanente em saúde, em movimento, sempre na perspectiva de que a produção de saberes deve superar a relação saber-poder. Portanto, os encontros vividos, em ato, possibilitaram a expressão do eu e a expressão de si, do vivido por cada um daqueles que estavam em processo formativo, cada um a seu modo, tirando-os de um lugar objeto de intervenção pedagógica. Nessa “fabricação cartográfica” percebi que o exercício de preceptoria é aprender sobre caminhos, caminhares e destinos. É um exercício rizomático. Que o chegar não é mais valioso que a andança. Os (des)encontros são preciosos e necessários. Podem ser dois, quatro ou um só. São, ainda assim, multiplicidades.