A pandemia da covid-19 acrescentou ao luto fatores de risco para uma experiência mais difícil para os enlutados, como a ausência de rituais fúnebres, mortes repentinas e múltiplas, entre outros. Este trabalho objetivou analisar a percepção de pessoas enlutadas pela covid sobre a assistência recebida em formato grupal e online no âmbito do projeto Acolhedor da Universidade Federal do Espírito Santo, durante a pandemia. Trata-se de uma pesquisa de caráter qualitativo, do tipo exploratória. Participaram doze pessoas enlutadas que integraram grupos de apoio ao luto online entre os meses de março de 2021 e março de 2022. Os participantes foram entrevistados em profundidade passados alguns meses após receber assistência em Grupos online de Apoio ao Luto. As entrevistas versavam sobre a experiência de ter participado dos grupos, com perguntas como “Como você se sentiu em compartilhar sua experiência de perda em um grupo de apoio ao luto?”, “Você acha que ter participado de um grupo mudou de algum modo como você estava lidando com seu luto? Explique-me por quê?”, “O que você acha de o grupo ter sido online?”, entre outras. Todas foram gravadas, transcritas, organizadas em um corpus textual e submetidas à Análise lexical por meio do software Iramuteq, com um aproveitamento de 77,45%, originando 4 classes: “Formato do atendimento”, “Experiência grupal”, “Singularidade da morte na pandemia” e “Compreensão do processo de luto”. O material produzido pelo iramuteq foi analisado à luz da literatura sobre o luto. Verificou-se que, na percepção dos entrevistados, ter recebido apoio profissional e social, ainda que online, durante o processo de luto teve efeitos diversos que propiciaram melhor ajustamento à perda, por meio do aprendizado, do compartilhamento de emoções e da construção de sentidos para o vivido. Pecebeu-se que a oferta de grupos de apoio em formato online pode ser uma importante estratégia de cuidado a pessoas enlutadas, especialmente em contextos de emergências e desastres, quando não se faz possível o contato pessoal. Além disso, a experiência grupal favoreceu o enfrentamento e ajustamento à perda, especialmente considerando as singularidades das mortes durante a pandemia. Os participantes apontaram em seus relatos como a compreensão do processo de luto tem efeitos sobre o processo de ajustamento, permitindo lidar melhor com os estressores decorrentes da morte e do luto. Para além de investigar a vivência do luto no contexto da pandemia, este estudo permitiu ainda compreender a importância de se ofertar cuidados em saúde mental em diferentes contextos de emergências e desastres, em que as pessoas se encontram sob o efeito do estresse decorrente de mortes repentinas e múltiplas, com menor possibilidade de receber apoio social. Assim, conclui-se que os resultados encontrados indicam que, embora no formato online se percam características importantes da interação social, como apontado pelos próprios participantes do estudo, os grupos online têm potencial de ofertar espaços de cuidado para pessoas em processo de luto, diminuindo chances de vivência de luto complicado, com promoção de saúde mental e bem-estar psíquico.
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