INTRODUÇÃO: A educação em saúde é uma estratégia importante para promoção da saúde e para autonomia dos indivíduos. Uma de suas vertentes é a Educação Popular em Saúde (EPS), que se empenha em uma aplicação congruente à totalidade do sujeito, situada nas pedagogias de conscientização e tendo Paulo Freire como um de seus representantes. Deve ser realizada de forma humanizada e propondo processos de trocas de saberes e vivências, por meio de aprendizados mútuos entre seus partícipes, os quais, nesse delineamento, são vistos como construtores de seus conhecimentos a partir de suas experiências. Nesse sentido, as práticas circulares são metodologias que somam ao processo de partilha de ideias, partindo da organização circular entre os educandos como maneira de propor vínculos e diálogos diversos, representativos e de igual relevância. Portanto, recorre-se à escuta qualificada entre usuários e facilitadores de maneira a desenvolver um ambiente pautado no acolhimento e nos princípios da EPS, com responsabilidade compartilhada para o avanço da democratização em saúde, trazendo o profissional da saúde como mediador e o usuário como sujeito ativo e de voz no processo. Diante disso, a metodologia foi abordada, em uma perspectiva de simulação acadêmica em sala de aula, a partir de questões disparadoras sobre diabetes mellitus (DM) e hipertensão arterial sistêmica (HAS) no contexto do Programa de Atenção às Pessoas com Hipertensão e/ou Diabetes (HIPERDIA), na Estratégia Saúde da Família (ESF), estabelecido no início dos anos 2000, em prol da prestação de serviços voltados para tratamento, cuidado e controle das condições de saúde dos indivíduos portadores dessas patologias. Pois, o programa mencionado é realizado com acompanhamento e cadastro da população com esses agravos, conforme as Diretrizes Nacionais para Hipertensão Arterial. Assim, a atividade referente à disciplina Fundamentos da Educação em Saúde, objetivou abordar diferentes formas de aplicação desse campo, tendo as práticas circulares como metodologia escolhida pelos discentes responsáveis pela temática ''DM e HAS''. OBJETIVO: Promover, por meio de simulação, o desenvolvimento das práticas circulares e partilha acerca de seus benefícios para a saúde e para a prestação e melhoria dos serviços desse setor, somado a trocas de conhecimentos com a turma de saúde coletiva sobre DM e HAS, na ótica do HIPERDIA. Além de possibilitar a compreensão do conteúdo da disciplina '' Fundamentos da educação em saúde'' de forma prática e ativa. DESENVOLVIMENTO: O presente relato de experiência acadêmica compreende a atividade realizada por discentes do segundo semestre do curso de graduação em Saúde Coletiva, na disciplina de Fundamentos da Educação em Saúde, da Universidade do Estado do Pará, em Belém/Pará. Realizou-se em sala de aula uma prática circular, simulando o ambiente de uma sala de reunião de determinada Unidade Básica de Saúde, que atende usuários matriculados no programa HIPERDIA e são assistidos por EPS. Os alunos responsáveis pela dinâmica organizaram um círculo na sala de aula, posicionando a logo do HIPERDIA no centro para ser o ponto focal, além disso, havia um coração de pelúcia simbolizando o objeto da fala. Durante o processo, por meio das demandas apresentadas pelos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), abordou-se diferentes temas relacionados a dúvidas sobre o programa HIPERDIA, o acesso aos medicamentos de uso contínuo, a interação dos tratamentos biomedicamentosos com ervas medicinais e costumes tradicionais e assimilação de fake news sobre DM e HAS. Dessa meneira, os usuários e a equipe multiprofissional da saúde representada (médica, enfermeira, nutricionista e sanitarista) compartilharam conhecimentos e vivências sobre agravos das patologias discutidas, além de trocar experiências sobre o programa e estabelecer uma relação horizontalizada entre os facilitadores e a comunidade. Participaram 18 discentes e uma professora, onde os 4 educandos (equipe avaliada) atuaram como facilitadores e os demais (14 educandos) simularam ser membros da comunidade. RESULTADOS: A partir dessa experiência, os discentes vivenciaram a dinamicidade que envolve o trabalho em saúde em conjunto com a comunidade, no fomento ao empoderamento social partindo da escuta humanizada e construção coletiva dos cuidados em saúde. Sendo assim, o contato com essas práticas no período de formação de profissionais sanitaristas alicerça a atuação de futuros gestores na saúde, aproximando-os da população e ampliando a compreensão das demandas de saúde e da cobertura do sistema. Mediante a atividade acadêmica, potencializou-se modos de enfrentar os desafios impostos à implmentação da EPS, como a desvalorização de práticas e saberes tradicionais que são comumente invisibilizados frente ao conhecimento técnico-científico, assim, a medicina tradicional combinada à biomedicalização deve ser incluída no processo de cuidado. Junto a isso, promoveu-se discussão sobre o fluxo dos atendimentos para estes usuários e a disponibilização de medicamentos via Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) e Farmácia Popular. Adicionado a isso, desconstruiu-se estigmas sobre aspectos nutricionais e o compartilhamento de fake news evidenciou-se como um problema urgente, no qual ideias equivocadas e decisões preciptadas podem repercutir em grande escala, dificultando a fluidez do desempenho do sistema e da autonomia dos usuários. Ademais, as práticas circulares mostraram-se estratégias positivas no enfrentamneto a nível local desta problemática. Além disso, o questinamento na dinâmica sobre quais são as prerrogativas do programa HIPERDIA promoveu a percepção da necessidade de elucidar a população e os profissionais da saúde, por meio de educação permanente, sobre o alcance e cobertura de melhores indicadores desses agravos a partir dos princípios envoltos na EPS, parte fundamental de sua implementação e necessário para alcançar princípios da Atenção Primária à Saúde. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Dessa forma, tendo em vista a importância do sistema ascendente e horizontal na construção de melhorias voltadas aos serviços de saúde,evitando a culpabilização dos usuários sobre o processo saúde-doença e cuidado, conclui-se a necessidade de aplicar na realidade que tange ao SUS, o uso de práticas interdisciplinares que envolvam o usuário como participante ativo. Tal como a prática circular durante atividades de EPS, buscando disponibilizar e reforçar os princípios vigentes do SUS como a integralidade, participação social e equidade nas redes de atenção. Além disso, a promoção de práticas dessa estirpe corrobora a construção do pensamento crítico e diversificado quanto as formas de abordagem no âmbito da saúde e a importância do ponto de vista dos usuários como sujeitos e protagonistas do dinamismo do SUS mais resolutivo e universal.